20/12/10

Só nos faltava a parábola do banqueiro divinal

De quem? Claro que do Prof Neves:

- Tudo o que tu tens, do teu cérebro à tua mulher, passando pelo sistema solar e o teu emprego, não é, nem nunca foi, teu. É do seu verdadeiro dono e foi-te confiado durante um bocadinho de tempo. Mais: como sabes bem, não se trata de um único empréstimo feito ao nascer que se paga na morte, porque estás permanentemente a receber novos benefícios. Mesmo que vás pagando os juros pontualmente, a tua dívida vital aumenta todos os dias exponencialmente. Pior de tudo, a única forma de pagar os juros é com a própria dívida, porque, se pensares bem, vês que nada tens de teu. Tudo depende de Outro.

- Por isso, a questão central da vida - continuou o homem - não é cumprir regras, ser bonzinho, preocupar-se com os outros. É ser realista e compreender que devemos tudo. Tudo o que somos e temos, devemo-lo a Outrem. A única forma verdadeira de viver é numa total e profunda dependência deste Deus que nos dá tudo. É isso que é ser religioso. Por isso somos bons. Os que vêem a religião como um conjunto de deveres, um código moral ou ritos, costumes, amizades são piores que os ateus honestos. Foi com esses que Ele mais discutiu. Nunca ouviste dizer que antes de tudo deves "amar a Deus sobre todas as coisas"? Amar! Amar mesmo! E sobre todas as coisas. Onde é que leste que bastava "amar o próximo como a si mesmo"? O problema central da vida é a dívida absoluta, esmagadora, totalitária que temos perante o banco divino. Que, felizmente, nos ama mais a nós que nós próprios.

(publicado também aqui)

1 comentários:

joão viegas disse...

Ola,

Que pena os textos de opinião servirem apenas para nutrir conversas de café onde se marcam fronteiras entre sportinguistas e benfiquistas.

Não fosse assim, e leriamos neste texto, ainda que assinado por quem o assinou, apenas aquilo que ele diz. Desenganem-se : não é proselitismo, nem tem nada a ver. Dirige-se principalmente aos cristãos. Mas valeria, com uma ou outra ligeiras adaptações, também para muitos ateus, e provavelmente para muitos adeptos de outros credos.

O texto lembra o obvio, mas também o esquecido : o verdadeiro escândalo que o critianismo denunciou(como muitos outros ismos com a mesma inspiração, incluindo algumas formas de ateismo) consistiu em demonstrar que a raiz do mal, e também dos males da sociedade, sempre teve um nome : individualismo.

Não se trata, portanto, de apresentar uma conta de banco. Nem de perto nem de longe.

E reparem, por favor, que o texto de César das Neves é expressamente dirigido CONTRA os moralistas...

O homem diz sobejos disparates nos seus outros textos para ser poupado quando escreve alguma coisa de jeito...

De jeito e até, tanto quanto julgo saber, um bocado de esquerda (so não o é a maiusucula em "Outrem")...