A hipocrisia e a cobardia mais vis conjugam-se com a obstinação clerical-totatlitária mais exasperada na reciclagem da sentença que acaba de confirmar a condenação de Sakineh Ashtiani à morte, ao mesmo tempo que substitui a forca ao apedrejamento como método de execução. Mediante um expediente sem escrúpulos, as autoridades iranianas deixam cair a lapidação, receando as repercussões que poderia causar no plano internacional, mas fazem-no salvando a face, na medida em que mantêm o princípio do apedrejamento como punição do adultério, e não poupando a morte a Sakineh, condenada agora à forca na sequência de uma acusação de homicídio. Com o que contribuem, também e à escala global, para a legitimação e defesa da pena de morte.
O duplo cálculo é que 1) a opinião pública iraniana e internacional aceitará mais facilmente a aplicação da pena de morte por enforcamento do que através da lapidação, do mesmo modo que 2) não contestará a execução de uma homicida tão radicalmente como contestou até aqui a perspectiva da execução de uma mulher incriminada por adultério — ou que, em todo o caso, a audiência dos protestos que continuem a exprimir-se será menor. O mais inquietante é que o cálculo das autoridades iranianas resulte e que a campanha contra os aspectos mais odiosos da sua actuação (manutenção da pena de morte em geral e do apedrejamento como punição do adultério em particular, tortura legal utilizada como meio de recolha de provas, absoluta arbitrariedade do poder político e judicial legitimado por meio da invocação religiosa, etc.), em vez de se intensificar perante esta manobra e os sofismas que a acompanham, acabe por extinguir-se à medida que os dias passam.
Quanto ao resto, este breve resumo, publicado por El País, da actuação das autoridades judicial-clericais iranianas é suficientemente esclarecedor:
después de que el poder judicial respaldara ayer la versión del Gobierno iraní, según la cual Sakineh habría sido condenada a muerte por el asesinato de su padre (…) [s]u portavoz y fiscal general, Gholamhosein Mohsení-Ejeí afirmó que Sakineh va a morir en la horca "porque ha sido encontrada culpable de asesinato [de su marido] y esa condena precede a la de adulterio", según la agencia semioficial Mehr. Esta reinterpretación del caso no se corresponde con los hechos conocidos.
Sakineh fue condenada a morir lapidada por un presunto delito de adulterio. Sin embargo, la movilización internacional contra ese castigo inhumano ha llevado a las autoridades a reescribir su caso. Desde del verano, la diplomacia iraní defiende que la mujer no está condenada a morir apedreada y que se estaba investigando su complicidad en la muerte de su marido. Sin embargo, "nunca ha habido un juicio en el que Sakineh haya sido acusada de asesinato", recuerda un comunicado de la Campaña. El responsable de ese delito fue condenado a muerte por un tribunal de Tabriz y luego perdonado por los hijos del matrimonio.
29/09/10
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1 comentários:
Excelente post, Miguel.
Cumprimentos
ezequiel
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