15/06/10

Olá Flandres!

1. Este post da Joana Lopes, muito interessante enquanto contributo para o enquadramento das questões nacional e eleitoral na Bélgica, com a vantagem considerável de vir de alguém que conheceu vivendo o “terreno”, como comentário (qualidade adicional, mas qualidade, que foi assumida) a um meu post, é uma lamentável batotice. Eu não generalizei. É que nem uma única vez referi os “flamengos” (pois se até muitos foram os flamengos que votaram no PS Belga!), mas sempre, sempre, ao “chauvinismo flamengo”. E como a batotas não dou corda, a querela, esta querela, para mim, morre aqui. Nem com a melhor música do Brel volto a ela.

2. Evidentemente, como assinalaram outros, e bem, particularmente o Miguel Madeira, Bart De Wever e o N-Va, não são a ala mais extrema do nacionalismo radical flamengo, havendo muito pior. E acresce que o partido mais extremista até perdeu votos e expressão, provavelmente sofrendo de transferência eleitoral para o N-Va. Mas como o partido “flamengo” mais penalizado foi o Partido Democrata Cristão em perda de votos para o N-Va, o que se verificou foi uma concentração “útil” (e repleta de heterodoxias) das alas mais chauvinistas e mais conservadoras, entre o eleitorado flamengo, no N-Va (agora a assumir um papel “frentista”). O que demonstra um nível preocupante de concertação e duplicidade de ímpetos. E, no meu ponto de vista, um extremismo camaleónico é mil vezes mais perigoso que um extremismo fardado e com braçadeira.

3. Ao contrário do Miguel Serras Pereira, julgando que entendi o que este meu amigo costuma defender, não tenho nojo ideológico ou doutrinário perante as manifestações nacionalistas e compreendo-as com toda a tolerância enquanto reacções a agregações impostas e mal resolvidas. O que o tratado de Versailles fez ao impor a Checoslováquia e a Jugoslávia, o que a URSS fez ao impor o fim imperial das nacionalidades, o que Franco fez com as identidades basca e catalã, o que Salazar tentou fazer com o Portugal “do Minho a Timor”, foi adiarem e interiorizarem ressentimentos, acumulando-os e agudizando-os, gerando várias situações de “não retorno”. A fragmentação da URSS e da Jugoslávia, a separação “de veludo” entre checos e eslovacos, os “problemas” corso, basco, catalão e flamengo, enquanto reacções a problemas não resolvidos, integro-os na categoria dos impulsos populares positivos e saudáveis. O que não dispensa a responsabilidade nos actos e nas bandeiras erguidas. O pior, nestes casos, é a contemporização com os independentismos de fachada (e aqui entra o bailinho da Madeira), cedendo-se à chantagem da ameaça da fragmentação nacional com o anexo de, á pala, se extorquirem fundos ao todo nacional. É nesta base que, agora, digo: Olá Flandres!

(publicado também aqui)

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