24/06/10

Um Desfile que faz hoje 65 anos de idade

“Estaline não sentia apenas desconfiança relativamente aos estrangeiros – tinha também ciúmes dos seus camaradas. Queria, em particular, impedir que os seus generais ficassem com os louros do êxito do Exército Vermelho durante a guerra. Desde a Conferência de Teerão, onde se apresentara em uniforme militar, que se esforçara para recuperar a sua imagem de génio militar que triunfara na guerra pela União Soviética. Foi uma representação que culminou dezoito meses depois, em Potsdam, quando Estaline surgiu resplandecente no trajo branco de Generalíssimo da União Soviética. Todavia, ele e os que lhe eram mais próximos conheciam a verdade. Não só a sua clarividência militar não vencera a guerra, como também só depois de ele passar a interferir menos nas decisões tácticas de pormenor dos seus generais é que o Exército Vermelho começara a sua caminhada para a vitória.”

“No desfile da Vitória soviético, realizado na Praça Vermelha a 24 de Junho de 1945, correu a notícia de que Estaline pretendia consolidar essa falsa impressão de brilhantismo militar recebendo pessoalmente, montado a cavalo, a continência das massas de soldados em formatura. Contudo, depois de cair do cavalo enquanto ensaiava para o desfile, fora obrigado a desistir da ideia. Daí que o marechal Zhukov tenha assumido a posição central em lugar dele e tenha cavalgado com confiança diante das tropas reunidas. «O Desfile da Vitória foi um acontecimento brilhante na vida da União Soviética», diz Svetlana Kazakova, que era então oficial de comunicações no quartel-general de Zhukov e conheceu pessoalmente o marechal. «Ainda vejo aquilo na minha imaginação. Estava um dia de Verão e chovia, mas a Praça Vermelha estava decorada com estandartes vermelhos. As pessoas exibiam medalhas e condecorações, e estas brilhavam tanto que a sua luz se reflectia por toda a praça. Quando os ponteiros do relógio se aproximaram das dez horas, toda a gente ficou em sentido e depois ouviram-se os carrilhões, os carrilhões do Kremlin, e nesse momento, Georgy Zhukov, três vezes herói da União Soviética, entrou na praça montado num cavalo branco. Apresentou-se com tanta elegância como quando era um jovem tenente.» Forçado a ficar apenas a olhar para a figura fascinante de Zhukov no seu cavalo a trote para cá e para lá, Estaline, como seria de esperar, sentiu a inveja a correr-lhe nas veias. Mais do que isso, observou Zhukov com um sentimento crescente de inquietação. Estaline, um ávido estudioso de história, estava bem ciente do enorme poder popular que podia gerar um general triunfante – não usara Napoleão as suas vitórias no campo de batalha para usurpar a Revolução Francesa e arrebatar o poder aos políticos?”

“Zhukov teria de pagar o preço da sua popularidade. E o pagamento iniciou-se na sequência da detenção, no começo de 1946, de Alexander Novikov, o comandante da Força Aérea soviética.”


(De “Segunda Guerra Mundial – À porta fechada, Estaline, os nazis e o Ocidente”, Laurence Rees, Edições Dom Quixote)

(publicado também aqui)

5 comentários:

Anónimo disse...

Tu és muita pequenino João Tunes.

Na celebração do desfile que marcou o triunfo da URSS sobre o nazi-fascismo vens com esta prosápia "anti" - mas o "anti" não é "antifascista"!

Mas é que este blog está um autêntico cano de esgoto de todas as taras ANTI-comunistas possíveis e imaginárias!

Porra pá! Que tal escreveres sobre a crise e o desemprego e sobre coisas que tenham menos idade e caruncho que tu e o José Estaline?

És pior do que um triste: és um desses idiotas úteis que o sistema muito agradece.

Anónimo disse...

Ainda por cima censuras comentários desfavoráveis! Grande estalinista que tu és.

Anónimo disse...

Este post consegue ser mais reaccionário que o público do Belmiro onde o autor se foi inspirar... Incrível!

Miguel Serras Pereira disse...

Anónimo & Anónimo & Anónimo:
compreende-se que quem escreve assim não dê a cara. Lamentável.

Mas vamos ao que interessa. Se há aqui algum argumento, esse é o seguinte a verdade histórica - que nenhum dos Anónimos contesta - pode ser inconveniente ao "antifascismo" e deve ser calada quando prejudica ou pode prejudicar a boa reputação do Partido ou direcção "revolucionária". Portanto, evocar a história do marechal que encabeçou o desfile da vitória cujo aniversário se comemora é fazer o jogo do fascismo, do grande capital e enfraquecer a vanguarda e consciência organizada dos trabalhadores e classes populares.
A lógica é a mesma - exactamente a mesma - que levou a hierarquia da Igreja Católica a esconder os casos de abuso de menores, a proteger os responsáveis pela sua comissão, a pretexto de, como disse um qualquer mebro do clero luso, salvar a honra da família - ou de, em versão mais elaborada, não causar escândalo que pudesse fazer perigar a fé do rebanho.
O problema é que, no caso que nos ocupa, é invocada, para justificar a censura da verdade histórica, o nome de um projecto que se propusera lutar contra redução dos trabalhadores e seres humanos em geral a rebanho governado por uma casta de pastores - o projecto da transformação socialista, necessariamente democrática, das instituições e dos modos de vida, que ninguém desfigura ou degrada mais do que - como lemos num poema de Sophia - os "novos ratos [que] mostrama a videz antiga".

msp

André Carapinha disse...

Os anónimos acima acham que é "reaccionário" lembrar a monstruosidade estalinista? Talvez "reaccionário" seja preferir não ver, não querer ver, ignorar deliberadamente a tradição da qual esse partido se reclama, não vá o castelo de cartas desabar, e acabar-se perdido no deserto, sem bússola.

Lamento, mas ser do PCP, quanto à tradição estalinista, não tem escolha para além destas: ou se é um monstro psicopata e, conhecendo o estalinismo, se o apoia (como o Vidal do 5 dias e certos dos seus comentadores de estimação), ou, e esta é a maioria dos casos, se ignora deliberadamente a história, não vão as nossas certezas ser questionadas, e acabarmos nus. A verdade pode ser dura, meus caros, mas não deixa nunca de ser a verdade, e é por definição superior em valor às ilusões, por mais doces que essas sejam.