06/09/10

Limpar o baço das paredes de vidro

Jorge Nascimento Fernandes analisa criticamente o texto «Comunistas, sem vergonha!», que São José Almeida escreveu a semana passada no Público.

3 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Miguel C,
o que se segue visa apenas confirmar a pertinência - para não dizer a urgência - da tua chamada de atenção para o importante post do Jorge Nascimento Fernandes.
É verdade que algumas objecções de pormenor poderiam ser feitas - do meu ponto de vista - ao texto. Por exemplo, duvido do acerto da escolha do termo "esquerdização" para caracterizar o "regresso a Estaline", conjugado com a absolvição da "via chinesa" e a complacência em relação à Coreia do Norte, que tem vindo a afirmar-se cada vez mais abertamente no PCP e em sectores especialmente ruidosos a ele afectos na blogosfera. Mas são reparos, para o que aqui importa, menores.
O que importa assinalar é que o "chefe de redacção do Avante!" declara que uma súmula histórico-filosófico-política oficial do regime de Estaline, na época do seu auge terrorista, é "um contributo valioso para a batalha ideológica que se trava não apenas contra o inimigo de classe mas contra as vacilações e oportunismos que, como a obra mostra com clareza, convivem no seio das organizações revolucionárias e podem conduzir às derrotas dramáticas a que assistimos".
Se o ano passado, pela mesma altura do calendário do PCP (festa do Avante!), já fora editado - iniciativa que, tal como JNF, eu próprio denunciei em textos publicados no 5dias - um panegírico falsificacionista de Estaline, reabilitando a "justiça" dos Processos de Moscovo e reavaliando à la haute o período estalinista e o seu máximo coriféu "marxista-leninista", com um prefácio laudatório de Carlos Costa, este ano é Estaline (e os seus colaboradores directos - e anónimos - no "Breve Curso") o objecto das aclamações do chefe de redacção desse órgão da "verdade a que temos direito" do PCP.
Como de costume - e o JNF mostra-o bem -, a transparência das paredes de vidro que albergam os autores da manobra não é indiscutível. A voz e as teses do Pai dos Povos são difundidas e autorizadas pelo prefácio de um responsável e autorizado camarada, mas a autoria de Estaline é disfarçada e camuflada. A reorientação contra os "desvios do XX Congresso" prossegue em força e dá dois ou mais passos em frente, mas acompanhados de "um passo atrás" cautelar, uma vez que o Breve Curso - tal como o livro "m-l" de Ludo Martens não surge com a chancela oficial do PCP ou das Edições Avante! - etc., etc. Resta-nos esperar para ver qual será o próximo episódio da escalada anti-democrática e por quanto tempo ainda esta será desvalorizada por alguns "anti-estalinistas" confessos que continuam a militar no PCP, bem como por sectores da "esquerda alternativa" que insistem em ignorar o problema.
Um agradecimento especial ao JNF por ter dito o que tinha de começar por ser dito e pelo seu contributo para a abertura do debate que se impõe.
E para ti, Miguel, o abraço solidário que sabes

miguel sp

Miguel Serras Pereira disse...

Errata: onde se lê "à la haute" deve ler-se "à la hausse".
Onde se lê: "o Breve Curso - tal como o livro "m-l" de Ludo Martens não surge com a chancela oficial do PCP ou das Edições Avante! - etc., etc." deve ler-se: "o Breve Curso - tal como o livro "m-l" de Ludo Martens - não surge com a chancela oficial do PCP ou das Edições Avante!, etc., etc.".

msp

Miguel Cardina disse...

De acordo, Miguel. Também me parece que a São José Almeida chama bem a atenção para o fenómeno. Valha num ou noutro enfoque que o Jorge Nascimento Fernandes muito bem aponta.