"Bom senso": a qualidade que os néscios sempre se atribuem

O inevitável Ferreira Fernandes inventou o melhor argumento contra a edificação de um centro cultural muçulmano nas vizinhanças do ground zero: «Seria sábio da parte do imã pensar que o seu inalienável direito pode ofender o luto dos familiares das vítimas. Também o Rei das Costeletas de Nova Iorque tem o inalienável direito - alicerçado no princípio do livre comércio - de grelhar os porcos que quiser. Por isso poderia abrir lojas à volta da futura mesquita. Mas reza o bom senso que o Rei das Costeletas procure quarteirões onde não ofenda os vizinhos.» (Isto ignorando que o tal centro tem localização prevista a dois quarteirões dos tais vizinhos comichosos.)
Lê-se e não se acredita. Até o exemplo é esparvoado. Pura e simplesmente, não poderia haver em Nova Iorque qualquer estaminé dedicado a couratos, entrecosto ou febras; onde é que se conseguirá evitar a proximidade de sinagogas ou de restaurantes kosher ou de alguma instituição judaica?
A teoria é que devíamos todos juntar-nos em pequenos guetos, evitando ofender com a nossa presença, as nossas orações ou a nossa culinária aqueles que nos têm por inimigos. Enquanto que a Cordoba Initiative pretende diminuir distâncias entre o Islão e o ocidente, malta como o FF quer ver cada um no seu sítio, mantendo o tal bom senso e as devidas distâncias.
Estranho é ver que há quem bata palmas a isto.