08/06/10

A classe operária ao poder

Um jogador útil porque eficaz e polivalente mas que raramente é brilhante, está destinado a servir assim. No Benfica deste ano, foi pau para quase toda a obra, reserva de cimento para tapar buracos, sem nunca ter direito ao epíteto de craque ou sequer de candidato a artista. Mas foi, seguramente e em balanço final, um dos que mais mereceu colocar a faixa de campeão a tiracolo. A não convocação de Ruben Amorim (a par de João Moutinho e Carlos Martins) para os seleccionados para o Mundial foi uma das provas maiores dos preconceitos que compõem a miopia “british” de Mr. Queiroz. Pelos imponderáveis, como é sina sua, Ruben Amorim vai tapar mais um “buraco”, agora na Selecção. Por razões infortunadas, vestindo o seu fato-macaco para substituir o brilho das lantejoulas do indiscutível artista Nani, cuja lamentável ausência forçada pode inclusive comprometer as aspirações maiores de Portugal neste Mundial, isto se forem os artistas a decidi-lo (Mourinho já demonstrou que nem sempre é assim).

Alcunharam de "navegadores" esta equipa nacional da bola, num toque cultural "cavaquista" que casa bem com Mr. Queiroz, sobretudo quando este provinciano cosmoplita não tem parado de promover músicas anglófilas para que o povo, todo ele perito em "inglês técnico" aprendido nos domingos de osmose com o primeiro-ministro, as cante de cor e salteado enquanto apoia a Selecção. Se é assim que assim seja. E que o valente e porfiado grumete Ruben Amorim, marinheiro do convés, demonstre que nem todos os imediatos vestidos de gala fazem uma tripulação. É o que nos resta. Porque a esperança traduz-se sempre por "terra à vista".

(também publicado aqui)

4 comentários:

LAM disse...

Nada contra o rapaz Ruben Amorim. Concordo até na sua utilidade, que a polivalência de funções num jogo lhe podem dar. No entanto serve (tem servido) para isso mesmo, tapar uns buracos. Nada mais do que isso e, caso houvesse 2 bons jogadores para cada posição, não haveria razões para a sua chamada.
Mesmo assim (para já) não acredito que alguma vez venha a ser chamado a entrar: vai ser mais um para não deixar um talher vago à mesa.

João Tunes disse...

Ora, eu a falar da importância da ascensão do proletariado e vc a dar-lhe com a mesa onde se senta a aristocracia da burguesia...

Os Irmãos Marx nos valham!

LAM disse...

"ascensão do proletariado"? com base num jogador da bola de um grande clube profissional?
Ora bolas, afinal a metáfora tinha as pernas mais compridas do que imaginei. Isso já nem é uma imagem, é um filme completo.

Continue, o céu é o limite.

João Tunes disse...

Vc, LAM, mesmo quando se ri deve ser muito sisudo...

Descontraia.