"Reduce the working week without loss of pay and create tens of thousands of jobs by sharing out the work. No to compulsory work for dole schemes or fake jobs. We demand real jobs and a reversal of all the cuts in social welfare and benefit payments."
PCP, BE e outros sectores de esquerda deveriam seguir o exemplo e aparecer com um programa mínimo. É perfeitamente compreensível que a esquerda tenha sido fragmentada em tempos, tanto pela existência do socialismo real e suas múltiplas interpretações, como por divergências teóricas acerca do papel do Estado, dos sindicatos, etc.. Mas é hora de criar algum movimento que possa captar descontentamento, ainda que abertamente anti-capitalista: no curto prazo todos somos contra a vinda do FMI, todos achamos que os ricos devem pagar mais a crise, todos achamos que se as empresas públicas fossem geridas pelos trabalhadores nunca haveria administradores multi-milionários. A democracia deve exercer-se não só no parlamento, mas também no local de trabalho e na esfera da economia.
Só a criação de uma aliança de esquerda pode servir para agitar a opinião pública com uma vantagem enorme para os partidos mais aversos ao risco: o fim da aliança não compromete os partidos, e muito menos os movimentos de precários, desempregados, etc.
Tiro em cheio, caríssimo camarada e nunca assaz louvado armador de jogo Miguel M. Um abraço libertário
miguel sp
Caros Anónimo, Fernando e José Manuel Faria,
com ou sem "aliança de esquerda", entendida como acordo celebrado entre direcções partidárias, o que seria necessário seria uma plataforma aberta à participação de todos os trabalhadores e cidadãos que, com ou sem partido, apostassem nas tarefas de democratização da economia e do trabalho que o Anónimo enumera claramente. Defendi há dias uma perspectiva solidária da do Anónimo e do JMF neste post: http://viasfacto.blogspot.com/2010/11/da-democratizacao-como-plataforma.html E trata-se da direcção que me parece ser de seguir, independentemente de pensar que, por razões diferentes, não é verosímil um pacto entre os chamados "partidos de esquerda" - ao mesmo tempo que sem a mobilização das suas bases de apoio (incluindo a do PS) não vejo perspectivas de transformações de fundo como as aqui propostas.
MSP: conheço as tuas posições. Falar em "sectores de esquerda" implica falar em mais do que o BE e o PCP. Implica em abarcar todos os sectores autonomistas, desempregados, precários, todos os que não têm sector institucional, etc. A posição mantém-se: UNIÃO POR UMA PLATAFORMA DE ESQUERDA ANTI-CAPITALISTA COM PROGRAMA MÍNIMO. CONVÉM A TODOS.
Caro Anónimo, de acordo com a tua posição e a plataforma - plataforma é menos restritivo do que "aliança" (que sugere um mero acordo entre direcções, embora não fosse esse o sentido do que dizes). No entanto, ajudava que adiantasses um pouco mais a ideia para que aqui e noutros posts continuássemos a discuti-la. Vamos a isso?
Tens toda a razão, usei "aliança" num sentido errado.
Deve ser proposto um debate em mesa redonda a ser TRANSMITIDO EM DIRECTO, no mínimo na internet, no máximo nos inúteis canais de "notícias". (Mas digo "internet" porque esta deve ocupar um lugar de excelência, mais pró-activo numa sociedade em transformação)
A mesa deve ser constituída por alguns (poucos) representantes de movimentos organizados mas deve fazer-se um esforço por estabelecer contacto com a plateia, que deve ser mais do que mero público. O encontro deveria dar-se numa universidade, local que também deverá merecer mais destaque numa sociedade democrática.
Quanto às medidas, isso é o que deve ser debatido, mas muito do que é proposto no link do segundo comentário será comum à nossa situação. Deve ser rabiscado um programa mínimo.
É impressionante a multidão que saiu à rua na Irlanda. Temos que aproveitar os próximos tempos, que são inevitavelmente de mudança. Resta-nos lutar para que não seja a mudança que todos achamos a mais provável, isto é, aquela que nos atiram à cara diariamente.
E mais, seria excelente se a proposta partisse não só da internet, mas também de um blog ou algo do género especificamente criado para o efeito. A bola só depois seria colocada no campo da esquerda institucional, sendo muito mais provável a criação de uma plataforma abrangente do que se for o BE e o PCP a propô-la.
Não acredito que os Spectrums e o PCP não se revejam em parte no programa mínimo da aliança de esquerda unida irlandesa.
Escrevi um bocado à pressa; uma mesa redonda com plateia só faz sentido numa arena. O campo pequeno que fique para as aburguesadas touradas. Ofereço-me para traduzir ainda hoje o programa irlandês: é que não falta aí gente com inglês técnico pior que o do nosso semi-engenheiro.
Caro Anónimo, se queres traduzir o texto - excelente ideia! -, não queres enviá-lo para aqui? Assim que o tenha posso publicá-lo como post no Vias, sem prejuízo de publicação posterior ou simultânea noutros lugares. OK? Abrç
Bom, vou começar a colar aqui a minha tradução. Será necessário rever algumas partes (sobretudo as assinaladas com pontos de interrogação)
PROGRAMA DA ALIANÇA ESQUERDA UNIDA (IRLANDA): CONSTRUINDO UMA ALTERNATIVA POLÍTICA REAL
A crise económica tem-se traduzido num ataque sem precedentes ao nível de vida dos irlandeses, criando uma espiral de desemprego em massa e aumento de pobreza. Entretanto, tira-se milhões a quem trabalha para se dar a banqueiros e especuladores internacionais.
A recém-criada ULA (United Left Alliance) opõe-se à política de bailout e cortes orçamentais, políticas que pioram a crise. Nas eleições legislativas, temos por objectivo fornecer uma alternativa real aos partidos do sistema, bem como o Labour e o Sinn Fein, que também aceitam o capitalismo e se recusam a descartar a hipótese de se coligarem com partidos de direita. Um governo Fine Gael / Labour no poder não seria fundamentalmente diferente deste governo.
A ULA está a procurar candidatos em todo o país, e convidamos todas as pessoas e grupos que queiram lutar pela mudança e que aceitem as nossas exigências para se tornarem parte da Aliança.
A ULA:
1 - Rejeita as chamadas soluções para a crise económica que têm por base o corte de despesa pública, gastos sociais e salários de quem trabalha. Não pode haver uma solução justa ou sustentável apoiada no mercado capitalista. Em vez disso, somos a favor do controlo público e democrático dos recursos de modo a que a necessidade social seja priorizada em relação ao lucro.
2 - Os eleitos como parte da aliança não vão fazer nenhum acordo ou apoio a qualquer coligação dos partidos de direita, particularmente o Fianna Fail e Fine Gael. Comprometemo-nos com a construção de uma alternativa de esquerda para unir quem trabalha no sector público ou no privado, irlandeses ou imigrantes, desempregados, reformados e estudantes, na luta para mudar a sociedade.
A ULA chegou a acordo nas seguintes exigências-chave.
1 - Fim do resgate dos bancos e dos promotores imobiliários
A ULA pede o fim da NAMA (nota: National Assets Management Agency, entidade criada pelo governo em 2009 para lidar com a crise financeira) e dos resgates dos bancos e dos promotores imobiliários. Tornar públicos os bancos, as instituições financeiras, grandes construtoras e development land (não conheço tradução), com gestão democrática, para benefício das pessoas e não para o lucro de poucos. Os bancos, sendo propriedade pública, garantiriam a poupança dos titulares de contas bancárias, mas não dariam garantias de pagamento aos obrigacionistas e especuladores financeiros que ajudaram a causar a crise global.
Queremos utilizar os recursos, incluindo o grande número de imóveis vagos, para oferecer instalações e habitação social acessíveis para todos, para compra ou aluguer.
Reduzir hipotecas totais (?) e reembolsos (?) para níveis acessíveis, que reflictam o custo real das propriedades, e tornar ilegais despejos de famílias com base na incapacidade de pagamento.
2 - Tributar os gananciosos e não os necessitados
A Irlanda não é um país pobre. Enormes quantidades de riqueza foram gerados durante o boom. O problema é que a riqueza está nas mãos de uma minoria riquíssima. Rejeitamos completamente a noção de que toda esta riqueza desapareceu repentinamente. Muitas empresas, especialmente multinacionais, continuam a ser rentáveis.
A ULA propõe um sistema de impostos progressivos, onde os lucros enormes realizados na Irlanda por algumas corporações representariam um aumento significativo que, juntamente com um um imposto de renda progressivo mudaria drasticamente a carga fiscal dos trabalhadores para as grandes empresas e para os ricos.
Exigimos igualmente um imposto sobre a riqueza do património dos ricos, o aumento no imposto sobre ganhos de capital e um fim a todas as fugas fiscais para os ricos.
Opomo-nos a toda a discrição e impostos duplos (??), incluindo taxas de lixo e planos para introduzir tarifas de água, um imposto sobre a propriedade, ou um "imposto sobre o agregado familiar". Somos contra a inclusão de quem aufere baixos salários na tax net (??)
A ULA condena o fracasso total do governo e do sector no mantimento ou criação de empregos. As suas políticas são deflaccionárias e estão a piorar a crise do emprego.
Apelamos a um programa de desenvolvimento social real que possa criar centenas de milhares de postos de trabalho na construção de infra-estruturas necessárias, como sejam os transportes públicos, energias renováveis, banda larga, creches, escolas, hospitais, centros de saúde e outras estruturas da comunidade.
Opomo-nos a planos de venda de empresas estatais. Em vez disso, essas empresas devem ser utilizadas como veículo de criação de emprego. Acabar com a dependência do sector privado, utilizar a propriedade pública de recursos naturais e bancos para criar empregos lançando um programa estatal de desenvolvimento industrial e inovação para construir capacidade produtiva na economia. Tornar a Corrib Gas Fied pública.
Reduzir a jornada de trabalho sem perda de remuneração e criar dezenas de milhares de postos de trabalho, dividindo o trabalho. Dizer não ao trabalho compulsivo para dole schemes ou falsos trabalhos (nota: dole scheme é, à imagem do proposto pelo PSD e CDS, uma espécie de trabalho comunitário em troca do RSI). Necessitamos de empregos reais e uma inversão de todos os cortes sociais e pagamentos de benefícios.
4 - Impedir os cortes, defender os serviços públicos
A ULA defende o fim dos lucros na Saúde. Defendemos um sistema de saúde devidamente apoiado em recursos públicos, gratuito nos pontos de acesso e pago através de um sistema de impostos progressivos. Acabar a privatização dos serviços de saúde e os subsídios à saúde privada. Não aos hospitais privados em terrenos de hospitais públicos.
Exigimos um financiamento estatal adequado para um sistema de educação democraticamente gerida e secular, gratuito para todos desde a infância à universidade. Aumentar o número de professores para reduzir o tamanho das turmas e cuidados especiais e assistência no idioma, para que todas necessidades das crianças sejam atendidas. Fim dos subsídios às escolas privadas. Não à reintrodução de third level fees (??), pelo pagamento, aos estudantes, de bolsas.
Não aos cortes nas prestações sociais e pensões, e não aos cortes, tributação ou utilização de testes para obtenção do abono de família. Por uma campanha de massa pelo movimento sindical e das comunidades para reverter os cortes nos serviços públicos. Queremos uma reforma real dos nossos serviços públicos. É tempo de parar de copiar as falhas das práticas do sector privado. Queremos o fim dos salários inflaccionados, bónus e prémios dos altos funcionários públicos e políticos. Queremos um tecto nos salários e escrutínio público da despesa pública. Os serviços públicos deveriam ser administrados democraticamente com a plena participação dos trabalhadores, dos utilizadores dos serviços e da comunidade em geral.
A ULA apoia a igualdade para todos, pela eliminação de todas as formas de discriminação baseada no sexo, raça, nacionalidade, religião, orientação sexual, deficiência ou idade.
Defendemos uma campanha por parte dos sindicatos, no sentido de todos os trabalhadores se sindicalizarem, e para o direito legal de reconhecimento dos sindicatos. (??)
Acabar com todas as leis anti-imigração e contra os refugiados (??). Dar o direito ao trabalho por parte dos refugiados, e, a ambos, todos os direitos laborais de que usufruem os outros trabalhadores, de modo a ajudar a combater (??)
Somos pela plena igualdade para lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, incluindo o direito de casar (??)
6 - Proteger o ambiente
Apesar da retórica, a destruição ambiental continua em ritmo acelerado. O Estado deve investir massivamente em energias renováveis. Através da propriedade pública e planeamento democrático, a economia pode ser direccionada para a sustentabilidade.
Precisamos de uma verdadeira reforma do nosso sistema de planeamento, de modo que as necessidades das pessoas e a protecção do ambiente venham antes dos lucros dos promotores dos projectos. Apelamos a um grande investimento em equipamentos colectivos, gestão de resíduos, reciclagem e transportes públicos.
Opomo-nos à incineração como solução para o problema dos resíduos, devido aos riscos sérios que representam para a saúde. Propomos um plano de gestão integrada de resíduos adequada, incluindo uma redução drástica da embalagem, combinada com uma abordagem séria para a reciclagem e compostagem.
7 - Construir uma verdadeira alternativa de esquerda em Portugal e na Europa
A formação da ULA é parte de um processo de dimensão europeia e, internacionalmente, do desenvolvimento de movimentos e organizações que combatem ataques aos trabalhadores, aos desempregados e aos pobres, pela luta de uma nova visão de sociedade.
Opomo-nos ao diktat da União Europeia e as suas políticas neoliberais de redução de despesa pública e promoção da austeridade. As políticas de dirigir os gastos públicos para cumprir metas da UE destruirá emprego e levará a miséria aos trabalhadores, desempregados e pobres. Os trabalhadores não criaram a dívida e não devem pagá-la.
Estamos comprometidos com a construção da solidariedade com os trabalhadores de toda a Europa para forjar uma nova direcção que coloca as necessidades dos trabalhadores e dos desempregados antes da ganância dos especuladores.
Uma parte importante do processo é a necessidade urgente de recuperar e reconstruir os sindicatos, e mobilizar o poder dos trabalhadores através de acção de massas. A abordagem da Parceria Social (nota: acordos trienais na Irlanda, negociados entre patronato, governo e sindicatos) deixou os trabalhadores indefesos e levou a uma transferência maciça de riqueza dos trabalhadores para os empregadores, por isso deve ser descartada.
Os nossos deputados eleitos darão total apoio aos sindicatos e trabalhadores que se oponham ao acordo Croke Park e usará o Dail (parlamento) para levantar os problemas reais que afectam os trabalhadores comuns.
Caro Anónimo, vou ver se conseguimos resolver as questões de terminologia técnica que indicas e publicar o texto da plataforma como post. Não queres que o teu nome seja mencionado como tradutor e autor da proposta de publicação? Podes sempre contactar comigo por mail: miguelserraspereira@sapo.pt
Ora, disse a Morsa ao Carpinteiro vamos ter muito que falar: de botas, e lacre, e veleiros, de reis, e couves da casa, de saber porque ferve o mar, ou se há porcos com asas.
Lewis Carroll
Alice do outro lado do espelho, cap. IV
20 comentários:
Quão desejável e quão provável por cá?
O programa está disponível aqui:
http://www.unitedleftalliance.org/programme-of-the-united-left-alliance-building-a-real-political-alternative/
"Reduce the working week without loss of pay and create tens of thousands of jobs by sharing out the work.
No to compulsory work for dole schemes or fake jobs. We demand real jobs and a reversal of all the cuts in social welfare and benefit payments."
PCP, BE e outros sectores de esquerda deveriam seguir o exemplo e aparecer com um programa mínimo. É perfeitamente compreensível que a esquerda tenha sido fragmentada em tempos, tanto pela existência do socialismo real e suas múltiplas interpretações, como por divergências teóricas acerca do papel do Estado, dos sindicatos, etc.. Mas é hora de criar algum movimento que possa captar descontentamento, ainda que abertamente anti-capitalista: no curto prazo todos somos contra a vinda do FMI, todos achamos que os ricos devem pagar mais a crise, todos achamos que se as empresas públicas fossem geridas pelos trabalhadores nunca haveria administradores multi-milionários. A democracia deve exercer-se não só no parlamento, mas também no local de trabalho e na esfera da economia.
Só a criação de uma aliança de esquerda pode servir para agitar a opinião pública com uma vantagem enorme para os partidos mais aversos ao risco: o fim da aliança não compromete os partidos, e muito menos os movimentos de precários, desempregados, etc.
Assino a proposta do anónimo das 15:13.
Tiro em cheio, caríssimo camarada e nunca assaz louvado armador de jogo Miguel M.
Um abraço libertário
miguel sp
Caros Anónimo, Fernando e José Manuel Faria,
com ou sem "aliança de esquerda", entendida como acordo celebrado entre direcções partidárias, o que seria necessário seria uma plataforma aberta à participação de todos os trabalhadores e cidadãos que, com ou sem partido, apostassem nas tarefas de democratização da economia e do trabalho que o Anónimo enumera claramente. Defendi há dias uma perspectiva solidária da do Anónimo e do JMF neste post: http://viasfacto.blogspot.com/2010/11/da-democratizacao-como-plataforma.html
E trata-se da direcção que me parece ser de seguir, independentemente de pensar que, por razões diferentes, não é verosímil um pacto entre os chamados "partidos de esquerda" - ao mesmo tempo que sem a mobilização das suas bases de apoio (incluindo a do PS) não vejo perspectivas de transformações de fundo como as aqui propostas.
Saudações democráticas a todos
msp
MSP: conheço as tuas posições. Falar em "sectores de esquerda" implica falar em mais do que o BE e o PCP. Implica em abarcar todos os sectores autonomistas, desempregados, precários, todos os que não têm sector institucional, etc. A posição mantém-se: UNIÃO POR UMA PLATAFORMA DE ESQUERDA ANTI-CAPITALISTA COM PROGRAMA MÍNIMO. CONVÉM A TODOS.
Caro Anónimo, de acordo com a tua posição e a plataforma - plataforma é menos restritivo do que "aliança" (que sugere um mero acordo entre direcções, embora não fosse esse o sentido do que dizes). No entanto, ajudava que adiantasses um pouco mais a ideia para que aqui e noutros posts continuássemos a discuti-la. Vamos a isso?
Saudações democráticas
msp
Tens toda a razão, usei "aliança" num sentido errado.
Deve ser proposto um debate em mesa redonda a ser TRANSMITIDO EM DIRECTO, no mínimo na internet, no máximo nos inúteis canais de "notícias". (Mas digo "internet" porque esta deve ocupar um lugar de excelência, mais pró-activo numa sociedade em transformação)
A mesa deve ser constituída por alguns (poucos) representantes de movimentos organizados mas deve fazer-se um esforço por estabelecer contacto com a plateia, que deve ser mais do que mero público. O encontro deveria dar-se numa universidade, local que também deverá merecer mais destaque numa sociedade democrática.
Quanto às medidas, isso é o que deve ser debatido, mas muito do que é proposto no link do segundo comentário será comum à nossa situação. Deve ser rabiscado um programa mínimo.
É impressionante a multidão que saiu à rua na Irlanda. Temos que aproveitar os próximos tempos, que são inevitavelmente de mudança. Resta-nos lutar para que não seja a mudança que todos achamos a mais provável, isto é, aquela que nos atiram à cara diariamente.
E mais, seria excelente se a proposta partisse não só da internet, mas também de um blog ou algo do género especificamente criado para o efeito. A bola só depois seria colocada no campo da esquerda institucional, sendo muito mais provável a criação de uma plataforma abrangente do que se for o BE e o PCP a propô-la.
Não acredito que os Spectrums e o PCP não se revejam em parte no programa mínimo da aliança de esquerda unida irlandesa.
Escrevi um bocado à pressa; uma mesa redonda com plateia só faz sentido numa arena. O campo pequeno que fique para as aburguesadas touradas. Ofereço-me para traduzir ainda hoje o programa irlandês: é que não falta aí gente com inglês técnico pior que o do nosso semi-engenheiro.
Caro Anónimo,
se queres traduzir o texto - excelente ideia! -, não queres enviá-lo para aqui? Assim que o tenha posso publicá-lo como post no Vias, sem prejuízo de publicação posterior ou simultânea noutros lugares.
OK?
Abrç
msp
Bom, vou começar a colar aqui a minha tradução. Será necessário rever algumas partes (sobretudo as assinaladas com pontos de interrogação)
PROGRAMA DA ALIANÇA ESQUERDA UNIDA (IRLANDA): CONSTRUINDO UMA ALTERNATIVA POLÍTICA REAL
A crise económica tem-se traduzido num ataque sem precedentes ao nível de vida dos irlandeses, criando uma espiral de desemprego em massa e aumento de pobreza. Entretanto, tira-se milhões a quem trabalha para se dar a banqueiros e especuladores internacionais.
A recém-criada ULA (United Left Alliance) opõe-se à política de bailout e cortes orçamentais, políticas que pioram a crise. Nas eleições legislativas, temos por objectivo fornecer uma alternativa real aos partidos do sistema, bem como o Labour e o Sinn Fein, que também aceitam o capitalismo e se recusam a descartar a hipótese de se coligarem com partidos de direita. Um governo Fine Gael / Labour no poder não seria fundamentalmente diferente deste governo.
A ULA está a procurar candidatos em todo o país, e convidamos todas as pessoas e grupos que queiram lutar pela mudança e que aceitem as nossas exigências para se tornarem parte da Aliança.
A ULA:
1 - Rejeita as chamadas soluções para a crise económica que têm por base o corte de despesa pública, gastos sociais e salários de quem trabalha. Não pode haver uma solução justa ou sustentável apoiada no mercado capitalista. Em vez disso, somos a favor do controlo público e democrático dos recursos de modo a que a necessidade social seja priorizada em relação ao lucro.
2 - Os eleitos como parte da aliança não vão fazer nenhum acordo ou apoio a qualquer coligação dos partidos de direita, particularmente o Fianna Fail e Fine Gael. Comprometemo-nos com a construção de uma alternativa de esquerda para unir quem trabalha no sector público ou no privado, irlandeses ou imigrantes, desempregados, reformados e estudantes, na luta para mudar a sociedade.
A ULA chegou a acordo nas seguintes exigências-chave.
1 - Fim do resgate dos bancos e dos promotores imobiliários
A ULA pede o fim da NAMA (nota: National Assets Management Agency, entidade criada pelo governo em 2009 para lidar com a crise financeira) e dos resgates dos bancos e dos promotores imobiliários. Tornar públicos os bancos, as instituições financeiras, grandes construtoras e development land (não conheço tradução), com gestão democrática, para benefício das pessoas e não para o lucro de poucos. Os bancos, sendo propriedade pública, garantiriam a poupança dos titulares de contas bancárias, mas não dariam garantias de pagamento aos obrigacionistas e especuladores financeiros que ajudaram a causar a crise global.
Queremos utilizar os recursos, incluindo o grande número de imóveis vagos, para oferecer instalações e habitação social acessíveis para todos, para compra ou aluguer.
Reduzir hipotecas totais (?) e reembolsos (?) para níveis acessíveis, que reflictam o custo real das propriedades, e tornar ilegais despejos de famílias com base na incapacidade de pagamento.
2 - Tributar os gananciosos e não os necessitados
A Irlanda não é um país pobre. Enormes quantidades de riqueza foram gerados durante o boom. O problema é que a riqueza está nas mãos de uma minoria riquíssima. Rejeitamos completamente a noção de que toda esta riqueza desapareceu repentinamente. Muitas empresas, especialmente multinacionais, continuam a ser rentáveis.
A ULA propõe um sistema de impostos progressivos, onde os lucros enormes realizados na Irlanda por algumas corporações representariam um aumento significativo que, juntamente com um um imposto de renda progressivo mudaria drasticamente a carga fiscal dos trabalhadores para as grandes empresas e para os ricos.
Exigimos igualmente um imposto sobre a riqueza do património dos ricos, o aumento no imposto sobre ganhos de capital e um fim a todas as fugas fiscais para os ricos.
Opomo-nos a toda a discrição e impostos duplos (??), incluindo taxas de lixo e planos para introduzir tarifas de água, um imposto sobre a propriedade, ou um "imposto sobre o agregado familiar". Somos contra a inclusão de quem aufere baixos salários na tax net (??)
3 - Acabar com a crise do emprego
A ULA condena o fracasso total do governo e do sector no mantimento ou criação de empregos. As suas políticas são deflaccionárias e estão a piorar a crise do emprego.
Apelamos a um programa de desenvolvimento social real que possa criar centenas de milhares de postos de trabalho na construção de infra-estruturas necessárias, como sejam os transportes públicos, energias renováveis, banda larga, creches, escolas, hospitais, centros de saúde e outras estruturas da comunidade.
Opomo-nos a planos de venda de empresas estatais. Em vez disso, essas empresas devem ser utilizadas como veículo de criação de emprego.
Acabar com a dependência do sector privado, utilizar a propriedade pública de recursos naturais e bancos para criar empregos lançando um programa estatal de desenvolvimento industrial e inovação para construir capacidade produtiva na economia. Tornar a Corrib Gas Fied pública.
Reduzir a jornada de trabalho sem perda de remuneração e criar dezenas de milhares de postos de trabalho, dividindo o trabalho.
Dizer não ao trabalho compulsivo para dole schemes ou falsos trabalhos (nota: dole scheme é, à imagem do proposto pelo PSD e CDS, uma espécie de trabalho comunitário em troca do RSI). Necessitamos de empregos reais e uma inversão de todos os cortes sociais e pagamentos de benefícios.
4 - Impedir os cortes, defender os serviços públicos
A ULA defende o fim dos lucros na Saúde. Defendemos um sistema de saúde devidamente apoiado em recursos públicos, gratuito nos pontos de acesso e pago através de um sistema de impostos progressivos. Acabar a privatização dos serviços de saúde e os subsídios à saúde privada. Não aos hospitais privados em terrenos de hospitais públicos.
Exigimos um financiamento estatal adequado para um sistema de educação democraticamente gerida e secular, gratuito para todos desde a infância à universidade. Aumentar o número de professores para reduzir o tamanho das turmas e cuidados especiais e assistência no idioma, para que todas necessidades das crianças sejam atendidas. Fim dos subsídios às escolas privadas. Não à reintrodução de third level fees (??), pelo pagamento, aos estudantes, de bolsas.
Não aos cortes nas prestações sociais e pensões, e não aos cortes, tributação ou utilização de testes para obtenção do abono de família.
Por uma campanha de massa pelo movimento sindical e das comunidades para reverter os cortes nos serviços públicos.
Queremos uma reforma real dos nossos serviços públicos. É tempo de parar de copiar as falhas das práticas do sector privado. Queremos o fim dos salários inflaccionados, bónus e prémios dos altos funcionários públicos e políticos. Queremos um tecto nos salários e escrutínio público da despesa pública. Os serviços públicos deveriam ser administrados democraticamente com a plena participação dos trabalhadores, dos utilizadores dos serviços e da comunidade em geral.
5 - Igualdade para todos
A ULA apoia a igualdade para todos, pela eliminação de todas as formas de discriminação baseada no sexo, raça, nacionalidade, religião, orientação sexual, deficiência ou idade.
Defendemos uma campanha por parte dos sindicatos, no sentido de todos os trabalhadores se sindicalizarem, e para o direito legal de reconhecimento dos sindicatos. (??)
Acabar com todas as leis anti-imigração e contra os refugiados (??). Dar o direito ao trabalho por parte dos refugiados, e, a ambos, todos os direitos laborais de que usufruem os outros trabalhadores, de modo a ajudar a combater (??)
Somos pela plena igualdade para lésbicas, gays, bissexuais e transexuais, incluindo o direito de casar (??)
6 - Proteger o ambiente
Apesar da retórica, a destruição ambiental continua em ritmo acelerado. O Estado deve investir massivamente em energias renováveis. Através da propriedade pública e planeamento democrático, a economia pode ser direccionada para a sustentabilidade.
Precisamos de uma verdadeira reforma do nosso sistema de planeamento, de modo que as necessidades das pessoas e a protecção do ambiente venham antes dos lucros dos promotores dos projectos. Apelamos a um grande investimento em equipamentos colectivos, gestão de resíduos, reciclagem e transportes públicos.
Opomo-nos à incineração como solução para o problema dos resíduos, devido aos riscos sérios que representam para a saúde. Propomos um plano de gestão integrada de resíduos adequada, incluindo uma redução drástica da embalagem, combinada com uma abordagem séria para a reciclagem e compostagem.
7 - Construir uma verdadeira alternativa de esquerda em Portugal e na Europa
A formação da ULA é parte de um processo de dimensão europeia e, internacionalmente, do desenvolvimento de movimentos e organizações que combatem ataques aos trabalhadores, aos desempregados e aos pobres, pela luta de uma nova visão de sociedade.
Opomo-nos ao diktat da União Europeia e as suas políticas neoliberais de redução de despesa pública e promoção da austeridade. As políticas de dirigir os gastos públicos para cumprir metas da UE destruirá emprego e levará a miséria aos trabalhadores, desempregados e pobres. Os trabalhadores não criaram a dívida e não devem pagá-la.
Estamos comprometidos com a construção da solidariedade com os trabalhadores de toda a Europa para forjar uma nova direcção que coloca as necessidades dos trabalhadores e dos desempregados antes da ganância dos especuladores.
Uma parte importante do processo é a necessidade urgente de recuperar e reconstruir os sindicatos, e mobilizar o poder dos trabalhadores através de acção de massas. A abordagem da Parceria Social (nota: acordos trienais na Irlanda, negociados entre patronato, governo e sindicatos) deixou os trabalhadores indefesos e levou a uma transferência maciça de riqueza dos trabalhadores para os empregadores, por isso deve ser descartada.
Os nossos deputados eleitos darão total apoio aos sindicatos e trabalhadores que se oponham ao acordo Croke Park e usará o Dail (parlamento) para levantar os problemas reais que afectam os trabalhadores comuns.
E não se esqueçam de publicar notícias sobre o lançamento da aliança, já amanhã.
Caro Anónimo,
vou ver se conseguimos resolver as questões de terminologia técnica que indicas e publicar o texto da plataforma como post.
Não queres que o teu nome seja mencionado como tradutor e autor da proposta de publicação?
Podes sempre contactar comigo por mail: miguelserraspereira@sapo.pt
Obrigado e abraço cordial
msp
Dispenso a publicação do meu nome, em troca de um lugar de assessor com salário chorudo, assim que a plataforma triunfar.
Nota que deve haver alguns erros para além dos termos técnicos. Abraço
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