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Mas tratando-se de uma notícia que só pode ser festejada com toda a alegria pelos que estimam a liberdade como bem supremo (uma espécie de remake para os portugueses mais velhos, os que festejaram com lágrimas de alegria incontida a libertação, no 25A, dos "nossos" presos saídos de Caxias e Peniche), e partindo-se do princípio que o governo cubano não está a esvaziar as prisões políticas para mais tarde as povoar de novo, está lançado um crucial desafio à sociedade cubana e que é a de como vai viver (ou sobreviver) sem repressão política e social e sem presos políticos. E, é claro e concomitantemente, sem perder a sua soberania e acrescentando direitos sociais aos que alcançou com a revolução e poder viver melhor, respirando os novos ventos da liberdade. Porque nada do que se consideram "conquistas da revolução" é automaticamente posto em causa por se acrescentar liberdade e democracia. Pois o maniqueísmo da falsa escolha entre liberdade e igualdade sempre foi o alibi paranóico dos dogmáticos, dos fanáticos e dos impositivos de toda a espécie. Naturalmente que não o poderá fazer sem o fim do regime de partido único, permitindo o pluralismo, a liberdade de expressão e de organização cívica, social (nomeadamente, permitindo a liberdade sindical e o direito à greve) e política. Ou seja, substituindo a “ditadura do proletariado” degenerada em Estado Policial (como aconteceu, sem qualquer excepção, em todos os casos de "socialismo real") por um regime democrático, o que implica, como primeiro passo, uma profunda revisão constitucional. Este é um desafio (o da evolução para a democracia) que, no passado, nenhuma ditadura comunista instalada conseguiu resolver. Mas a criatividade e a capacidade de aprender com os erros incluem-se entre os talentos humanos mais estimáveis. Veremos (e digo-o com expectativa e esperança) se Cuba vai ou não, mais uma vez, surpreender o mundo, repetindo a comoção universal que causou quando um grupo de guerrilheiros desceu da Sierra Maestra para apear um ditador corrupto. Agora para regenerar por dentro, cívica e pacificamente, um sistema ditatorial que implantou em 1959 em alternativa - dicotómica mas siamesa - a Baptista, bisando-se, assim, a morte da ditadura em Cuba. Se todo este sonho a construir, numa utopia de regeneração assente na crença nas três irmãs liberdade-igualdade-fraternidade (que só entendo como gémeas e inseparáveis), se mostrar irrealizável, resta esperar que a senilidade (mesmo que belicosa na sua agonia) do marxismo-leninismo pague as suas dívidas para com a civilização.
(publicado também aqui)
2 comentários:
"(...)está lançado um crucial desafio à sociedade cubana e que é a de como vai viver (ou sobreviver) sem repressão política e social e sem presos políticos(...) E, é claro e concomitantemente, sem perder a sua soberania e acrescentando direitos sociais aos que alcançou com a revolução e poder viver melhor, respirando os novos ventos da liberdade."
O problema de Cuba é, depois da queda dos parceiros económicos do "socialismo real", não o progresso mas o de como dar de comer ao povo. Do ponto de vista económico, Cuba chegou a ser muito superior a outros países latino-americanos (e ainda será). Acreditar que hoje ainda pode vir a ser algum farol é troçar de um dos pilares em que o socialismo necessita de se apoiar: a perda de hegemonia do capitalismo tem de se dar através da perda de territórios sob a sua dominação, e isto já não mencionando a impossibilidade de ver os países mais avançados a libertar-se dele.
A Cuba não resta outra saída que não a de mercantilizar o seu território em favor do turismo, para se alimentar de gorjetas e côdeas de americanos e europeus que lá vão em viagens de finalistas.
Excelente tema sobe a liberdade em Cuba.ou noutro Pais,onde existam ditaduras.Envio para Manzanares,uns artigos de uso pessoal,não imagina a alegria dos meus amigos medicos,por exemplo umas sapatilhas,umas camisas,enfim!Estive em Havana,parecia bombardeada,face ás ruinas das casas,que tristeza! Varadero é um paraiso turistico,mas os cubanos estiveram muitos anos sem poder lá entrar!O embargo dos americanos é um crime a um povo cordial,mas a politica é cega,tal como este regime completamente ultrapassado e velho.Pois...O ensino e a saude
é um bem social,mas o povo paga com lingua de palmo,limitações desumanas.Se tivessemos tido politicos e economistas sérios em Portugal,e não esta roubalheira,teriamos hoje uma sociedade democrática e seguramente equilibrada socialmente,mesmo assim prefiro de longe estes problemas no meu Pais,do que aquela pobreza em Cuba,onde tudo falta.Se o capitalismo selvagem e sem rosto é uma tirania,que dizer deste comunismo cubano que não tem progresso e que gera tambem imensa corrupção dentro do sistema.Não publico no meu blogue as mensagens dos meus amigos em Manzanares,porque isso pode ser grave para eles,onde a policia do sistema não perdoa,tal como aconteceu com o famigerado Salazarismo.
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