A crise económica e financeira, a degradação política e social e o aviltamento das lideranças partidárias empurram muitos cidadãos para a desvalorização da democracia e para o transbordo das margens institucionais do regime, exigindo, antes, soluções fortes, uns de punho fechado e outros com a palma da mão estendida, ambos rivais mas ambos convergindo na pressa em verem a democracia e as liberdades serem suficientemente desvalorizadas pela inépcia de governantes incompetentes, coleccionando e pondo a render juros os mais que justos descontentamentos sociais. Foi sempre assim quando se chega a um ponto em que a democracia não enche barriga.
Vasco da Graça Moura terá direito a ser considerado como o intelectual mais orgânico e mais oportunista do reaccionarismo laranja. E paga com fogosidade escrita as sinecuras com que sempre cobrou as suas fidelidades calculadas. Não se esqueceu de agradecer a Durão Barroso a misericórdia de um lugar de deputado europeu; seguiu Manuela Ferreira Leite como um pajem das letras e das crónicas; insultou os eleitores portugueses pelas suas últimas escolhas que não premiaram as suas (dele); tendo cometido a gaffe de, no afã de entronar Rangel, dizer que a eleição de Passos Coelho seria uma desgraça para o PSD, rapidamente meteu essa viola no saco; agora agarra-se a Cavaco como um partigiani sidonista.
Enquanto os leninistas dúplices salivam pela sempre eminente derrocada do sistema capitalista que engula a democracia portuguesa, cumprindo-se assim e postumamente a profecia de Cunhal de que em Portugal não é possível existir uma democracia burguesa, Vasco – claramente – e outros - pela surdina – , olham para Belém com a esperança dos neo-sidonistas, mostrando já sinais de impaciência:
Enxofrado fico eu, por o Presidente da República ainda não ter posto esta gente no olho da rua.
(publicado também aqui)
30/06/10
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