11/11/10

Desde quando denunciar os abusos e o expansionismo do regime chinês, uma demonstração das mais bárbaras da exploração capitalista, é anticomunismo?

Jorge Cordeiro, um dos mandarins do PCP, no “Avante”:

Seja por razões de contaminação política que a convivência que os une nas presidenciais tenha gerado, seja por essa razão maior determinada pelo preconceito anticomunista que comprovadamente os identifica, Louçã e Ana Gomes reagiram à visita do presidente chinês ao nosso país. Uma, manifestando a cínica inquietação sobre a perda de soberania que poderia resultar para Portugal da compra pela China de parte da dívida soberana nacional; outro, arremessando argumentos a pretexto da anunciada intenção de entrada de capital chinês em empresas «nacionais».

(publicado também aqui)

10 comentários:

Anónimo disse...

Sino-histeria.
Acho que fazes muito bem, João.
Denuncia os abusos e o expansionismo. Fazes isto em relação ao bloco a que pertences. Porque raio não poderias tu criticar os mui criticáveis Chineses? Foda-se. É isso mesmo. Coerente de cima a baixo.

Anónimo disse...

Oi tudo bem? Tens visto as notícias? Milhares de estudantes em fúria vandalizam a sede do partido conservador em londres.

Mas no vias de facto continuam com a longa marcha anti-comuna... Dás-te conta do reaccionário que és?

Miguel Serras Pereira disse...

Caro João,
dir-se-ia que as manifestações formais de desagravo - como a que citas, e a histeria das informais, como as que eu citei há pouco (http://viasfacto.blogspot.com/2010/11/duas-codiciosas-investidas-estetico.html) - perante as mais do que justificadas denúncias do regime chinês que alguns - com destaque para o BE, desta feita, e honra lhe seja - entenderam fazer ouvir por altura da visita de negócios de Hu a este país, aproveitada pelo governo e pelo PR para tentarem deitar água na fervura que infelizmente tarda da luta contra os PECs e as políticas orçamentais da UE, dir-se-ia que dificilmente essas manifestações de desagravo e de aclamação - de um regime que se distingue pela repressão brutal dos direitos sociais e das liberdades políticas e é dirigido por uma facção da oligarquia global em fase ascendente, apostada na generalização do seu modelo como método superior de submissão dos povos de todo o mundo - poderão não ser consideradas como um tirar do tapete aos trabalhadores e democratas locais que, estando-se altamente nas tintas para os votos de êxito na aplicação das suas políticas endereçados pelo mandarim a um governo que lhes quer vender a pele, ensaiam formas de luta alargadas tentando travar a ofensiva neoliberal cada vez mais ameaçadora.
É inconcebível que a cegueira e/ou o cinismo possam alcançar os extremos do editorial que citas: mobilizar os trabalhadores portugueses contra o governo e as políticas da UE, alegando a sua evidente natureza antidemocrática e anti-popular, não é compatível com aplaudir ou apontar como exemplo um regime que para qualquer trabalhador da região significaria o agravamento das condições de exploração e restrição de direitos democráticos que já tem de suportar - com os seus sindicatos oficiais a desempenharem o papel de capatazes, com a sua repressão policial de qualquer esboço de oposição consequente, com os seus campos de trabalhos forçados e condições de desterro carcerárias agravadas para os que se revoltam, com o seu culto do espírito empresarial e das grandes fortunas publicamente premiadas, com as suas zonas especiais de livre exploração off shore, semelhantes a outras que conhecemos, mas nas quais a mercadoria é de carne humana…e, por fim, com os seus desígnios, de feição imperialista e neo-colonial, de redefinição de uma nova ordem global à medida das suas ambições e interesses de grande potência.

Abrç

miguel sp

joão vilaça disse...

Parece-me que o MSP e o JT estão a discutir os planos da discussão: o artigo em causa questiona o cinismo das críticas à China por parte de Ana Gomes e de Francisco Louça com base no argumento da perda de soberania (quando se sabe que pelo menos a primeira não o faz quando as dependencias têm outras latitudes geográficas). O artigo nem por uma vez se refere à questão dos direitos humanos.
Criticar o PC pela sua ambiguidade e atacticismo é legítimo mas acho que podemos convegir ou divergir dele sem batermos sempre, e obsessivamente, no mesmo ponto. Em síntese, discutir outros argumentos e outros vectores da política.
Cumprimentos.

Anónimo disse...

Graça a Deus, em Londres, Paris ou Atenas a malta não deve perder tanto tempo com blogs...

Anónimo disse...

De caminho, talvez conviesse informar Francisco Louçã de que, infelizmente e com vigorosa oposição do PCP,já há bastante tempo que a EDP é maioritariamente uma empresa privada onde
o Estado apenas detém uma pequena parte do capital.

Miguel Serras Pereira disse...

Tiro na água, Vítor Dias.
Mas o que seria interessante seria ouvir a sua opinião sobre a pergunta do post. Ou, se quiser, a esta variante: denunciar o papel de vanguarda do governo da RPC na precarização global e a sua política de potência expansionsita (rival da hegemonia norte-americana), e/ou o funcionamento interno do regime, com as suas desigualdades abissalmente crescentes, as suas zonas concessionadas, a sua actividade repressiva das liberdades políticas e dos direitos sociais, é dar provas de "anticomunismo", e porquê?
E os encorajamentos e aval dados ao "esforço" do governo de Portugal com as medidas contra as quais você vai apoiar a greve geral de 24 de Novembro, também lhe merecem aplauso? E como?
O que está em causa nesta discussão é, em geral, a natureza do regime da RPC - antidemocracia tirânica e militante ou "via para o socialismo"? -; em particular, o balanço político que devemos fazer da visita de Hu a Portugal e dos seus propósitos e efeitos bilaterais.

msp

Anónimo disse...

Tudo o que não seja o terreno escolhido por Serras Pereira já se sabe que é tiro na água.

Já disse as vezes suficientes que o meu projecto de socialismo para Portugal é o que está no Programa do PCP e é portanto inútil quererem colar-me a «modelos» ou a experiências alheias.

Dito isto, não perceberá o Serras Pereira que está a um passo da trafulhice política e intelectual quando agora decobre com outros que é a China o grande ariete da precariedade global ?

Mas foi porventura a China que moldou nas últimas décadas o sistema económico mundial, que liberalizou os movimentos de capitais, que determinou as bases da Orgamização Mundial do Comércio e por aí fora ?

E quanto aos salários dos trabalhadores e ao dumping social, não se dá conta que estamos a chegar ao «em casa de ferreiro espeto de pau» ?

Já viu o que era ontem ou ainda hoje, os trabalhadores alemães ou norte-americanos da têxtil a clamarem que os baixíssimos salários dos trabalhadores portugueses desse sector eram uma forma de concorrência desleal e de precarização em outros países ?

Vá lá, um pouquinho de tino ou de chá de tília, please.

Miguel Serras Pereira disse...

Vítor Dias,
eu bem julgo saber que você se quer longe de seguir o "modelo chinês". E também sou o primeiro a dizer que os métodos das oligarquias - classes dominantes - ocidentais deram, de muitas maneiras, o exemplo que hoje outras regiões seguem. Às vezes, como é o caso chinês, com tanto êxito e "criatividade" que são olhadas com inveja mal disfarçada pelos anteriores exportadores. Em cujas metrópoles lutas seculares acabaram por lograr impor à dominação hierárquica de classe limites que hoje, justamente, as oligarquias tentam de novo transgredir. Nunca deixei de dizer ao denunciar a dominação selvagem dos mandarins vermelhos de Pequim que não podemos combatê-los consistentemente sem combatermos ao mesmo tempo pela defesa e extensão das liberdades e direitos - tendencialmente governantes - nas regiões deste lado do mundo.
Dito isto, como é natural, tendo a criticar mais as posições políticas que se opõem às minhas em pontos fundamentais do que as daqueles que me estão próximos. Mas, pelo seu lado, o Vítor Dias faz, quero crer, um pouco mais (ou menos) do que isso: ele há temas em cuja discussão aberta e franca se recusa a entrar. Diz, por exemplo, é inútil tentarem colar-me ao modelo chinês, que já disse não subscrever e que o PCP, como consta do documento X ou Y, também critica. Mas, quando lhe perguntamos, se o regime da RPC é um regime progressista ou uma ditadura ao serviço dos beneficiários de desigualdades crescentes, esquiva-se a responder e, não fazendo a apologia da "sociedade harmoniosa", fala dos males (indiscutíveis) que se abatem sobre os povos de outras regiões do mundo. E não quero incorrer na crueldade que seria multiplicar os exemplos de outras questões que o Vítor Dias ouve bem e sobre as quais se cala.
Talvez um dia seja diferente. Assim esperemos que aconteça. Para seu (dele) alívio e nosso.

msp

Miguel Serras Pereira disse...

Desculpe, Vítor Dias, mas houve uma pequena precisão que me esqueci de fazer.
Quando você escreve: "Mas foi porventura a China que moldou nas últimas décadas o sistema económico mundial, que liberalizou os movimentos de capitais, que determinou as bases da Orgamização Mundial do Comércio e por aí fora ?", o facto de a resposta à questão ser obviamente negativa não invalida o meu argumento. O que eu digo não é que a RPC desencadeou a liberalização do sistema económico mundial, etc., mas que disputa hoje a liderança e a redefinição - classista, antidemocrática e repressiva - de uma ordem global cujas fases iniciais de construção não foram iniciativa sua. Um pouco do mesmo modo como os EUA acabaram por liderar e redefinir a expansão imperialista de um capitalismo e de um imperialismo que não tinham liderado nas fases anteriores (de hegemonia britância).
Confiante na sua atenção de velho frequentador desta jovem casa…

msp