28/07/10

O triunfo dos touros?

por Luis Rainha
Acho bem que se proíbam as corridas de touros. Na Catalunha, aqui, em Barrancos. Não pelos bichos em si, que me parecem apenas montanhas de bifes com cornos e má atitude face à vizinhança. Sim pelo absurdo que é termos espectáculos, daqueles com venda de bilhetes e tudo, centrados na mutilação, no infligir de feridas, no sangue de animais. Por muita arte, tradição e histórias que haja à volta daquilo, nada atenua este meu desgosto. E não me venham com o símile da pesca desportiva, a não ser no dia em que ela seja feita com farpas (umas quantas por atum) e ao som de musiquetas pavorosas, com Lilis e Dons Qualquercoisa a aplaudir.
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às 16:56

4 comentários:

Justiniano disse...

Rainha, há na corrida de touros uma espécie de concessão de nobre dignidade ao animal, onde se entrega aquele para última admiração da criação! Aquele a quem oferecemos espaço, aquele a quem, para assim ser, concedemos o privilégio de não viver encurralado, que persiste num limbo quase não económico. Aquele a quem a corrida impediu a extinção!! Todo aquele universo é contraditório, pode (deve) dizer-se. Onde se pode observar um aparente juguete. Mas parece-me bem menos assustador que a morte anónima numa linha de processamento revestida de inoxidáveis e onde se limpam, a cada ciclo, os vestígeos daqueles de que nos servimos!

28 de julho de 2010 às 17:51
Luis Rainha disse...

Justiniano,
Não sou imune à beleza da festa, nem às implicações sacrificiais de todo o ritual, nem à arte que a tauromaquia já inspirou.
Mas, como escrevi, não me repugna o destino fatal do bicho; só que dele se faça um espectáculo. Acho que há uma qualquer bagagem cultural a descartar no facto de nos juntarmos para aplaudir a agonia de um animal.

28 de julho de 2010 às 18:29
Afonso disse...

Não é verdade que os touros tenham, como diz, "má atitude face à vizinhança". São animais de manada, que em campo aberto, desde que a manada não seja ameaçada, primam pela indolência. Qualquer campino sabe que assim é.

Em parte é por isso que as touradas são monstruosas. Para tornar o touro temível, tirar partido "festivo" (sim, os "aficionados" falam de "festa brava") da sua enorme força bruta, fazê-lo investir sobre o cavalo ou o forcado que o desafia é preciso antes de mais desorientá-lo, quer dizer fazer do touro animal sem propósito. Na praça falta ao touro a manada, está perdido.

O gáudio humano com esse sofrimento prévio ao sangue - que é na verdade quase irrelevante; desde que os ferros sejam bem postos não atingem zonas nervosamente sensíveis - é que torna a coisa bárbara.

A notável coragem física dos forcados e o treino dos cavalos para literalmente enfrentarem animais dos quais "naturalmente" fugiriam não amortizam a barbárie.

Aqueles que gostam de touradas têm ainda maior obrigação (moral) de não serem ignorantes quanto ao que vai "nos touros" diante dos seus olhos.

28 de julho de 2010 às 23:36
agent disse...

Sou orgulhosamente ribatejano e até pertenço a uma família que vive na plenitude essa simbiose/paixão entre o ser humano e o animal. Temos cavalos, toiros, entre outros animais. Há membros desta família que até gostam de mostrar publicamente os seus animais, participando em passeios e exibições de cavalos, por exemplo. Também, é verdade, que matamos outros para comer. A grande diferença está que jamais o faríamos com interesses económicos e sobretudo numa praça pública, usando, entre outras, a argumentação de que estaríamos a preservar uma espécie, que necessita de levar umas valentes golpadas no lombo, perante uma multidão extasiada, para se sentir mais apurada e viva (?).

Falta a este país e a outros, toda essa coragem para tomar uma medida a nível nacional e não passar a batata quente para o poder local, porque por aí já se sabe que há certos interesses e tradições que prevalecerão acima de qualquer valor. Incluindo a dignidade dos próprios animais.

29 de julho de 2010 às 13:25

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