«As possibilidades de sobrevivência mostraram-se brutalmente dependentes do posto ocupado», escreveu um historiador britânico a respeito do que sucedeu nos campos de prisioneiros aos mais de 90.000 militares do Terceiro Reich capturados no final da batalha de Stalingrado. «Morreram mais de 95% dos soldados e sargentos, 55% dos oficiais subalternos e apenas 5% dos oficiais superiores. […] Todavia, o tratamento privilegiado concedido aos generais constitui um testemunho revelador da noção de hierarquia vigente na União Soviética».
Antony Beevor, Stalingrad, Londres, The Folio Society, 2010, pág. 374.
5 comentários:
E ainda dizem que nas guerras não há princípios. Mentira de brutos. Os senhores da guerra, de todos os lados e facções, nutrem um profundo respeito uns pelos outros.
Fico em ânsia para comprar a Arte da Guerra, do Sun Tzu, para aprender a ser um tipo muito inteligentemente mau, que acagace o próximo só com o olhar. Quando cultivar suficientemente o fdp que há em mim, então já posso ser um general que respeite outro general do exército que violou as mulheres e crianças do meu país.
Vocês aqui no 31 da Armada (sic) estão um bocadinho primários no que toca à URSS, não?
Factores como a manutenção da hierarquia entre os prisioneiros -friso o entre - ou o tratamento dos generais como troféus e\ou repositórios de segredos militares não contam nada...
Isto para não falar dos números absolutos...É que parece que fazer generais prisioneiros deve ser o equivalente ao euromilhoes militar...esses 95 por cento são exactamente quantos? 500...não me parece!!!
O Tio José e o resto dos torcinários, amigos de sempre das hierarquias e das festas de elite aproveitaram para executar um povo que não o russo, assim como quem varia um pouco para não se aborrecer...
São tiradas destas que fazem muita malta que abomina a Coreia do Norte e afins, continuar a votar no PC. Porque para juntar o meu voto à visão histórica do PS, ia ter directamente com os originais.
Haja paciência
Marco,
o post, "roubado" ao Passa Palavra, limita-se a citar um historiador prestigiado e os seus cálculos (não tenho tempo de verificar, mas creio que foram entre 20 e 25 os generais alemães feitos prisioneiros).
Em segundo lugar, o problema não é os generais terem sido bem tratados, é a diferença de tratamento, e o facto de, quanto mais baixa a patente, maior ter sido a brutalidade usada para com os prisioneiros de guerra.
Por isso, tudo o que lhe posso dizer é que este seu comentário me parece menos pertinente do que seria de esperar.
Saudações igualitárias
msp
Miguel
Mas quem lhe garante que o factor determinante na sobrevivência dos prisioneiros é a brutalidade dos russos?
Eu não acho correcto fazer essa correspondência, assim, sem colocar outras variáveis em cima da mesa.
O principal incómodo que este e outros posts me causam é a persistência com que se acossa a via marxista-leninista para o comunismo, sem sequer relativizar os contextos históricos e geográficos onde esta se implantou.
E assim ir alimentando as divisões autofágicas da esquerda.
Na minha opinião a ruptura acritica com todo o legado comunista do século XX tem 3 consequências péssimas para a criação de uma verdadeira alternativa política aqui no burgo:
- permite ao PC refugiar-se no papel da virgem ofendida, assediada por uma santa aliança de "servidores do grande capital" e "pequeno burgueses de fachada socialista" ou outra expressão equivalente que agora esteja em uso na Soeiro. A julgar pelos sempre amigalhaços gregos «sectores oportunistas» também deve gozar de algum prestigio.
- Esquece o caracter reactivo de muitas das politicas da URSS. Nomeadamente da ingerencia internacional logo nos primeiros momentos da Revoluçao Russa ou da radicalização desencadeada pela derrota da "mui fragmentada ideologicamente e abandonada à sua sorte pelos «governos progressitas»" republica espanhola
- Esta é a visão possivelmente mais redutora da minha parte. Parece-me ainda que denegrir, sem mais, as experiências socialistas passadas alimenta um espirito de resistencia à mudança. De facto alguma da direita mais nervosa já anda por aí a escrevinhar: «tenham cuidado com o que desejam, a última vez que se afrontou o capitalismo, o que ganharam foi um banho de sangue»
Resumindo a minha posiçao nesta questão de forma indolor e até infantil:
" A única alternativa ao sistema actual que obteve algum sucesso foi o socialismo realmente existente. Apesar dos monstruosos erros e crimes que ocorreram nesse processo são inegaveis aspectos positivos directamente relacionados com a resposta à ameaça comunista por parte das elites ocidentais. Bora lá discutir como se reactiva a resistencia e a alternativa sem o fardo dos erros passados»
Saude e Liberdade
Caro Marco,
as condições impostas aos prisioneiros alemães tanto pela União Soviética como pelos governos aliados do Ocidente são uma página negra do imediato pós-guerra. A documentação histórica é abundante e dificilmente contestável. Assim, não percebo a que outras variáveis se refere você para explicar as taxas de mortalidade superiores verificadas nas fileiras hierarquicaqmente subordinadas.
Quanto ao resto, creio que há duas maneiras de encorajar a submissão ideológica à ordem estabelecida e de pintar como assustadora a perspectiva da sua transformação: uma é a indulgência na evocação dos regimes do que foi o "socialismo real", que equivale ao branqueamento de brutais ditadoras classistas, inigualitárias, policiais, exercidas não pelos trabalhadores, mas sobre eles e o conjunto das camadas populares; outra é apresentar como socialistas, progressistas, etc. - deixando agora de parte os factores geoestratégicos - esses regimes, e deixar pensar que o socialismo ou democracia por que lutamos é uma variante, mais bem conseguida, desses regimes. Estas duas maneiras são duas formas de apresentação de uma tese idêntica à que as oligarquias dominantes sustentam: a única alternativa à ordem actual das coisas é um regime do tipo "socialismo real" como o que conheceu a ex-URSS.
Por fim, justificar os "erros" do "socialismo real" pelas condições adversa,s ou pela necessidade de combater poderosos e pérfidos inimigos, é absolutamente inaceitável. Não é que as condições não tenham sido adversas ou que os inimigos não fossem poderosos e pérfidos. É que umas e outros serão sempre uma e outra coisa e que, se aceitarmos que a adversidade das condições ou a maldade e força dos inimigos, nos autorizam a pôr a acção democrática - gradualista ou de ruptura, pacífica ou violenta - entre parênteses e adoptar os modos de funcionamento e organização que pretendemos combater, estaremo,, afinal, a dizer que não há alternativa possível à dominação hierárquica e à "jaula de ferro" da sua economia.
Não lhe parece?
Cordiais saudações democráticas
msp
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