09/11/10

O Papa que inspira manifestações de amor


Helena Matos desafia os manifestantes gay que receberam o Papa em Barcelona com efusivas demonstrações de afecto: «não se importam de ir fazer uma encenação semelhante junto duma das várias mesquitas de Barcelona?»
A miopia é a de sempre: é natural que alguém proteste contra quem faz tudo para dificultar a sua vida. Se o Vaticano continua a apontar o dedo à homossexualidade como sendo um distúrbio a evitar, ainda por cima viajando a expensas (também) dos assim ofendidos, só tem é de esperar pelo troco. Se temos aqui um Papa que se arvora em referência para todo o mundo, com os seus incitamentos à re-envagelização da sociedade em geral, urge dar luta à sua propaganda. Desmentir, publicamente e em voz alta, que a moral cristã de qualquer modo mágico possa mesmo equivaler a ditames da natureza e do estado normal das coisas.
Em Barcelona, aquelas pessoas protestaram, ainda por cima de modo amoroso, contra quem quer afectar as suas vidas, coarctando os seus comportamentos e insultando a sua essência; não contra atrocidades cometidas a milhares de quilómetros – estas merecem contestação, mas diversa em modo, alvos e eficácia. Claro que HM prefere não entender isto, atraindo logo hordas alucinadas de clientes habituais que clamam contra os «panascas cagarolas» e atribuem a uns tais «restos do stalinismo» os assassinatos de jornalistas na Rússia.
E claro que o tonto do costume tratou logo de imitar a blasfema, com palermices copiadas a papel químico: «aquele exibicionismo sexual revela intolerância (contra os católicos) e cobardia (ante os muçulmanos)». Para esta luminária, os católicos têm direito à sua opinião; estes manifestantes é que não merecem abébia similar.
Também podia escrever que HM e o bom Raposo deveriam antes escrever contra o Islão, em vez de optarem pela cobardia de atacar quem nada lhes fez; mas estaria apenas a ser igualmente idiota.

3 comentários:

Anónimo disse...

Essa senhora só diz disparates. Primeiro, porque nao existe nenhuma mesquita propriamente dita em Barcelona. Todos os locais de culto islâmicos sao garagens bastante recônditas só ao alcance de quem sabes onde ficam. Em segundo lugar, está a desvirtuar completamente o sentido do protesto. Sim, o beijo colectivo era contra as posiçoes que a Igreja Católica tem tomado contra a homosexualidade mas era também contra o financiamento público da visita de uma representaçao religiosa. Que eu saiba, para além do Dalai Lama, mais nenhuma religiao tem pretensoes de ser tratada como um estado. E como bem dizia um dos slogans do protesto, "Papa o Califa, paguen sus visita".

Anónimo disse...

lol. Muito bom, Rainha.
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agent disse...

A questão é mesmo essa: as demonstrações foram de afecto. Se recuarmos uns meses (só até Fevereiro, não foi assim há tanto tempo), recordamos que esta igreja católica e alguma dessa malta de direita apoiou a manifestação pelo referendo ao casamento gay, camuflada, como toda a gente sabe, em algo muito pouco "afectuoso". Isso ficou espelhado nos cartazes que traziam e nem foi necessário perguntar o que a extrema-direita estava ali a fazer. Alguém que pergunte a esses indignados escribas qual foi a sensação de descer a avenida de liberdade, com a criancinha aos ombros e de braço dado com os skinheads, exaltando o modelo familiar único e exclusivo (o deles, claro).
E com isto há ainda quem (a pseudo-tolerância em pessoa que dá pelo nome de Miguel Sousa Tavares incluído) fique mais chocado com o "exibicionismo sexual" de um beijo do que uma manifestação de ódio perante a igualdade num direito civil alcançado por um grupo de pessoas?