23/06/10

A proibição da burka

A minha opinião sobre a burka é a mesma que sobre o consumo de heroína - acho que não tem jeito nenhum, mas se alguém a quer usar/consumir, o que é que eu tenho a ver com isso?

A respeito de alguns argumentos usados para justificar a proibição:

1 - "A burka é um simbolo da discriminação e submissão da mulher"

Como é dito aqui, exactamente, é "um simbolo". Não se devem proibir "simbolos" (apenas actos reais).

2 - "Algumas mulheres usam a burka porque são obrigadas pela família"

E outras não. E assim, vamos passar de uma situação em que há uma hipotética imposição para outra em que há uma imposição clara e explicita. Além disso, não é muito claro o que "obrigadas" quer dizer neste caso. Se estamos a falar de mulheres que sejam agredidas ou mesmo mortas pelos maridos ou familiares por não usarem a burka, isso já são crimes previstos por lei, e o que deve ser feito é fazer cumprir essas leis. Mas e os casos de mulheres que usam a burka porque senão "são marginalizadas pelos familias e pela comunidade, abandonadas pelos maridos, etc."? Será que isso deve contar como "obrigadas"? Sinceramente, acho que não, ainda mais tratando-se de mulheres vivendo num país ocidental, que não teriam dificuldade em arranjarem um circulo social alternativo caso fossem excluidas pela comunidade de origem. A única situação em que o argumento do "obrigadas" faz algum sentido será no caso de menores.

Além disso, a ideia que as mulheres usam burka obrigadas implica admitir que a comunidade muçulmana na Europa está cheia de homens bastante apegados às suas tradições de origem (e que por isso obrigam a mulher a usar a burka) e de mulheres culturalmente ocidentalizadas (e que por isso adorariam sair à rua sem burka) e que foram acabar casadas com esses homens tradicionalistas; como digo, é uma hipótese, mas acho muito mais provável que o grau de tradicionalismo entre homens e mulheres muçulmanas no Ocidente seja mais ou menos o mesmo e que a quantidade de homens que querem que a mulher use burka seja mais ou menos a mesma que a quantidade de mulheres que querem usar burka.

A única situação em que o argumento do "obrigadas" faz algum sentido será no caso de menores, em que podemos considerar que os pais obrigarem as filhas a usarem burkas ou niqabs é claramente "maus tratos a menores" (e se, não as obrigarem, mas as deixarem andar de burka por sua livre vontade, talvez possa ser considerado "negligência paternal" permitirem que as filhas andem com uma coisa dessas).

3 - "A comunicação não-verbal é um aspecto importante da comunicação, e a burka impede isso"

Acho que isso é irrelevante - mesmo que a comunicação não-verbal seja um aspecto importante da comunicação, se alguém não quer "comunicar não-verbalmente" comnosco, está no seu direito.

4- "as nossas jornalistas, quando vão a esses país têm que andar sempre tapadas!" - esse argumento é revelador porque mostra que muitos defensores da ilegalização do véu e afins o são, não por qualquer preocupação com o laicismo ou os direitos das mulheres, mas apenas por uma atitude de "estão cá, têm que seguir as nossas tradições!" - se essas pessoas tivessem nascido num país muçulmano com certeza seriam os maiores defensores da lei islâmica (e, quem sabe, da restauração do califado...). Já agora, diga-se que a analogia não é correcta - na maior parte dos paises muçulmanos não há nenhuma lei obrigando ao uso de véu (e é disso que se fala, de uma lei proibindo o uso da burka).

5 - "Andarem pessoas não identificadas na rua representa um problema de segurança"

Este parece-me ser o ponto mais sólido dos anti-burkistas.

Agora, vamos pensar na implementação da lei - se a polícia encontrar uma mulher usando burka, o que vai fazer? Obrigá-la a tirar a burka? Multá-la? Levá-la para a esquadra? Fazer de conta que não é nada? Algumas dessas opções parecem-me muito susceptíveis de criar choques de sensibilidades (já a última iria fazer o Estado em questão cair no rídiculo) - imagine-se que a policia encontra uma mulher velada na rua e ordena-lhe que retire o véu; para perceber o impacte disso, temos que nos lembrar que, para um(a) muçulmano(a) tradicionalista, isso era o equivalente, a, para um português, a policia barrar uma mulher na rua e ordenar-lhe que levantasse um pouco mais a saia.

5 comentários:

Ana Cristina Leonardo disse...

a burqa, ao contrário do véu ou do lenço (ainda há uns anos o lenço era um costume português...) não é um traje tradicional. é uma invenção de uns gajos enlouquecidos. pessoalmente, acho que o único motivo pelo qual se deve proibir a burqa é porque ela põe em causa a segurança das mulheres que a usam. tente atravessar uma rua de burqa e perceberá do que falo.

Anónimo disse...

Quanto a circular de cara integralmente coberta, isso não é já proibido por lei? Não é proibido andar por aí com máscaras de ski?

miguel disse...

Um dia falaremos sobre a prática religiosa da circuncisão masculina (proibida na URSS até meados dos anos 80 - um óbvio sinal do extinto totalitarismo).

Joana Lopes disse...

Devo dizer que acho um assunto sem grande interesse, porque, com proibição ou sem ela, essas mulheres serão inevitavelmente descriminadas, nos nossos países, se usarem burqa. Alguém acredita que um banco vai pôr alguma a atender clientes? Ou que outra será professora num liceu de Barcelona? Médica num hospital? Nem deviam, na minha opinião.
Talvez não valha a pena proibir (andem como quiserem, isolem-se se isso lhes dá gozo), mas é um disparate e não sou muito dada a grande respeito por multiculturalismos deste tipo…
Para além do perigo apontado pela Ana Cristina, claro…

Anónimo disse...

Gajas loucas, pois…

São as que têm que carregar as diásporas, por ódios sensoriais, e outros ais que tais, pintando as burcas de fomes várias, em superiores prazeres de manjedouras.

Ai Cristina, Cristina, a tua “nudez”, arrepia ( bem mais ) a perigosidade de qualquer estrada…