19/07/10

Um pequeno louvor da pirataria


Já uma vez escrevi sobre o excelente Avant Garde Project, que disponibiliza centenas de peças musicais de outro modo inacessíveis. Tesouros da música contemporânea que estão fora dos escaparates há anos: de “clássicos” como Stravinsky e Schoenberg a peças de gente como Kagel, Ligeti ou mesmo... Marcel Duchamp.
Mas esta minha costela corsária não se aquieta. E ainda neste fim-de-semana me voltou a fazer cair em tentação. Assim descobri três filmes que nunca tinha visto por aí, nem em FNACs nem em soirées da RTP2.
Primeiro, The Saddest Music in the World, do canadiano Guy Maddin, sobre um argumento original de Kazuo Ishiguro – um objecto, adornado pelas belíssimas presenças de Isabella Rossellini e Maria de Medeiros, que só consigo descrever como “David Lynch encontra Fritz Lang e vão os dois à Broadway”. Depois, Sleep Dealer, de Alex Rivera, que, para continuar nos símiles pirosos, é uma espécie de Matrix dos espoliados da globalização. Por fim, The Falls, primeira longa-metragem de Peter Greenaway, que não se parece com absolutamente nada.
Um dia, alguém ainda recenseará a importância da pirataria para a circulação de um certo tipo de bens culturais. Sejam eles um disco com sons de locomotivas húngaras ou o espantoso pseudo-documentário do cineasta galês – coisas quase impossíveis de encontrar deste lado da lei. Pode ser que me passem os remorsos por estas pescarias nas águas turvas das torrentezas...

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