No Económico de sexta-feira, lê-se um editorial que arranca com a angustiante pergunta: «E se o País fosse uma Autoeuropa?» A ideia é gabar as condições de trabalho e a produtividade daquela fábrica, contrapondo depois o rutilante exemplo à esquálida situação de Portugal: «O que seria preciso para que um país, em tempo de austeridade, aumentasse os salários dos seus funcionários públicos em 3,9%, passasse todos os temporários para os quadros, garantisse não fazer despedimentos nos próximos dois anos, melhorasse os seguros de saúde, reforçasse os subsídios de transporte em 5% e ainda criasse um fundo de pensões para todos? A solução: seria preciso que fosse uma Autoeuropa.»
Como facilmente se calcula, não vivemos na República Autoeuropense. Mas a culpa é do Estado (os malvados dos políticos), dos trabalhadores (os madraços dos funcionários públicos) e dos sindicatos (comunas impenitentes que só querem confusão, claro). Claro que a imaginação, a vontade do risco ou a independência em relação ao Estado não fazem falta aos nossos empresários. Claro; os culpados já foram recenseados e pronto.
Ora o que há de errado naquele símile? Para começar, o facto de aqui nada se decidir de relevante quanto aos automóveis que ali se produzem. A Volkswagen concebe, desenha e decide os seus modelos longe daqui. A tecnologia é inventada algures que não em Palmela. Sem o valor da marca, da sua qualidade, do seu marketing, da sua reputação, aqueles veículos seriam apenas caríssimos montes de chapa e parafusos. Que não restem dúvidas: a Autoeuropa é um excelente modelo para muita coisa... mas para o funcionamento de um país independente? A ideia é mesmo limitar-nos a juntar peças de tecnologias alheias, concebidas por estrangeiros, reduzindo-nos ao papel de boa mão-de-obra?
Sempre poderemos, claro está, começar a produzir apenas bratwursts, queijo Stilton ou malinhas Louis Vuitton. Mas é capaz de ser mais eficaz começarmos por assinar o Financial Times.
22/11/10
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3 comentários:
A Autoeuropa não é Portugal, é Alemanha. Em vez de importarem os trabalhadores para lá, como faziam antes, chegaram à conclusão que era mais barato mandar a fábrica para cá.
o queijo Stilton é uma treta!
Caro Luís,
Responder a uma interrogação imbecil é coisa insensata.
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