É mais que evidente a pluralidade política e ideológica entre os autores deste blogue colectivo. Para os autores, isso não é um problema e muito menos um incómodo mas antes um acicate e um prazer. Assim seja também para os visitantes que se saturaram ou dispensam as consultas de expressões consonantes onde se rema no mesmo rio e se passa debaixo das mesmas pontes. Tanto mais que julgo que um blogue está longe de ser (poder ser) um “órgão” político ou partidário ou centro de mobilização de hostes e doutrinas, mas antes espaços que podem úteis e eficazes para se pensar para outros e com outros, em “voz alta”.
Sobre este meu post, nos “comentários”, o Pedro Viana rebateu:
“Não percebo o que propõe que PCP e BE façam de diferente relativamente ao que têm feito. Concordo que é necessário "(...)novo fôlego estratégico que acelere a inteligência política de esquerda(...)", quer em termos programáticos quer na acção política. Mas não concordo com o que aparenta ser a defesa dum "cessar-fogo" perante o governo PS, centrando o "ataque" na Direita. Isso seria um suicídio político a curto-prazo, porque acima de tudo a população está farta deste governo e votará em quem dele se demarcar, seja de Direita ou de Esquerda. PCP e BE perderão votos para a Direita (e para a abstenção) se fôr perceptível um alinhamento com o governo, e entregarão a maioria absoluta de mão-beijada ao PSD. Ainda, a longo-prazo, a Esquerda em Portugal só terá hipótese de "impôr" o seu programa se aproveitar esta janela de oportunidade para destruir qualquer hipótese do PS conseguir nova maioria absoluta no futuro, obrigando-o a virar à Esquerda e a necessitar de se coligar à Esquerda para governar.”
Para ajudar a clarificar o que pretendi dizer com o meu post (e que sublinha uma enorme diferença de apreciação política relativamente à posição expressa pelo Pedro Viana), trago para aqui a resposta que lhe dediquei na "caixa de comentários", deixando ao Pedro a liberdade de decidir se, pela sua parte, entende desenvolver os seus pontos de vista:
“Sei que o meu texto é "arriscado" mas, já bastando o que basta, não me acrescente o que não disse. Eu não propus tréguas algumas relativamente ao governo e às suas medidas. Nem sequer as pratico ou praticarei. O que disse, sujeitando-me ao contraditório, é que o "perigo principal de direita" se deslocou e que isso, para desgraça nossa mas enfrentável, deve levar a uma reelaboração estratégica na esquerda que passa pela "recuperação política" do eleitorado de esquerda que vota PS. Em vez da fixação anti-PS (metendo-o todo no mesmo saco) e do "quanto pior, melhor". Naturalmente, esta perspectiva não casa com a obsessão em "destruir qualquer hipótese do PS conseguir nova maioria absoluta no futuro", até porque, em condições normais, as legislativas não são as próximas eleições. Antes, há as presidenciais e Manuel Alegre é um dos candidatos.”
19/06/10
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4 comentários:
Existe uma questão a ser clarificada: qual a posição política dessa "esquerda do PS"? Quais os seus ideais políticos? Porque se temos esse eleitorado com o farol da social-democracia e a sua meia-dúzia de pilares incompatíveis no quadro actual da União Europeia, voltamos ao ponto de partida: porque votam então no PS?
J. Tunes, prezado blogger: Como sou dos que vivem o desafio de que " ninguém consegue paralizar os efeitos da Luta de Classes ",princípio comum a Trotski, V. Serge e R. Luxemburg ou, nos nossos dias,Castoriadis, Negri/Hardt e Badiou entre outros, aqui me posiciono para comentar o seu post,como sempre polémico e objectivo, assertivo e dialogante.E, como ando nas águas dos libertários, a sério,não posso deixar de lhe endereçar a exortação suprema de Serge: " Os libertários devem estar sempre de alma e coração, aconteça o que acontecer, com a Revolução, sem o que serão nulos e perder-se-ão...". O que propõe, pois, o J. Tunes, face ao desafio invocado pelo P. Viana - que reitera parte subtancial do seu exposto no post primeiro em debate - sobre a urgência de " um novo fôlego estratégico que acelere a inteligência política de esquerda, quer em termos programáticos quer na acção política "? Ao contrário de Pedro Viana, João Tunes acena com o realismo sensato de uma mirífica hipótese de vitória presidencial de Manuel Alegre. Qual " varinha mágica " que irá varrer do PS os degenerados e insensatos da geração Sócrates! Ponto de vista que tem o mérito de ir ao arrepio de todas as sondagens e índices de racionalidade política objectiva. Teremos como dizem Hardt/Negri, necessidade de elaborar uma nova ciência(política)- uma anti-ciência, neste caso política hegemónica? Para ir mais ao fundo da questão, entende que a " ausência de tréguas " para com o Governo e aparelho do PS justificam o apoio a uma candidatura multi-classista e, vincadamente, com traços caudilhistas "light", como a apresentada por M. Alegre? Política do " mal menor"? Estaremos condenados a deixar de sonhar?Defender a revolução política -mesmo se ética e cultivada como a incarnada por M. Alegre -prioritária à Revolução Social? Niet
Olá Fernando, boa noite.
A análise das motivações de voto do eleitorado, muito menos caso a caso, ultrapassa-me, não lhe chego e nunca chegarei lá. Seja no PS ou onde for. Porque, segundo o princípio "um homem, um voto", não é o processo de decisão mas esta mesma que conta. E, no final, as individualidades votantes perdem-se e contam-se os resultados globais, o que cada partido amealhou. Mais que certo é que as motivações dos votos até num mesmo partido nunca são homogéneas. E, sendo assim, batatas para a genealogia dos votos.
Os vários partidos de esquerda (a "verdadeira" - o BE e o PCP, mais a "falsa", o PS), após os actos eleitorais unem-se sempre, mas sempre, frugal e instantaneamente, no balanço dos resultados, a contabilizar para a ESQUERDA, os votos somados PS-BE-PCP. E a DIREITA concorda e soma para si os votos recolhidos pelo PSD e pelo PP, pedindo meças de comparação ao somatório PS-BE-PCP. Todos, sem nojos nem condicionalismos.
Deixemos a Direita e os seus critérios e interesses. Pela Esquerda, a batota começa, para todos, no dia seguinte ao dia eleitoral (bem perto da meia-noite eleitoral): o PS assume-se como "esquerda responsável" e sacode a "esquerda de protesto"; a "esquerda da esquerda" começa de imediato a debitar a música do "PS com política de direita". E os sectarismos preenchem depois, em condições normais, uma legislatura, baralhando as contabilidades iniciais entre esquerda e direita.
No meu ponto de vista, há aqui demasiadas e demasiadamente manipulações e conveniências (nas quais, o eleitorado é o menos responsável). Correndo o risco de se chegar à conclusão que afinal o "eleitorado de direita" é maioritário em Portugal, e a verdade deve encarar-se mesmo que sob a forma de contrariedade, devia apurar-se uma quota, cientificamente apurada, que permitisse concluir-se qual a percentagem de votos no PS são de "esquerda" e os que são de "direita" para se acabar com as manipulações e enganos. E aceito que, nesta sondagem científica, se siga a sugestão do perspicaz Fernando, obrigando ao eleitor que meta a cruz no PS a que meta uma cruz segunda à pergunta "julga o farol da social-democracia e a sua meia-dúzia de pilares compatíveis ou incompatíveis no quadro actual da União Europeia?". Obviamente que, por coerência, o voto na CDU devia desdobrar-se em votos no PCP e no PEV (o maior "mistério" da esquerda ainda é saber-se quanto vale o PEV e a legitimidade eleitoral em que assenta o seu direito a ter dois deputados na AR). Etc.
Senhor J. Tunes: Eu bem tinha razão em citar o Serge...O Senhor- vá-se lá saber porquê...-evitou responder ao meu comentário.Niet
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