22/11/10
Solidariamente Convosco
por
Pedro Viana
Este fim-de-semana, foi inaugurada a exposição "Às Artes, Cidadãos!" na Fundação de Serralves. Como parte do programa de inauguração teve lugar uma performance, intitulada Solidariamente Convosco e encenada por Nicoline van Harskamp, na qual 5 personagens ficcionais, que encarnam diferentes modos de ver o anarquismo, se encontram para trocar informações sobre a situação dos movimentos anarquistas um pouco por todo o mundo. Tal como Nicoline van Harskamp explica neste vídeo, os personagens por ela criados sintetizam as principais atitudes perante o anarquismo que se podem encontrar entre cerca de 1500 cartas, escritas por mais de 400 pessoas espalhadas pelo mundo, e que fazem parte do arquivo de Karl Max Kreuger. Estas cartas datam do período que vai de 1988 a 1999, desde a queda do muro de Berlim até à morte inesperada de Kreuger. O arquivo deste anarquista holandês está hoje guardado no Instituto Internacional de História Social, em Amesterdão.
Durante a performance, ocorrem várias situações que despoletam discussões ideológicas entre os personagens, sobre o significado de anarquismo, e onde se aborda, obviamente de modo muito superficial, alguns dos temas que mais discórdia têm gerado no interior do anarquismo. No vídeo acima mencionado, Nicoline van Harskamp defende que é a enorme diversidade ideológica no seio do anarquismo que constitui a sua maior valência, tornando-o facilmente adaptável a qualquer novo contexto. Concordo que tal adaptabilidade existe, e é uma vantagem, mas o que transparece do mosaico anarquista que nos é apresentado é, acima de tudo, uma enorme fragmentação, por vezes mais confusão, ideológica e organizativa, que impede a criação de massa crítica suficiente para influenciar de modo significativo as sociedades onde os movimentos anarquistas surgem. Este problema tem sido parcialmente resolvido com a maior possibilidade de comunicação que existe depois do advento da Internet, mas parece estar ainda longe o dia em que a vontade de união se sobreporá definitivamente à tentação da pureza ideológica.
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1 comentários:
Obrigado pela solidariedade.
Estou de acordo em parte com a análise final. Há de facto alguma confusão ideológica e organizativa na diversidade. O que não concordo e não vejo no anarquismo contemporâneo é a tentação de pureza ideológica sobrepor-se ao desejo de união que é referida na última frase. Esse é um fenómeno sobretudo teórico que aparece ampliado nos escritos e nas discussões veiculadas na Internet, e que não tem assim tanto reflexo na realidade. No terreno os anarquistas não são lá muito sectários e na maior parte dos casos não sabem (nem querem saber) com que corrente é que o companheiro do lado tem mais afinidade. O que está em causa é outra coisa, é que o anarquismo tem vindo a abandonar progressivamente os modelos organizacionais do passado e a procurar outras respostas que eu arriscaria afirmar mais evoluídas do que as que os seus antecessores usaram.
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