02/07/10
Da utilidade do anonimato
por
Luis Rainha
Tem andado por aí um arremedo de polémica em torno dos anónimos e do seu confortável cobertor. Esta pequena e ridícula guerra, muito a propósito do Abrantes e outros acólitos do quase-engenheiro, já tem um herói, ou, melhor dizendo, um mártir: o Valupi, do Aspirina B. O anónimo mais vaidoso da blogosfera acha que nem se pode linkar um seu post sem lhe referir o nick. Mais: o homem já se imagina – com inegável pundonor, é certo – vítima de um tal «ostracismo», condenado a um fado de adversidades: «Começa por se apagar o nome dos registos oficiais, depois riscam-se os baixos-relevos e acaba a partirem-se as estátuas?» Já imagino os noticiários com novas da demolição de estátuas valupianas no Afeganistão, na Bobadela e no Poço dos Negros.
Mas a estratégia de defesa do forte é simples e carregada de razão: afinal, que diferença faz alguém assinar um post como “Joaquim Silva”, “Valupi”, “Miguel Abrantes”, ou “Maradona”? «O anonimato é a situação em que alguém se furta à identificação, não a situação em que alguém se torna famoso num dado grupo precisamente por ter expressado facetas da sua identidade de forma constante, coerente e acessível à interacção com terceiros», garante-nos o bravo Valupi. Passe a gritante mitomania, o argumento até faz sentido.
Mas não por inteiro: quem escolhe não viver na blogosfera sob o nome por que é conhecido entre familiares, amigos ou colegas, continua a preservar uma cómoda zona de reserva. Não lhe chamaria cobardia; mas é certo que arriscarmo-nos a responder pelo que aqui escrevemos quando interpelados pelos habitantes da nossa esfera pessoal requer um outro tipo de atitude. Requer a coragem de assumir por inteiro as nossas postas: sem medo das reacções de clientes, de patrões, dos sogros.
Não é, de todo, a mesma coisa assinar como somos conhecidos fora deste pequeno mundo ou inventarmos uma personagem que aguenta com a canga da nossa “fama” ou do nosso opróbrio.
Note-se que nada tenho contra anónimos, tendo até cometido muita tropelia, incluindo livros, com outros nomes que não o meu. Mas subscrevo este texto com o nome que me identifica face a toda a gente que me conhece. Aqui, dispo as burqas. Quem prefere ficar dentro da sua, que o faça; mas é escusado armar-se em herói.
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2 comentários:
Totalmente de acordo.
Mas, nesta discussão, raramente se faz a distinção entre os anónimos-anónimos, que só serão identificáveis pelo IP e que nem sequer assumem uma personalidade permanente, e os anónimos sob pseudónimo, que apesar de tudo têm um nome permanente e são obrigados a uma certa permanência de personalidade - e dos quais mais ou menos pessoas acabam por saber o nome.
Acho portanto que há uma grande diferença entre quem dá o nome real, e os outros; mas também há essa diferença entre os anónimos «puros» de caixa de comentários e os bloguistas sob pseudónimo.
No que diz respeito a anónimos na blogosfera, parece-me que há uma grande diferença entre o Miguel Abrantes, que utiliza o pseudónimo com fins obscuros e com objectivos que todos sabemos quais são, e todos os outros, que usam o pseudónimo por uma ou outra razão.
Descobri-te hoje na tua nova casa. Custou mas foi.
Abraços
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