11/12/10

Copy & paste: o líder da Wikileaks violou o Pacheco Pereira (para não falar do Fernandes)

Há um verso de um poeta alemão que diz: — Olha para as tuas convicções e vê: estão velhas. Os jornais que lemos também envelheceram, quando, como foi o caso, os deixamos de ler mesmo que por um breve período.
Como estão os comentadores, os críticos, os jornalistas. Ponto de exclamação. Como envelheceram mal. Mesmo os criadores. Mexia entrevista Miguel hífen Manso e explica-nos que o hífen é um pseudónimo literário. Mexia, velho, à conversa com Miguel-Manso. Mexia, o culto tolerante, com Miguel, à entrada do estrelato para que visivelmente ainda não está preparado. Pedaços da conversa:
“Podíamos por exemplo falar da sua poesia, arriscar aproximações parciais", diz Mexia, "como hermetismo ou imagismo", diz Mexia. Manso "contrapõe", diz Mexia. ”Acho que sou um poeta pop”, diz Manso. "Porquê pop", interroga Mexia. Miguel–Manso “meio encabulado”, diz Mexia, "diz apenas", diz Manso: “Um amigo disse-me e eu gostei”.
"E fica sorridente com a resposta", diz Mexia.
O i, levezinho, tem agora à escrita Inês Serra Lopes. É impossível ler Inês Serra Lopes sem ouvir Serras Lopes. A voz de Serras Lopes gruda-se às páginas do i, e como estas são poucas, empapa o jornal e cola-se nas mãos do incauto leitor.

Ainda no Público, Pulido Valente inquieta-se com a dificuldade que tem a direita portuguesa para se unir. VPV queria-os mais unidos, tipo União Nacional.
São José Almeida, uma excepção no panorama jornalístico, entusiasma-se com Carlos César. Como Mexia com hífenManso. Uma pessoa tem que se entusiasmar. Já dizia o Régio que em Portalegre, aos pés da estranha casa do Largo do Cemitério, frente aos ciprestes, se humanizam as coisas brutas e se têm tais criancices que é melhor ter pudor de as contar seja a quem for.
Segundo alguns o que caracteriza a cena actual é que deixámos de ter pudor. Contamo-nos a todos e contamos tudo. Uns por profissão e com o devido lucro. Outros por terapia. Outros na vertigem do tempo.
E queremos saber tudo. Ora isso é perigoso, como se sabe desde o Fausto, desde o paraíso perdido, desde a maçã, desde o pecado original. Deus sabe tudo. O Imperador sabe tudo. O Imperador e os Assessores. As Instituições responsáveis da Democracia parlamentar, diz Pacheco Pereira. Essas sabem tudo e sabem o que nós, a turba, nós a fonte da soberania, nós as massas votantes devemos saber. E ignorar.

Pacheco diz, sem originalidade, o que os colegas têm repetido ad nausea. As revelações da Wikileaks são um perigo para a nossa Sociedade. O líder da Wikileaks é um terrível anarquista.
Pacheco escreve isto depois de uma cansativa análise que devia ter como subtítulo “A actualidade de Marx”. Pago a 10 000 palavras, Pacheco recorre à sua memória de trabalho de Comunista primitivo: Marx, Hegel e a situação das classes proletarizadas na primeira revolução industrial. É como se o ouvíssemos a chamar por Stetson. Mas o que sai do chão que Pacheco remexe é o sacrossanto respeitinho pelos “mecanismos da democracia que implicam mediação, conhecimento, saber, especialização” quer dizer censura, acesso restrito, sigilo, classificação da realidade. Por quem? Pelos eleitos? Não, pelo Pacheco, pelos sábios conselheiros secretos, pelos que a si próprios se arrogaram o direito a decidir a verdade a que temos direito.
Pacheco, Fernandes, Valente, Mexia, eu estava quase morto. Mas mesmo do frio dos quartos dos lares ilegais me havia de levantar para vos dizer:
Somos todos Anarquistas Difusos e Comunistas Primitivos.
DAQUI, claro.

2 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Belíssimo desvio de post, brava camarada Ana.
Se o Luís Januário estivesse pelos ajustes, a minha proposta seria que formássemos uma frente de blogues com a divisa:

Somos todos Anarquistas Difusos e Comunistas Primitivos

Objecções?

miguel sp

Manuel Vilarinho Pires disse...

Se eu não considerasse a auto-citação um acto de onanismo vaidoso citar-me-ia a mim próprio quando vos disse o que penso que se devia fazer com as revelações da Wikileaks.
Que não é, obviamente, a definição do que deve ser mantido em segredo "pelos sábios conselheiros secretos, pelos que a si próprios se arrogaram o direito a decidir a verdade a que temos direito", mas sim a definição do que deve ser mantido em segredo através de uma reflexão democrática e transparente baseada no princípio de que a transparência é necessária à democracia, e que só em ciscunstâncias excepcionais, que deviam ser muito bem tipificadas, se deve prescindir dela, e com a consciência que poderão constituir oportunidades de capitalização do segredo público para conseguir benefícios privados.
E se isso fosse feito ganharíamos com estas revelações da Wikileaks, mesmo que venha a ser aniquilada...
Saudações democráticas e transparentes