No prefácio à edição norte-americana do Anti-Édipo, de 1977, Michel Foucault procurou identificar as linhas de força daquilo a que chamou "uma vida não-fascista". Algumas das suas observações sobre o livro possuem uma espantosa capacidade de ressonância, nomeadamente à luz de debates mais recentes sobre a relação entre política, corpo, desejo e subjectividade.
O Anti-Édipo não é um Hegel pomposo. Penso que a melhor maneira de ler o Anti-Édipo é abordá-lo como uma “arte”, no sentido em que se fala de “arte erótica”, por exemplo. Apoiando-se sobre noções aparentemente abstratas de multiplicidades, de fluxo, de dispositivos e de acoplamentos, a análise da relação do desejo com a realidade e com a “máquina” capitalista contribui para responder a questões concretas. Questões que surgem menos do porque das coisas do que de seu como. Como introduzir o desejo no pensamento, no discurso, na acção? Como o desejo pode e deve desdobrar as suas forças na esfera do político e se intensificar no processo de reversão da ordem estabelecida? Ars erotica, ars theoretica, ars politica. Daí os três adversários aos quais o Anti-Édipo se encontra confrontado. Três adversários que não têm a mesma força, que representam graus diversos de ameaça, e que o livro combate por meios diferentes.
1) Os ascetas políticos, os militantes sombrios, os terroristas da teoria, esses que gostariam de preservar a ordem pura da política e do discurso político. Os burocratas da revolução e os funcionários da verdade.
2) Os lastimáveis técnicos do desejo - os psicanalistas e os semiólogos que registram cada signo e cada sintoma, e que gostariam de reduzir a organização múltipla do desejo à lei binária da estrutura e da falta.
3) Enfim, o inimigo maior, o adversário estratégico (embora a oposição do AntiÉdipo a seus outros inimigos constituam mais um engajamento político): o fascismo. E não somente o fascismo histórico de Hitler e de Mussolini - que tão bem souberam mobilizar e utilizar o desejo das massas -, mas o fascismo que está em nós todos, que martela nossos espíritos e nossas condutas quotidianas, o fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos explora.
1) Os ascetas políticos, os militantes sombrios, os terroristas da teoria, esses que gostariam de preservar a ordem pura da política e do discurso político. Os burocratas da revolução e os funcionários da verdade.
2) Os lastimáveis técnicos do desejo - os psicanalistas e os semiólogos que registram cada signo e cada sintoma, e que gostariam de reduzir a organização múltipla do desejo à lei binária da estrutura e da falta.
3) Enfim, o inimigo maior, o adversário estratégico (embora a oposição do AntiÉdipo a seus outros inimigos constituam mais um engajamento político): o fascismo. E não somente o fascismo histórico de Hitler e de Mussolini - que tão bem souberam mobilizar e utilizar o desejo das massas -, mas o fascismo que está em nós todos, que martela nossos espíritos e nossas condutas quotidianas, o fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos explora.
Michel Foucault, Introdução à vida não-fascista (PDF)
3 comentários:
caro ricardo noronha,
posso pilhar, sem qualquer problema, esse pdf do foucault e postar no meu blog (com as devidas referências ao vosso)?
um abraço
Sim Benjamin. Se calhar mais vale pôr a referência ao site onde está alojado e cujo link está no post.
Um abraço foucaultiano
Olá Ricardo,
O que mais será que pode ter em comum entre nós? sobrenome, Foucault, terrorismo, Big bands...por favor não me entenda mal, apenas me assustei com tantas semelhanças. Abraços. Caroline Noronha.
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