A armação das racionalizações e das justificações da 'ciência económica' ruiu sob os golpes dos melhores representantes dessa mesma 'ciência' ao longo da década 1930-1940 (Sraffa, Robinson, Chamberlin, Kahn, Keynes, Kalecki, Schackle e vários outros) […] A ['ciência económica'] nada tem a dizer sobre a repartição do rendimento nacional. Nunca poderá explicar, e menos ainda justificar, a diferenciação dos salários e dos rendimentos. Tem de reconhecer que não há, espontaneamente, equilíbrio macro-económico e pleno emprego sob o capitalismo. […] Pressupõe - como Marx - que é possível uma imputação rigorosa do produto aos diferentes "factores" e "unidades" de produção - quando essa ideia é estritamente desprovida de sentido, o que destrói toda a base para uma diferenciação dos rendimentos, que não seja a das situações adquiridas e das relações de força (que regulam, objectivamente, a actual repartição do e dos rendimentos).
[…]
Não é concebível que [uma sociedade autónoma] institua o autogoverno das colectividades […] e que o exclua nas colectividades de produção [… que exclua] a realização da democracia no domínio em que os indivíduos passam metade do tempo da sua vida desperta.
[…]
Devemos dizê-lo mais claramente ainda: o preço a pagar pela liberdade é a destruição do económico como valor central e, de facto, único. […] Quem pode crer que a destruição da Terra poderá continuar por mais um século ao ritmo actual? Quem não vê que essa destruição seria ainda mais acelerada se os países pobres se industrializassem? E que fará o regime quando deixar de poder conter as populações fornecendo-lhes constantemente novos gadgets?
Se o resto da humanidade tiver de sair da sua miséria insuportável, e se a humanidade inteira quiser sobreviver neste planeta num steady and sustainable state, será necessário aceitarmos uma gestão de bom pai de família dos recursos do planeta, um controle radical da tecnologia e da produção, uma vida frugal. […] para assentar as ideias, podemos dizer que já seria bastante bom que pudéssemos garantir 'indefinidamente' a todos os habitantes da Terra o 'nível de vida' dos países ricos em 1929.
O que pode ser imposto por um regime neofascista; mas pode ser também livremente feito pela colectividade humana, organizada democraticamente […] abolindo o papel monstruoso da economia como fim e voltando a pô-la no seu lugar adequado, de simples meio da vida humana. Independentemente de muitas outras considerações […], é nesta perspectiva, e como momento desta transformação de valores, que a igualdade dos salários e dos rendimentos surge como um aspecto essencial.
Cornelius Castoriadis, "Fait et à faire" [1989], em Fait et à faire. Les carrefours du labyrinthe V, Paris, Seuil, 1997.
1 comentários:
Quadra que tem tanto de " infâme hipocrisia " como de sublime mensagem revolucionária, eis, caro MS. Pereira, o meu postal de " Boas Festas " para todos os homens e mulheres de boa-vontade com desejo e audácia...para transformar o Mundo !
" It has recently become almost a fad to describe the inconsistencies of the labour movement as a tragic
contradiction between means and ends.
However such inconsistency does not exist. Socialism has not been the desired " end " of the old labour movement, it was merely a term employed to hide an entirely different objective, which was political power within a society based on rulers and ruled for a share in the created surplus valve. This was the end that determined the means.
The means-and-ends problem is that of ideology and reality based on class relations in society.
However, the problem is artificial because it cannot be solved without dissolving the class relations.
It is also meaningless, as it exists only in thought; no such contradiction exists in actuality.
(...) When actions do not correspond to proclaimed ends, it is only because those ends really are not fought for, these apparent ends, instead , reflect a dissatisfaction unable to turn to action, or a desire to conceal the real ends ".( By Paul Mattick). Égalité et Liberté !. Niet
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