Todos nós sabemos que os clubes, consoante a sua dimensão, deviam centenas de milhares de contos. Isto muito antes do 25 de Abril. E se o problema se desnudou repentinamente isso se deve vai devendo, entre outras razões, à nacionalização da Banca e ao desaparecimento da cena nacional de alguns influentes homens de negócio do tempo da «outra senhora». Pois antes, e de um modo geral, havia grandes facilidades para descontos de letras, de livranças e doutros empréstimos a que os clubes recorriam para pagar ordenados ou quaisquer compromissos imediatos. A verdade é que essa época, de vivência fictícia dos clubes, feita de constantes «balões de oxigénio», já lá vai. A realidade tinha, tarde ou cedo, de se impor. E não me digam que não era visível que as contradições do sistema acabariam por ter mau fim.[...]
Quando eu denunciava abertamente, claramente, todo um estado de coisas relacionado com as pessoas que nessa altura, prepotentemente, haviam tomado atitudes drásticas – atitudes que se enquadravam dentro da vivência desportiva e política da altura – e mais não eram do que filhas de um monopolismo terrível que absorvia quase todas as actividades de uma cidade. Estou, é claro, a referir-me ao emigrado banqueiro Pinto de Magalhães, proprietário de bancos e agências, de múltiplas empresas e imóveis, de casas de penhores, etc., etc., que dispunha de tal força económica e política na capital do Norte que estou em crer que até os urinóis da Avenida dos Aliados lhe pertenciam. Enfim, escrevi sobre ele um longo relatório de factos. Mas tive a surpresa de verificar que as minhas palavras não poderiam vencer a muralha de silêncio que a imprensa criou em redor da dita personagem, considerada então «intocável».
"Pedroto entre o desporto e a política: «O futebol português deve enveredar pelo caminho da cogestão»”, Expresso, 25/04/1975, p.10
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