Ataques informáticos e partir vidros a bancos

Pacheco Pereira também escreve "legitimar esses ataques informáticos é a mesma coisa que justificar partir vidros a bancos numa manifestação selvagem".

Não que eu tenha alguma grande objecção de principio a partir vidros a bancos numa manifestação, mas a comparação não é correcta.

O que aconteceu à Visa, MasterCard, etc. foi, ao que consta, um ataque feito pelo método de inundar os sites das empresas alvos de tentativas de ligação, mensagens, etc. (em teoria até poderia ser feito se alguns milhões de pessoas abrissem o site da Visa nos seus computadores e começassem todas a fazer "F5" em cada segundo; na prática, terão sido usados programas que fazem isso tudo automático), tornado-os incapazes de dar resposta; no fundo, é como se uma carrada de gente começasse a telefonar constantemente para o Pacheco Pereira¨- isso tornaria impossivel alguém conseguir efectivamente telefonar-lhe.

Bem, e o que isso tem a ver com os vidros dos bancos? É que um ataque destes parece-me mais o equivalente, não a partir vidros de um banco, mas mais a uma carrada de gente entre pela agência do banco adentro, impedindo-o de funcionar; ou seja, um "denial of service" (pelo que sei) não é o equivalente a partir vidros, é o equivalente virtual de uma ocupação ou de um corte de estrada, ou da multidão sobre a linha de comboio. E isso muda alguma coisa, perguntarão alguns? Acho que sim - pelo menos a maior parte das pessoas costuma reagir muito pior a actos de violência (mesmo que só contra objectos) do que a ocupações e afins (se um grupo de manifestantes partir os vidros de um banco, muita gente, mesmo que concordem coma causa, dirão "vândalos - não é assim que se deve lutar"; pelo contrário, se entrarem pelo banco adentro e o ocuparem durante algumas horas, estou convencido que muita gente, mesmo que não concordem, não terão nenhuma reacção indignada).

Assim, a comparação/metáfora de JPP não está verdadeiramente a comparar situações equivalentes.