16/12/10

Do "imaginário de anárquico infantilismo" promovido pelo Estado

Seguindo os links fornecidos pelo post da Ana, desemboco neste texto do João Lopes:

Há uma primeira interrogação que importa formular. E é dirigida, não ao WikiLeaks, mas a uma das formas mais correntes de tratamento jornalístico da sua existência. Dito de outro modo: existem, hoje em dia, formas de intervenção jornalística que promovem sistematicamente uma noção pueril, e puerilmente libertária, da informação. Segundo tal noção, informar seria colocar tudo a nu.

(…) Em boa verdade, a não ser no espaço específico da pornografia, ninguém alguma vez postulara uma tal reivindicação de totalidade (…)(e sabemos como muitas formas dominantes de jornalismo menosprezam as singularidades da escrita, apresentando-se como "naturais", quer dizer, tentando rasurar a especificidade de qualquer linguagem). Agora, vivemos num aquário de "transparência" dominado por esse jornalismo da totalidade, tendo a totalidade os contornos e os limites do seu próprio imaginário de anárquico infantilismo televisivo. Tal jornalismo, ao ver no WikiLeaks a promessa de um mundo apaziguado pela sua própria transparência, incorre numa responsabilidade central, com a qual, sintomaticamente, evita lidar. Ou seja: que fazer com o Estado — e a concepção do mundo que nele se exprima e transfigura — a partir do momento em que deixa de haver domínio específico do saber e da informação estatal?


Mas a resposta é simples: propor aos cidadãos comuns organizados que assumam o exercício — eminentemente formativo e civilizador — do poder político democrático, bem como o domínio do saber e da informação hoje formatados pelo modelo estatal que o João Lopes naturaliza e consagra. O que teria por efeito, entre outras coisas importantes, dissipar o "imaginário de anárquico infantilismo televisivo" induzido pela infantilização política hoje promovida, contra a exigente tradição civilizacional da cidadania,  como condição necessária de funcionamento da instituição estatal.

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