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Não, não é vontade de repisar o pisado. Apenas um gozo a ferver baixinho, mas a ferver, de, encerrado o ciclo do festival do futebol inter-nacionalista, empanturrada que está
La Roja de comemorações que já ninguém se atreve a prolongar (e que na fase final já deram para o torto com os do
Barça a quererem afirmar-se acima da selecção), ver regressar em força a essência do futebol, o
futebol dos clubes. Ou seja, a passagem da circunstância e do ritual patriótico para a força da paixão bruta, a mais genuína e intensa no futebol. E tanto que um adepto a sério se dispõe a – simbolicamente – morrer por ela. Porque é isso que acontece todos os anos nos estádios, jogo a jogo, um tipo entra e senta-se em estado morto, umas vezes como morto desanimado e outras como morto confiante, depois só os golos e as vitórias o trazem de volta à vida. Caso contrário, leva o seu cemitério interior para casa. Não há hino nacional que consiga uma e outra coisa. No mínimo, há uma distância de solenidade que não o permite, além de outras inibições (a mim basta-me que Cavaco seja um dos símbolos da soberania portuguesa para engalinhar com esta, onde quer que se manifeste). Mas com
o clube tudo se rompe e se mistura - a cor, o emblema, os cânticos, os cachecois, a ilusão de que estamos em comunhão com
os nossos. Transformando, quantas vezes, o
incréu mais desconvicto no
místico mais exuberante.
(publicado também
aqui)
2 comentários:
Grande regresso, camarada João Tunes! Bem (re)aparecido!
Neste teu excelente post há duas coisas que me agradam em especial e se potenciam mutuamente: a desconfiança perante o "nacional", ou seja: a recusa de o entronizar acima de tudo, e o apego ao clube, que é qualquer coisa como a "pátria chica" (a entender não só em termos territoriais), paisagem entre o dentro e o fora que singulariza os seres e os lugares (uns através dos outros) e faz com que cada um de nós como o mundo seja irredutivelmente "ondulante e diverso", como tão bem soube dizer-nos Montaigne.
Forte abraço
miguel sp
Bem regressado, camarada!
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