02/07/10

Ainda sobre o nacionalismo transnacional tuga

Vou fazer um desenho para me explicar melhor para quem não conseguiu ou não quis entender o que escrevi antes sobre a trapalhada Vivo / PT / Telefónica.
Se “a utilização da Golden Share no chumbo da aquisição pela Telefónica da participação da PT na Vivo, confirma a necessidade de uma política que defenda os interesses e a economia nacional, que garanta um sector das telecomunicações eficiente, moderno e público, com custos acessíveis e como factor de desenvolvimento equilibrado do país”, e o conceito de “nacional”, “público” e “país” for transfronteiriço (isto é, aplicável aqui, no Japão, na Bielorússia e até no Brasil), o que temos, na questão da Vivo, é a disputa entre duas transnacionais (Telefónica, espanhola e PT, portuguesa) - numa típica disputa de rapina do “grande capital transnacional” - pela posse absoluta de uma empresa brasileira actuando no mercado e na economia do Brasil. E foi neste exactíssimo contexto que foi accionada a “golden share” que levantou, para gáudio das almas dos nossos egrégios avós, uma santa aliança nacionalista (tuga) e com passo acertado esquerda-direita. E, sobre a Vivo, o “nacional” e o “país” chama-se Brasil, só. Ou seja, o que esta brincadeira negocieira de neo-colonialismos peninsulares a representarem paródias de Tordesilhas está a pedir é que Lula se chateie e em nome dos “interesses e da economia nacional” (do Brasil), decida nacionalizar a Vivo. Com os adeptos das nacionalizações em todo o mundo a baterem-lhe palmas.

(publicado também aqui)

3 comentários:

Zé Neves disse...

nem mais!

António Fragoso disse...

A citação feita do comunicado do PCP é achamada citação feita por critérios de conveniência do blogger e nem sequer diz o que ele deduz.
Convirá ter em conta que, no referido comunicado, também se afirma:
«A operação que decorreu ao longo das últimas semanas em redor da Portugal Telecom - inserida no actual quadro de concentração e acumulação capitalista, com a movimentação de elevadas quantias nos mercados de capitais e que é um exemplo concreto dos efeitos da actual crise do capitalismo -, com a ameaça de aquisição pela Telefónica (espanhola) da participação da PT na Vivo (brasileira), tornou visível a actual sujeição dos interesses nacionais às aspirações de accionistas, especuladores e grupos económicos e o quanto perigosas podem ser as consequências para o nosso país do processo de privatização de empresas e sectores básicos e estratégicos que tem sido seguida por diferentes governos.A decisão do Governo, de dar orientação à CGD enquanto accionista e de utilizar a chamada Golden Share para impedir a concretização no imediato deste negócio não anula o facto da ausência de instrumentos nacionais para definir e concretizar uma estratégia para a PT de acordo com os interesses e necessidades do país, para proteger áreas e sectores decisivos para a investigação e desenvolvimento no plano das telecomunicações, para garantir e criar emprego com direitos, para criar riqueza e prestar serviços essenciais às populações e à nossa economia. »

João Tunes disse...

António Fragoso: O link está lá na citação e foi posto para ser seguido e proporcionar uma leitura integral (é o procedimento usual e curial nas citações).

E o seu acrescento não altera nada do essencial na tese que defendi: as posições "nacionalistas tugas" estão mal aplicadas (a não ser em termos de defesa do direito à rapina das transnacionais) num processo em que se decide a posse de uma empresa brasileira. Mesmo que, como é o caso, o "arco nacionalista" formado à volta da "golden share" na PT tenha abrangido Sócrates, o PS, o PCP, o BE, o PP e Manuel Alegre, cada qual com a sua matiz, mas objectivamente convergente. Nem sempre a quantidade se transforma em qualidade.