04/08/10

O formalismo foi por água abaixo

Ainda há uns dias, exigiam que nunca se mencionasse o nome do quase-engenheiro perto da palavra "Freeport", enquanto aquele não fosse acusado de alguma coisa em concreto. Ainda há umas horas, exultavam porque o homem fora "ilibado".
Agora, a obsessão com o funcionamento do sistema judicial evaporou-se como uma ressaca ante o poder do Gurosan. E as certezas absolutas irromperam pelas meninges inflamadas.
Sem qualquer prova, sentença, despacho ou resultado de inquérito, os acólitos já sabem mesmo que houve «atentados contra a Lei e a Justiça», que anda por aí uma «brutal manipulação da justiça» e que urge «bloquear este golpe estado em curso». O tempo de esperar pelos frutos do normal funcionamento do sistema já lá vai.

27 comentários:

Valupi disse...

Mas tu foste sempre assim sectário ou é um fenómeno recente? É que não me lembro de cegueira tamanha, como esta que agora exibes, "in illo tempore".

Luis Rainha disse...

A questão é simples: tu juras pela inocência de Sócrates, nunca a colocando sequer em dúvida. Eu desconfio do homem, mas nunca escrevi estar certo da sua culpa. Quem é o sectário, diz-me lá?

Valupi disse...

Bom, isto está rapidamente a descambar para um tourada à Vidal. Vejamos: pouco importa que o homem se chame Sócrates, mas importa muito - obviamente - que seja Primeiro-Ministro. O facto de se poder deitar abaixo um político, ou um Governo, recorrendo à calúnia e à violação da Constituição atinge-me como cidadão. Prejudica gravemente os meus interesses e os da comunidade. Contudo, mesmo que estivéssemos a discutir um processo acerca de um pastor ou do bêbado da aldeia, a minha posição seria igual: até ser considerado culpado, é inocente. Juro.

Miguel Serras Pereira disse...

Valupi

o papel de idiota útil do Vidal é efectivamente homólogo do seu. Ambos se prestam ao papel de bobos subalternos que dizem coisas que os responsáveis de uma ou outra corte gostam de ouvir, mas não lhes convém dizer nem assumir como posição oficial. A diferença é que um serve de cão de guarda (sem pseudónimo, é verdade, e diga-se em seu abono) a um núcleo de velhos estalinistas e seus "pioneiros" pueris, e outro ladra, rosna e apela à arruaça ao serviço de uma fracção de oligarcas mais ou menos recentes que subiram graças às posições ocupadas nas juventudes partidárias e na burocracia da "organização" partidária ou governamental. São as duas faces da mesma moeda - ambos merecem ter a efígie cunhada, cada um na sua face, da medalha de honra da Ordem da Resistência de Classe à Democracia.

msp

Valupi disse...

Miguel Serras Pereira, larga o vinho.

Miguel Serras Pereira disse...

Aprecio devidamente l'esprit de finesse da sua réplica de primeira água, que deixará o nosso estalino-caravaggista babdo de inveja.
Porque será que o Valupi não é capaz de outro ponto de vista que não seja o de Tersites? Há mais coisas no céu e na terra, dentro e fora parte, que podem mover os humanos, não se resumindo às duas ou três tristes paixões da alma a que o culto da servidão voluntária reduziu o Valupi e das quais ele fez o ressort necessário e universal da acção comum. Coisas…

msp

Valupi disse...

Miguel Serras Pereira, tens de te dedicar um bocadinho - e basta um bocadinho - à disciplina de psicologia. Nem só de ideologia vive o homem; e o teu problema, se for bem acompanhado, tem prognóstico favorável.

Miguel Serras Pereira disse...

Valupi,
por uma vez de acordo quanto aos benefícios de uma cura não contra-relógio, como a que me indica. Só que empreendê-la, ao contrário do que o Vidal e você supõem - inspirados por uma boca especialmente celerada de Soares a Zenha -, não desqualifica ninguém e devia até ser condição a observar por quem queira, criteriosamente, recomendá-la a terceiros.
Mas aqui é do seu modo de fazer política que falamos, e não daquilo que, a nível pessoal, o possa ter impelido a compensar-se fazendo-a contra a mais elementar decência democrática. Como atesta a sua incapacidade de me responder politicamente, em vez de recorrer à difamação e às insinuações ad hominem.
Para acabar, só mais isto: que você não tem nem quer ter boas razões, já toda a gente percebeu. Mas isso impedi-lo-á de ter pelo menos boas maneiras? Parece que sim, com efeito - e talvez não seja tão estranho como possa parecer: quem concebe e pratica a política como arruaça e panóplia de golpes baixos nunca será capaz de uma atitude minimamente elegante no campo de honra.

msp

Valupi disse...

Miguel Serras Pereira, não sei quem foi o malandro que te fez tanto mal para andares agora pelas caixas de comentários a rogar "atitudes minimamente elegantes no campo de honra". Seja que for, que arda no Inferno. Entre nós, a questão é muito mais simples: considero-te um labrego. Não pretendo aturar-te, pois, embora não leve a mal esta tua insistência para te babares na aba do meu casaco. Isso deve-se, porém, apenas ao prosaico de estarmos num transporte público. No espaço livre, o teu projecto de ensinares boas maneiras ao vulgo não me teria na audiência.

B Aranda disse...

Não conheço o Valupi de lado nenhum nem costumo ler o seu blog, mas compara-lo ao Carlos Vidal pela sua posição sobre os procuradores que não tiveram tempo, parece-me que é, mais do que excessivo, menorizar as enormidades do outro.

Eu hoje não fui trabalhar precisamente porque fui depor por causa de um processo... É por isso que ando a gastar tanto tempo em blogs e é talvez por isso (pelos meus afazeres de hoje) é que fiquei espantado por ver pessoas que têm sempre opiniões tão avançadas sobre tudo defender estes magistrados que põem e dispõem sobre coisas importantes (como a vida das pessoas, a batalha política, etc) conforme a subjectividade da sua opinião, preconceitos e convicções pessoais.

Esta história só me faz lembrar a de Paulo Pedroso e Ferro Rodrigues com a Casa Pia... ou, com menor amplitude, mas brutal na mesma até porque estamos a falar de jovens sem posses para advogados xpto e coisas do género, o caso do processo do "eco-terrorismo" contra os companheiros que fizeram a acção contra o milho transgénico no Algarve.

Miguel Serras Pereira disse...

Valupi,

não sei se admire mais o requinte urbaníssimo das suas construções gramaticais e a a concepção inédita da lógica que actualizam, se a destreza com que você deita achas para a fogueira e a ateia enquanto o fogo continua a arder.
Lamento, mas, apesar dos apelos patéticos que me endereça, ávidos de uma intervenção correctiva, não fui encarregado da sua educação e nada mais posso fazer por si. Faça você alguma coisa e não se maltrate tanto, nem enxovalhe tão sem dó a sua potencial dignidade.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro B Aranda,

quem começou por vidalizar a conversa foi o Valupi. E é ele quem continua a fazê-lo, obstinando-se em não argumentar e em exibir como se de uma virtude se tratasse o desprezo jurado a que vota a racionalidade e a responsabilidade no debata político.

Saudações democráticas

msp

Zé Neves disse...

eu proponho que se exclua da caixa de comentários este ou esta valupi. o anonimato tem um limite: é o de não protagonizar ataques ad hominem contra aquele que se debate. a fronteira entra um anónimo e um filho da puta não é frágil, mas há canalhas que não a respeitam. e isto só não é o meu momento carlos vidal, caro bernardino, porque pelo carlos vidal mantenho um respeito que, a partir do que hoje li nesta caixa de comentários, deixei de ter por esse ou essa tal de valupi.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Zé (Neves):
de acordo - o Carlos Vidal assina os textos.
Mas, desculpar-me-ás, faço questão de dizer que o seu estilo não é menos fascista do que o do Valupi: o mesmo culto da violência, a mesma linguagem de delinquentes da alta roda, o mesmo desprezo pela racionalidade do debate democrático, a mesma postura magistral, a mesma exaltação dos "valores viris".
Acresce que o Vidal usa a calúnia, a censura nas caixas de comentários dos seus posts, o ataque ad hominem, em termos que o fazem tão "descarado", tão incapaz de dar responsavelmente a cara pelo que escreve, como o anónimo e seu digno émulo Valupi.
Se o estilo que este último introduz e alimenta na blogosfera é o da corrupção da política e da sua arena, a vidalização operada pelo seu par não é menos funesta nem menos repugnante.
O resto são, acho eu, distinções menores, que pouco contam. Tão nojento como o vidalismo auto-publicitário só mesmo o vidalismo anónimo do Valupi. E vice-versa. Definitivamente.

Abraço para ti

miguel sp

GM disse...

lol

Porfirio Silva disse...

Vejo agora, por portas travessas, que anda por aí um vendaval em torno de posts e comentários, sendo este post um dos focos desse vendaval. Já não tenho idade nem paciência para certas coisas e, assim sendo, não vou entrar na semântica do insulto. Apesar de me espantar sinceramente por ler pessoas que conheço e estimo a escrever palavras que só esperava encontrar em certos recantos mais brejeiros da blog. Acredito, cada vez mais, que a blogosfera, especialmente no sector caixa de comentários, tem efeitos perniciosos sobre a lucidez das pessoas. E parece que quanto mais inteligentes, mais em perigo estão. Com isso folgo eu, resguardado pela pequenez que fustiga mais os brilhantes.
Quanto à referência discreta que é feita, neste post acima, a um post meu, só tenho a dizer o seguinte. Primeiro, não vejo nada neste post que identifique um só erro naquilo que escrevi. Segundo, não vejo nada nele que seja um argumento que realmente sirva para desqualificar a pergunta que fiz.
Já estou muito habituado a que, por vezes, a opinião seja tida por uma espécie de tara. O que o post acima faz é apenas, no que me toca, e ao meter-me assim ao barulho, uma instância desse procedimento. Nada de espantar, portanto. Mas, sem rancor: não me assusto com tão pouca coisa. O método está muito banalizado. Só não me rio por achar que a coisa é um sintoma de coisa grave. Só isso.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Porfírio,
como aprendi que contigo se pode discutir, vou deixar de lado a questão do estilo, métodos e recursos do anónimo que dá pelo nome de Valupi - evitando dar a cara à responsabilidade ou o corpo ao manifesto enquanto insulta, como de facto só o Vidal o faz, os seus interlocutores.
Proponh-te antes que consideres o caso Freeport nos seguintes termos.
Como justificar que no lugar onde não se podia construir um cemitério - dado o seu impacto ambiental - se tenha construído o complexo que sabes?
Dir-me-ás que isso foi permitido antes e/ou que os responsáveis governamentais presentes não intervieram para facilitar o negócio em curso, que não foi iniciativa sua, etc. O que te pergunto é se não tinham de intervir e de impedir que o facto se consumasse, se não podiam e deviam agir, em vez de protestarem que lavavam as mãos do assunto. Como compreenderás, a guerrilha jurídica é secundária e as abundantes anomalias aparentes a esse nível só politicamente ganham todo o seu sentido, ao mesmo tempo que só podem ganhá-lo ou recebê-lo porque houve um défice de iniciativa, intervenção ou acção política por parte de um governo presidido pelo actual PM. E, em suma, reduzir o caso Freeport a uma batalha jdicial é mais um sintoma da judicialização da política na qual creio que tu, não menos do que eu próprio, reconhecerás uma ameaça grave nos termos de qualquer perspectiva apostada na democratização das instituições e da vida colectiva.

Um abraço para ti

msp

Alexnadre Silva disse...

Isto começou por ser um blog decente mas está agora nas mãos de 2 ou 3 alienados. O Porfírio Silva tem razão: a blogosfera faz mal a algumas cabeças.

Miguel Serras Pereira disse...

Alexandre Silva,

1. de facto, ainda que talvez nem sempre tenha razão - toda a razão, quem a tem jamais? -, o Porfírio tem pelo menos razões e é com elas que discute e se expõe. É o que o distingue fundamentalmente do Vidal, que não tem razões, e do Valupi que não tem razões nem dá a cara. De resto, um e outro recorrem sistematicamente a uma provocação e a uma retórica da insolência bem características do fascismo (e bem documentadas pela sua propaganda).
2. O argumento da alienação mental usado para substituir a discussão das razões dos adversários políticos teve a sua hora de glória no perído pós-estalinista da União Soviética. É uma invocação irracionalista da razão, todo um programa implícito de despotismo policial ad legibus solutus.
3. Reveja, por favor, a sua aritmética. Aqui, no Vias, somos poucos, mas mais de dois ou três, apesar de tudo, e cada um pensa pela sua cabeça sem se apoderar da liberdade dos outros. Entender que as as razões e liberdade de cada um, confrontando-se claramente com as dos outros, potenciam, mais do que limitam, a sua autonomia e a do colectivo de que faz parte, é um dos traços distintivos do entendimento e prática da solidariedade que nos propusemos e não desistimos de manter.

Saudações republicanas

msp

Porfirio Silva disse...

Caro Miguel,
Não vou querer julgar o caso Freeport por mim. Não sou entendido, não tenho os dados, nem estou para isso. Tenho por certo, pelo que tenho visto, que há demasiados justiceiros à solta neste país: gente que, com o seu brilhante juízo, vê tudo sobre o que a justiça devia ver. E há gente que, por conveniência política, só não admite coisas que estão sobejamente provadas: por exemplo, que o caso Freeport começou numa conjura entre políticos, polícias e jornalistas. Isto foi dado como provado numa sentença transitada em julgado. E há quem queira que eu admita inúmeras teorias que tem sobre inúmeros aspectos do licenciamento do Freeport, mas não quer admitir este facto dado como provado numa sentença transitada em julgado.
Querer discutir o Freeport sem discutir o processo Freeport - quer dizer, fazer de conta que os enredos do caso não interessam nada - parece-me ou pura cegueira ou desonestidade intelectual e política. Não querer ver que o processo Freeport tem sido principalmente - repito, principalmente - um meio de tentar obter resultados políticos por meios ilegítimos, não querer ver isso é grave.
E, Miguel, devo confessar que esta novela, e a cegueira sistemática de alguns acerca do significado desta novela, me mete nojo. Nojo, é o termo. Não sou capaz de me identificar com quem não perceba a gravidade de as instituições fundamentais de um estado de direito serem manipuladas. E isso aconteceu no processo Freeport, segundo creio pelos dados disponíveis.
(cont.)

Porfirio Silva disse...

(continuação)
Percebo muito bem quem se passa dos carretos com este uso baixo da justiça. Não percebo nada quem pretende que isso são ninharias.
E, já agora, estou farto do truque de atacar o que os outros dizem com o argumento do seu (deles) anonimato.
E, já agora ainda, o que está escritos neste post é o que lá está escrito. Não me faz muito sentido que tu faças sistematicamente, a posteriori, por dar uma aparência elegante a coisas que não têm elegância nenhuma. O post acima é apenas aquilo que é, e que já qualifiquei no meu comentário anterior. Talvez tu quisesses escrever melhor sobre o assunto, mas não é sobre o que tu talvez pudesses ter escrito que estou a comentar.
Estou certo que há muita gente que gostaria de ter provado que houve culpa em factos que tu achas estranhos. A ti não parece incomodar nada que um batalhão de interessados em provar inúmeras malfeitorias nunca tenham conseguido provar nada. As tuas suspeitas parecem resistir a tudo. Tu lá sabes. Nisso, estás no lote dos muitos. Com toda a amizade, quero dizer-te que esperava melhor de ti neste ponto. Certamente também tu esperavas de mim mais compreensão. Neste ponto, não te dou nenhuma compreensão. E lamento que defendas o que não merece defesa nem disfarce. Na blogosfera não devia valer tudo.
Um abraço.

Miguel Serras Pereira disse...

Porfírio,
não vamos conseguir discutir convenientemente este assunto neste contexto. No entanto, dois ou três reparos, sem querer pôr em causa a tua boa fé.
1. O anonimato usado como máscara para insultar os outros e fazer insinuações pessoais a seu respeito é também nojento. Infame. Pouco ético. E radicalmente antidemocrático. Próprio de esbirros e não de cidadãos responsáveis.
2. Creio que os governantes do momento têm graves responsabilidades políticas - ainda que juridicamente estejam limpos - neste caso.
3. Creio que os governantes e parte da oposição - ou oposições - têm sido cúmplices na degradação do combate político através de um uso e abuso confrangedores da manobra "judicial" e da constante invocação de competências e peritagens em detrimento do debate democrático sobre questões importantes.
4. É absolutamente insensato que o complexo tenha sido licenciado e esteja onde está - e isto é uma questão política de fundo. A consumação do facto é, quaisquer voltas que se lhe dêem, sintoma de um sistema de decisão irresponsável e arbitrário, permeável a interesses que põem as vantagens económicas e o governo indirecto e oculto exercido pelas forças económicas acima do bem comum e da participação democrática.
A partir daqui, poderemos discutir o caso e o seu alcance - por certo com proveito para nós e para todos os interlocutores de boa fé.

Até lá, fica com um abraço meu

msp

Porfirio Silva disse...

Miguel,
Há muito quem ache que achar escandalosa a construção do Freeport ali só tem um nome: fundamentalismo ambientalista. Eu não tenho opinião firme sobre essa matéria, mas é uma matéria nobre.
Já, misturar o processo Freeport com um abuso generalizado dos políticos à justiça - é pouco, muito pouco, escandalosamente pouco. O processo Freeport foi desenhado para viciar eleições legislativas (pelo menos duas eleições legislativas) e para assassinar politicamente um PM. Há quem ache isso coisa pouca. Eu acho isso "um golpe de estado na forma tentada". E, com toda a franqueza e amizade te digo: não acho que tenhas as mãos sujas neste caso; mas acho que as meias palavras com que te referes a isto não é coisa saudável. Em certas matérias, falar é falar claro, sem medo de irritar os amigos ou as conveniências. Era isso que esperava de ti. Não me parece que tenha sido isso que aconteceu.
Um abraço

Gonçalo disse...

Caros,

já agora:

1 - O Freeport foi construido na área onde antes estava uma fábrica de pneus da Firestone (sim, pneus, esse material benigno e absolutamente eco-friendly). Porque raio é que uma fábrica de pneus faz parte de uma ZPE é que continua a assombrar-me. Se calhar a passarada podia fazer ninhos nos pneus velhos e mais o catano. Ou então protegia-se uma espécie de ratazana.

1.5 - Ao lado da dita ZPE há um campo de tiro. Do outro lado há uma zona urbana cada vez mais saturada. Como devem calcular, em termos ambientais, não só a zona é uma trampa (o raio dos bichos não gostam muito do barulho de bombas, vá lá saber-se porquê) como também há zona bem mais ricas e importantes, a norte, com menos proteção (e para essas ninguem chama a atenção).

1.7,5 - O caso Portucale (esse sim, completamente escandaloso) não teve nem um pintelho da expressão que este tem. Mas quem de direito(a) agradece, caro amigo.

2 - Quando se procedeu à alteração da ZPN (e isso está DOCUMENTADO) para excluir a dita zona, foi acrescentada uma outra, a nordeste, de muito maior valor ecológico (que, por acaso - e não pelo costumeiro inamobilismo tuguês e das autoridades a que agora nos referimo) dela não fazia parte.

3 - O facto de não terem lá deixado construir o cemitério só demonstra, exactamente, a idiotice do ICN - os mesmos marmanjos que preferem ver a arrábida a arder do que tocar numa agulha de pinheiro caída, para não prejudicar o ecossistema.

4 - Até acredito que o Zezito tenha dado instruções para despachar o processo, tendo em conta a impulsividade. Se me perguntar se eu preferia um armazem de pneus abandonado ou um centro comercial... acho que faria o mesmo. Mas isso sou eu, que sou corrupto (e até tenho primos e tios).

5 - Como é que eu sei que Luis Rainha e Miguel Serras Pereira não são pseudónimos. "Rainha" (wink wink) e Serras Pereira são giríssimos, mas sem vem carinhas e BIs e tal e coiso, valem tanto aqui quanto um Valupi ou um José Silva qualquer.

Miguel Serras Pereira disse...

Porfírio,
não sei se fundamentalismo ambientalista serve, ou se investimento na salvaguarda da paisagem e num seu ordenamento alternativo não seriam expressões preferíveis. Mas, enfim, não será por aqui que nos desentendemos. Ainda que eu ache que, em caso de dúvida, esta matéria recomendaria mais a prudência do que o risco, sobretudo quando a aposta de risco tem a seu favor apenas a razão económica dominante.
Quanto ao resto, diversas vezes falei claro dizendo e tentando explicar que não vale tudo contra os adversários políticos e que o compromisso com a democracia tem exigências incontornáveis quanto aos meios e modos de luta utilizados. A judicialização - ou judiciarização - exacerbada da oposição ao governo de Sócrates, o pôr sistematicamente as questões de legalidade à frente da discussão da legitimidade e das propostas alternativas políticas são, de resto, um sinal da impotência, conformismo, falta de perspectivas das organizações que tentam canalizar em seu favor o descontentamento e a revolta - em meu entender, legítimos e mais do que justificados - perante as políticas governamentais.
(continua)

Miguel Serras Pereira disse...

(continuaçao)
Agora, tens de compreender uma coisa: embora eu considere que a democratização do regime e das instituições, em Portugal e na Europa, passa pela mobilização, na área de influência dos partidos da II Internacional e afins, de todos os que possam ser levados a retomar o combate por outras formas de exercício do poder político a partir dos lugares onde este, sem o confessar, efectivamente se exerce (e tenho em vista toda a esfera do trabalho e da actividade económica como frente prioritária), não me parece, no que divergiremos, que o PS e outros partidos semelhantes noutras regiões da Europa dêem sinais de poder vir a fazer mais, enquanto partidos, do que obstruir essa acção. Claro que te dou o benefício da dúvida, neste sentido preciso: mudarei o meu juízo a partir do momento em que o PS e seus homólogos europeus se transformem e disponham a fazer qualquer coisa no sentido de reforçar a participação dos cidadãos no governo da sociedade e na democratização/publicização (não mera "estatalização" ou simples "nacionalização") da actividade económica (por exemplo, emancipando a força de trabalho das condições que pretendem reduzi-la a mercadoria). Até lá opor-me-ei democrática e abertamente à sua acção, precisamente porque considero que os partidos socialistas que referi se tornaram, enquanto organizações e apesar das convicções e aspirações que continuam a animar os que neles se reconhecem, forças de conservação e reforço da ordem estabelecida, mais do que portadores de alternativas credíveis. O que se passa, em meu entender, é que os governos PS como o actual são obstáculos à democratização, agentes activos do crescimento e reforço das desigualdades e dos privilégios oligárquicos dos grupos que ocupam os postos de comando da economia. Situação que, também em meu entender, não terá saída reforçando o PS - a menos que isso se faça por meio de uma "revolução" interna profunda, que não me parece provável -, mas construindo forças, pólos e instâncias de alternativa democrática. Na perspectiva desta via, como sabreás, considero que o PCP é um obstáculo maior (embora tenha vindo a perder peso e capacidade de manobra). Quanto ao BE, precisaria de sacudir de vez a preponderância no seu interior e na sua direcção das fracções "bolcheviques" mais ou menos recicladas e cosmeticamente dissimuladas que comprometem outros aspectos, mais democráticos, da sua dinâmica.
Como vês, não adopto a pose de quem tem a receita revolucionária da democracia no bolso. Reconheço que as tendências mais características e marcantes do período actual são contrárias à perspectiva que defendo. Mas mantenho a minha posição. E creio que esta poderia ser considerada uma posição de aposta numa democracia "socialista" (apesar dos equívocos do termo) porque democrática, e num "socialismo" (de novo apesar dos equívocos do termo) democrático porque "socialista". Talvez, se não me engano muito, seja uma escolha que não reprovarás por completo. Se assim for, a discussão dos outros aspectos continuará entre nós em aberto.

msp

Porfirio Silva disse...

Miguel,
Não preciso de nenhuma convergência ideológica para achar interessante discutir contigo. Preciso, apenas, de saber que ambos respeitamos certos valores de convivência. Convivência política, claro. E, aí, não estou descansado. Infelizmente, não estou descansado. E não me convence o modo de falar deste mundo e do outro para evitar ser claro-claríssimo sobre certos fundamentos.
Abraço.