11/09/10

Das "condições de estabilidade à acção governativa" garantidas por Manuel Alegre

Por um post publicado pela Joana Lopes, contendo uma declaração de apoio a Manuel Alegre de Edite Estrela, que puxa, na circunstância, por todos os seus galões de militante autorizada do PS, explica claramente a quem ainda não tenha querido ou podido dar por isso quais as razões do apoio oficial da direcção do PS ao "candidato independente", militante histórico do Partido:

A eleição de Manuel Alegre dá garantias a todos os portugueses de que o Estado Social, que tem sido a imagem de marca dos governos socialistas, é para ser preservado e defendido.
A eleição de Manuel Alegre dá condições de estabilidade à acção governativa, indispensável à credibilização externa do País, ao desenvolvimento económico e à criação de emprego.

De caminho, Edite Estrela explica também por que razões a direcção do PS entende que Cavaco Silva não é um candidato adequado aos seus interesses:

O actual Presidente nunca perdeu uma oportunidade de se demarcar do governo, de dificultar, aberta ou dissimuladamente, a sua acção, e até de obstruir deliberadamente muitas medidas constantes do programa eleitoral sufragado pelo povo português. Durante o seu mandato, foram frequentes as quezílias, intrigas e até campanhas, dirigidas por assessores da sua confiança, destinadas a atingir a idoneidade do governo e do primeiro-ministro.
Os socialistas têm de estar conscientes de que, nas próximas eleições presidenciais, se vai definir o rumo político do País para os próximos anos. A reeleição de Cavaco Silva abrirá as portas a um governo do PSD e a políticas conservadoras e neo-liberais: o serviço nacional de saúde, a igualdade de acesso à educação, as políticas de coesão social, os direitos laborais, tudo será revisto e alterado.

O que Edite Estrela não diz, numa operação de branqueamento que a Joana Lopes deixa passar sem comentários, apostada como está em fazer tudo o que possa contribuir para a derrota de Cavaco, é que — como têm demonstrado outros apoiantes da candidatura de Manuel Alegre, como João Rodrigues e mais uns tantos companheiros seus, com destaque para certos Ladrões de Bicicletas — os governos socialistas que invoca têm feito quanto está ao seu alcance por destruir as premissas dessa formação de compromisso que foi o Estado Social e por garantir um equilíbrio de forças favorável aos "direitos e liberdades" superiores da oligarquia capitalista financeira mais ortodoxa, apresentada como portadora indiscutível da necessidade económica, identificada por sua vez como encarnação insofismável da razão e do princípio de realidade de toda a política possível. Pelo que, se a eleição de Manuel Alegre para a chefia do Estado puder servir para reforçar os governos "socialistas" que conhecemos, deveremos concluir que, do ponto de vista de todos os interessados na democratização efectiva do poder político e da extensão do exercício activo da cidadania, nomeadamente na esfera da economia hoje governante, o voto em Alegre pouco se distinguirá de um voto em Cavaco pois será um voto na continuidade do regime e do pacto institucional profundo que lhe subjaz. Tanto mais que, tanto quanto consta, Manuel Alegre não parece interessado em demarcar-se minimamente do tipo de interpretação ou de razões que Edite Estrela invoca para justificar o apoio que lhe concede e o apelo a que outros sigam o seu exemplo.

3 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

O manuel alegre desde que nasceu que sonha ser presidente da república. É um presumido empolado que vive da voz de tenor e de ter escrito uma trova ao vento. Ideias? ZERO.

Anónimo disse...

Apenas três observações desigual importância:

1ª. Como se trata de uma mail suponho que não há lugar a papel timbrado do PS, mas de qualquer modo a carta é assinada por Edite Estrela na qualidade «secretária nscionsl do PS», ou seja de membro do órgãos de gestão política corrente daquele partido.

2ª. Eu também estou interessado e empenhado em derrotar Cavaco mas aprece-me uma ofensa à verdade e à inteligência de muitos portugueses esta ideia peregrina de que é preciso fazê-lo por causa das maldades que Cavaco tem feito ao Governo de Sócrates.

3ª. Fico agora à espera que, em segunda ou terceira carta aos militantes do PS,Edite Estrela nos venha contar que foi Cavaco que impôs ao governo do PS o agravamento do Código de Trabalho (por comparação com o de Bagão Félix, os cortes nas prestações sociais e outras maravilhas de «esquerda» da governação do PS.

Anónimo disse...

Eu que votei sempre BE, mesmo nas presidenciais, sinto que o apoio a Alegre é comprometedor de um projecto mais ou menos radical. A versão menos radical do BE, que deve ser no mínimo uma social-democracia sólida, falha redondamente ao seguir o caminho de um "mal menor".

Os argumentos contra Alegre são sobejamente conhecidos. As posições face ao código do trabalho e ao PEC devem ser mais que suficientes para nunca merecer o apoio de um projecto transformador da sociedade, ainda que profundamente reformista.