23/09/10

Casa Nova do Estalinismo

«José Casanova, director do Avante!», são nome e alcunha do autor de uma peça dada à luz no Avante! e onde se pretende insultar o jornalismo e quem nele trabalha. Pretensão desde logo condenada ao fiasco, já que tais insultos, vindos de quem vêm, constituem, isso sim, um rasgado elogio aos insultados.

Trata-se de uma peça confeccionada com os ingredientes de uso recorrente pelos jornalistas-tipo da nova ordem estalinista, de que o Casanova é um triste exemplar. Trata-se, por isso, de uma peça que em nada se distingue, na forma como no conteúdo, das prosas que o autor habitualmente assina – a confirmar que os efeitos da desinformação veiculada pelos média estalinistas não são menores nos que a produzem do que nos leitores que constituem o seu alvo.

São assim os média estalinistas: enquanto propriedade dos burocratas e carreiristas profissionais do aparelho, servem, exclusivamente, os interesses da direcção.

São, por isso, uniformes na opinião divulgada e gémeos na desinformação organizada (podendo dar-se ao luxo de, num gesto «plural», abrir as portas a uma ou outra voz do Partido Ecologista os Verdes ).

Chegam todos os dias a todo o lado, num eficiente serviço combinado, tendo como objectivo principal fabricar a «desinformação burocrática» através da palavra de ordem muitas vezes publicada.

São «isentos» e «imparciais» - patranha que, por efeito de repetição exaustiva, vão transformando em «verdade»...

Para serem o que são, exigem fidelidade canina a quem os serve. E quem os serve – os «novos cães de guarda» da seita, na feliz designação dos cidadãos comuns - cumpre festivamente a tarefa. Por sectarismo e amor à promoção no aparelho.

(há, também, os jornalistas – os que para isso estudaram e isso desejam ser – mas que para assegurar o emprego têm que se sujeitar à «verdade a que temos direito» partidária expressa na já celebrizada declaração de princípios: «no Avante!, os jornalistas têm toda a liberdade de escrever o que o camarada Albano pensa»)

Com os seus nome e alcunha, «José Casanova, director do Avante!» integra a turba canora que, à frente dos média estalinistas, entoa, em coro síncrono, o vasto reportório do casa nova do sectarismo e da estalinização que é o conteúdo dos média do PCP.

Daí o que escreve.

7 comentários:

Anónimo disse...

Estimulado pela criatividade de Miguel Serras Pereira, mas obviamente sem lhe chegar aos calcanhares, aqui deixo uma versão adaptada e encurtada do artigo de Fernanda Câncio que deu origem a tudo isto.


Os lacaios do PS

f. (de frederico)

Há muito tempo que não lia a Fernanda Câncio no Diário de Notícias, confesso. Faço mal. É instrutivo ler o DN e a Fernanda e sobretudo registar o estatuto privilegiado de ser jornalista e poder escrever artigos de opinião que, em certa época mais tensa, eram a pura voz de S. Bento embrulhada em celofane de opiniões próprias e de indignação cidadã. E divertido, sobretudo para quem aprecia o non sense e não se incomoda com o humor negro. E, depois,é engraçadissimo: ela está muito ralada com o que o Avante publica ou não publica e nunca lhe deu para fazer um exame rigoroso ao que o DN publica ou não publica e, melhor ainda, aos temas sobre os quais, ela Fernanda, escreve e aos temas sobre os quais nunca escreve. E as duas listas seriam facilmente intermináveis.

Ela será sempre capaz de escrever sobre malfeitorias em Cuba mas não sobre os cortes sociais em Portugal. Ela chorará, compreensivelmente, pelo crime e tragédia do 11 de Setembro mas não sobre as centenas de milhar de civis iraquianos ceifados pelas munições norte-americanas. Ela certamente se emocionou com a libertação de Ingrid Bettancourt mas nunca escreveu uma linha sobre que razões levam a Colômbia a ter o recorde mundial de assassinato de sindicalistas e personalidades e activistas de esquerda. And so, so on, so on..

Ela escreve, e legitimamente, sobre o que lhe interessa ou convém mas quer mais: quer que os outros escrevam pelos mesmos critérios e bitola dela sob pena de serem considerados «lacaios do “socialismo»”

E nem, repara que, de passo em passo, escrevendo com iniciais minúsculas ou maiúsculas, se tem transformado numa triste «lacaia» do «socialismo» desgovernante em Portugal.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Frederico,

é muita - excessiva - bondade sua referir-se tão elogiosamente aos meus calcanhares, que, na verdade, não são assim um patamar tão elevado.
Fora isso, o meu post não pretende mais do que sugerir que o tipo de ataque e pseudo-crítica ideológica que o artigo de José Casanova exemplifica é absolutamente inútil e inargumentável.Dir-se-ia uma bula de excomunhão que nem ao cuidado se desse de elencar os erros excomungados no caso concreto. Fúria impotente e urro irracional.
Mas, já que aqui estamos, e sendo que há, pelos vistos, quem não compreenda que não se trata de aprovar ou defender as teses de Fernanda Câncio, mas de repudiar a prática do insulto gratuito e da difamação arbitrária, chamo a sua atenção para o facto de os meus queridos camaradas Luis Rainha e João Tunes terem dito bem o que está em jogo: o artiguelho do Avante! é uma denúncia não das acções ou ideias de uma cidadã, mas pura e simplesmente da sua pessoa e nome - sem outro objecto.
A jornalista em causa não é criticada pelas suas opiniões ou propostas políticas - que são denunciadas ao mesmo tempo que silenciadas. E todavia, não seria difícil fazer as coisas de outro modo - seria até importante, uma vez que a maioria dos textos Jugulares e, em particular, a maioria dos de FC são um bom exemplo da atitude política que consiste em multiplicar as regulamentações sectoriais em benefício de categorias particulares de indivíduos em detrimento da extensão, aprofundamento e activação das liberdades e direitos, pouco numerosos mas decisivos, da cidadania universal. O que prefigura uma sociedade radicalmente policiada e securitária, tutelada por um Estado cujas competências judiciais incessantemente reforçadas se alimentaria (e já alimenta) da erosão cada vez mais devastadora da participação política - responsável, igualitária e livre - dos cidadãos enquanto "iguais". A "cidadania" é reduzida à garantia de protecções particulares e casuísticas contra a perspectiva da sua concepção prática como exercício igualitário e universal do auto-governo colectivo e da autonomia individual. Não é preciso dizer que esta fragmentação juridicista tende a funcionar como recalcamento da repolitização da economia que nos governa e das alternativas a esse nível. O mais longe que poderá levar-nos - mas no Jugular nem isso parece ser uma questão insistente - é a reivindicação de garantias mínimas e passivas de tipo assistencial, cuja lógica é, no fundo, antitética da democratização da actividade económica pela "livre associação dos produtores" ou conjunto dos cidadãos organizados em pé de igualdade (igualização dos rendimentos e condições, igualização em termos de exercício do poder).
Mas talvez José Casanova não esteja interessado nesta denúncia do individualismo "fracturante" extremo (que fragmenta e desarma a cidadania) cúmplice do reforço dos poderes e prerrogativas de um governo acrescido da autoridade protectora e "judicial" (policial e regulamentadora) do Estado, que, por tabela, poria em causa as suas próprias concepções disciplinares e a sua ideia de um poder em nome dos trabalhadores que, também ele, reforçando a autoridade do Estado ou do partido governante sobre os seus "protegidos", só poderia ser, como na fórmula célebre de Marx, "inversamente proporcional" à liberdade dos cidadãos - e/ou à "emancipação dos trabalhadores".

Saudações democráticas

msp

Nuno Ramos de Almeida disse...

Miguel,
Acho fascinante o teu texto. A senhora Câncio insulta repetidamente o Avante, com o teu silêncio.
O Casanova responde-lhe na mesma moeda, logo, é estalinista.
Com tanto afã de chamar estalinista a todo o dirigente do PC, gastas a palavra e absolves Estaline. Para que conste, o estalinismo não era responder a crónicas de opinião da viúva do regime, mas usar a polícia e a repressão como forma usual da política.

Abraço

Miguel Serras Pereira disse...

Nuno,
obrigado pela advertência - tanto mais que concordo com o que escreves ao caracterizar o estalinismo.
No entanto, o meu humilde pastiche não pretende refutar Casanova, mas simplesmente mostrar o ridículo, o absurdo e a irracionalidade militantes de quem denuncia as posições de outrem sem as citar. O mal não está em criticar a Fernanda Câncio - eu próprio o tenho feito e por isso sofrido as fulminações de vozes zeladoras da laicidade, mas que permanecem eclesiasticamente marcadas, acusações de "machismo" (por atacar a FC que é uma mulher), etc. O mal é a "desconversa" de cabo de esquadra de JC. O que fiz foi aplicar a sua receita em vez de desmontar o seu artigo (coisa que o camarada Rainha já fez, secundado depois pelo camarada João Tunes) e pôr em evidência a sua inadmissibilidade racional. Como quem diz: "Assim é fácil, está a ver? O que é que você diria de quem escrevesse assim a respeito da sua produção jornalística?"
Abrç

msp

P.S. Olha que, apesar de não se limitar a isso, a injúria pessoal, a evocação da "imoralidade" ou da "decadência"das "víboras lúbricas", etc., em detrimento da argumentação política foi também um dos traços do estalinismo.

Nuno Ramos de Almeida disse...

Miguel,
O insulto é mais traço da desumanidade da humanidade do que especificamente uma invenção do estalinismo. Basta ler a f, que só seria estalinista se o homem fizesse sandálias que aparecem na Vogue, fosse homossexual, ateu e não gostasse dos árabes, para ver que o uso do insulto está muito vulgarizado. (falhou por pouco pq o tipo era filho de sapateiro, ateu e não devia gostar particularmente dos árabes).
Eu nunca responderia as palavrinhas da f. Como se demonstra pela forma como ela responde ao Vitor Dias, não vale a pena. Mas o que mais me impressiona nas seus escritos é o profundo desprezo que tem pelos outros, só comparável com a quantidade de admiração babosa que tem por ela própria.

Abraço

Miguel Serras Pereira disse...

Sim, Nuno - a falar é que a gente se entende. Há muito de mundano e de presunção na FC, mascarando a falta de ideias e uma aversão "chocada" e profunda perante a ideia democrática. Mas também lhe acontece acertar e, por vezes, ir mais longe do que a trivialidade a que o seu liberalismo "politicamente correcto" e juridicista costuma limitá-la. E eu penso, tal como o Luis Rainha, que o JC a acusou sem dizer de quê receando ter de transcrever certos factos menos oportunos do seu ponto de vista, mas iniludíveis, que às vezes a FC enuncia - ainda que tirando deles conclusões que nem tu nem eu tiramos.

Reabraço

msp

Bolota disse...

Miguel,

Se somar os longos 48 anos do botas e afins aos 36 dos democratas tipo Cancios e Migueis , prefaz o modico numero de 84 anos.

Durante todo este tempo, os estalinistas , palavras suas, foram sempre oposição, logo fora do poder.
Deve ser por isso que chegamos onde chegamos.

Vocês não se enchegam????