16/07/10

Dar nas vistas

Este mamarracho está a crescer junto ao Tejo, em Pedrouços: o Centro de Investigação da Fundação Champalimaud. Nem por um segundo questiono a utilidade da pesquisa biomédica que ali será levada a cabo. Mas, pela santinha, era mesmo preciso esmagar a paisagem com aqueles montes de pedra rasgados por orifícios caprichosos?
O programa deste conjunto arquitectónico parece ser a proclamação, aos berros, da imensa generosidade, da insustentável grandeza de objectivos do seu ocupante. É que isto da caridade e das boas causas tem vários modos de se plasmar em edifícios. Bem ali por perto, jaz a versão espartana do cavaquismo, mais próxima do ethos do seu santo fundador (se exceptuarmos desvios como as lindas marquises do apartamento lisboeta da Primeira Família), imortalizada na sóbria volumetria do CCB, que se espraia meio mudo, quase com vergonha das suas dimensões. Em Pedrouços, é a faceta histriónica do cavaquismo que se ergue, intimidante e autista: aquilo brama aos céus a sua própria relevância, assinala ao passante que Grandes Coisas vão eclodir por ali, quiçá com frequência diária. A forma glorifica a função, faz dela bandeira e peito inchado.
Há quem prefira lançar a sua caridade ao mundo com discrição e modéstia. E quem goste de a gritar a plenos pulmões. Tudo bem; sem a primeira modalidade também não teríamos os Jerónimos, que sempre enchem mais os olhos do que os Capuchos, por exemplo. Mas não podiam ter montado este leviatã da salvífica ciência médica em local menos visível? Do lado de lá, entre silos e outros trambolhos, até podia ser que se integrasse melhor.

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