Pedro Quartin Graça publicita no Corta-Fitas a carta que Alberto Fontes, comandante da Marinha Mercante, enviou a António Costa a propósito da ante-estreia do filme "Assalto ao Santa Maria", marcada para o próximo dia 23 de Setembro, no Cinema S. Jorge. Vale a pena ler a missiva, já que ela é reveladora do modo como ainda hoje algumas franjas olham a ditadura e os actos de resistência e combate que contra ela foram movidos.
O autor começa por questionar a oportunidade de passar no "Dia do Mar" um filme sobre um acontecimento no qual foi morto um homem da Marinha. Rapidamente, porém, a pena foge-lhe para o que pensa e pretende. Conecta o episódio com a pirataria nos mares da Somália e com a queda das torres gémeas (eu bem disse que valia a pena ler) e exige que o filme seja "realista, em que os factos sejam relatados tal como sucederam".
Para além da estranha noção de que um filme que toma como base a realidade deva ser sempre "realista", conclui-se portanto que o comandante já viu a obra e pode confirmar o seu "irrealismo". O resto, sendo menos explícito, é o que enforma toda a carta: a condenação dos actos de insubordinação ao regime a partir da ideia de "legalidade" - ou mais concretamente, de "ilegalidade". Ao fim e ao cabo, é a mesma lógica que evocam os ex-pides quando dizem que apenas cumpriam ordens ou que agiam legitimamente contra os "inimigos do Estado". É claro que a morte de um elemento da tripulação é de lamentar, mas o assalto ao "Santa Maria" não se pode obviamente reduzir a essa vida perdida. Fazê-lo, isso sim, é ser irrealista.
05/09/10
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2 comentários:
A carta é atroz, e justamente por isso não sei se se deve dar publicidade a coisas destas.
Acredite que pensei no mesmo, Ricardo. Mas o facto da carta circular e ser-lhe dada publicidade daquela forma, olhando-a de maneira positiva, fez-me optar por escrever o post.
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