03/01/11

O impoluto que quer nascer segunda vez (em Belém)

Óscar Mascarenhas, no JN:

Existe uma senhora que canta fados e que, na sua inteira liberdade, decidiu apoiar a candidatura de Cavaco a Belém há cinco anos. Nada a dizer, gostos não se discutem.

Cavaco fê-la mandatária juvenil da sua candidatura. 'Nihil obstat.' Os candidatos escolhem mandatários, numa troca de honrarias: sente-se incensado o representado, ungido se sente o mandatado. É bonito.

Mas esta doce sinfonia de elegâncias e reverências é desafinada pelos ferrinhos do tinir de maravedis e dobrões que, neste caso, se ouve, quando se abre a celebérrima «página oficial» de Sua Excelência na Internet. Digitando o nome da fadista, ele aparece-nos DEZ vezes em outros tantos concertos «oferecidos» pela Presidência, na Índia, na Turquia, ou mesmo no sabe-se lá onde é Viana do Castelo!

A entusiasmada mandatária juvenil é, agora, paga pela Presidência para encantar convivas com a sua bonita voz e assustá-los com o seu desmedido contorcionismo de esgares de parto (é a minha opinião, a que também tenho direito!).

O assim-chamado «presidente de todos os portugueses» não é, pelo menos, de «todos os fadistas»: tem a sua favorita, a sua Salomé que, não recebendo cabeças em bandeja, se contenta com um simpático cheque.

Maravilhoso exemplo para a juventude sonhadora e idealista: apoia aquele, que ficas logo a ganhar! Faz pela vida, pá! É o toque de Midas de Cavaco: apareça quem tenha ficado mais pobre depois de o ter servido.

Nascer duas vezes... Vamos a isso! Não é tarde para integrarmos uma promissora Jota Cavaquista, que vêm aí mais cinco anos de prebendas. Nasçamos segunda vez para este horizonte de tilintante venalidade!

(publicado também aqui)

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