11/12/10

Ainda JMF e a WikiLeaks

José Manuel Fernandes:
De resto, com toda a franqueza, não vejo onde é que “os meios usados contra” a Wikileaks “violam e destroem a sociedade em que queremos viver”. Refere-se à prisão de Assange? Não estive nas camas em que ele se meteu na Suécia, mas não vejo motivos para não achar que os tribunais ingleses e suecos são capazes de julgar o caso com equilíbrio no quadro das respectivas legislações. Assange não é mais nem menos do que um político ou um actor metido no mesmo tipo de trapalhadas, pelo que não vejo razão para pôr-me já a acusar os juízes daqueles países. Veremos. Ou refere-se ao facto de a Wikileaks ter visto várias instituições negarem-lhe colaboração? Acho que essas organizações, da Amazon à MasterCard, têm esse direito, sobretudo se correrem o risco de ser processadas. Não duvido que foram pressionadas, mas o objecto dessas organizações, ao contrário da lógica das organizações jornalísticas, é o seu negócio, não a liberdade de informação. Porque, quanto a esta, e quanto às organizações jornalísticas, noto que têm actuado como deviam, sem cederem a pressões e tratando de uma forma genericamente correcta os documentos libertados pela Wikileaks. Ou será que se refere aos ataques informáticos aos sites da organização? Aí é capaz de ter razão, mas acho pouco para falarmos de “sociedade em risco”.
É curioso a dissonância cognitiva de JMF de palavra para palavra - primeiro faz uma lista de meios usados contra Assange e a WikiLeaks: prisão, fim fa colaboração da Amazon, MasterCard, etc.; e ataques informáticos contra a WikiLeaks. E, para justificar a atitude da Amazon e da MasterCard escreve "Acho que essas organizações, da Amazon à MasterCard, têm esse direito, sobretudo se correrem o risco de ser processadas. Não duvido que foram pressionadas...". Mas então assim já temos mais um meio que foi usado contra a WikiLeaks: as pressões e ameaças implicitas de processos contra a Amazon e afins; essas pressões não violarão a sociedade em que JMF quer viver?

Já agora, quando é que o JMF aprende a citar as suas fontes de forma a que os seus leitores possam apreciar o que diz no seu devido contexto? Quando refere que Assange pretende "destruir o governo invisível" não seria melhor linkar imediatamente para o texto onde ele diz isso (ou melhor, onde ele transcreve uma citação de Theodor Roosevelt dizendo isso), em vez de linkar para um texto que linka para um texto?

E quando diz que para a WikiLeaks "It is not our goal to achieve a more transparent society; it’s our goal to achieve a more just society", porque não linkar directamente para a entrevista em que Assange disse isso?
RS: I want to ask you a broader question, about the role of technology and the burgeoning world of social media. How does that affect the goal you're trying to achieve of more transparent and more open societies? I assume that enables what you're trying to do.

JA: Let me just talk about transparency for a moment. It is not our goal to achieve a more transparent society; it's our goal to achieve a more just society. And most of the times, transparency and openness tends to lead in that direction, because abusive plans or behavior get opposed, and so those organizations which tend to commit them are opposed before the plan's implemented, or it's an exposure or something previously done, the organization tends to lose...
Ou seja, a posição de Assange é que a virtude da transparência não está na transparência em si mesma, mas sim porque permite dar a conhecer os comportamentos e planos abusivos e assim as pessoas podem-se opor a esses planos e comportamentos. Bem, e o que tem esta posição de especial? Parece-me bastante parecido à posição que a imprensa costuma assumir, de que há informações que são de "interesse público" e outras não (exemplo: saber que um ministro planeia desviar bebés recem-nascidos dos hospitais e usá-los como combustível em centrais de co-inceneração seria uma informação a ser revelada; saber que um ministro gosta de vestir roupa interior feminina não).

2 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

Tu desculpa, miguel, mas não resisto. O JMF não esteve na cama com o Assange! Cá para mim, esta, sim, é a grande notícia. Vou publicá-la lá no outro tasco (este caso começa a ter demasiadas conotações sexuais é o que é - alguém que desenterre o Reich)

Anónimo disse...

Vou reproduzir um comentário que já coloquei noutra caixa: "Ocorreu-me uma ideia que joga muito contra a posição que tenho em relação ao caso wikileaks. Se o Estado (o meu patrão) decidisse tornar públicos todos os conteúdos a que acedo na internet, por exemplo blogs que leio e comento, e-mails que troco, eu não acharia provavelmente graça nenhuma. (De qualquer modo, não tenho dúvidas que essa informação estará acessível aos SIS... e quem é um indivíduo perigoso, o que não é o meu caso, tem possivelmente a vida muito controlada nesse sentido)"

E pegando no último parágrafo do texto do MM... o Estado pode achar relevante por exemplo tornar públicas as declarações do MM declarando-se anarquista, por isso perigoso para a ordem social e para o Estado de Direito. (Não é nada de outro mundo, a palavra "anarquista" adquiriu uma dimensão interessante durante a cimeira da NATO...)