17/11/10

A realidade, essa insurgente crónica

É um exercício divertido e didáctico espreitar os arquivos de blogues de visão liberal e amiga do laissez-faire. Recordando, por exemplo, a forma como exaltavam as virtudes desse rutilante exemplo de desregulamentação e liberdade económica sem freio: a Irlanda. Na altura, o que fazia falta era dar liberdade à mão invisível que iria por certo forrar os bolsos dos investidores e distribuir prosperidade a rodos. Hoje, está à vista o resultado: bancos falidos, mas com ex-administradores milionários, a chupar dinheiro dos contribuintes de forma insaciável. E, claro está, ninguém se atreve a deixá-los cair; o sistema premeia e protege os insensatos.
Por outro lado, confirma-se que estas superstições são de erradicação complicada. Já em 2009, ainda se acendiam velinhas no altar do Santo Exemplo Irlandês. Este iria por certo recuperar num instante.
Está a ver-se. Não pára de afundar-se e ameaça levar meio mundo atrás.



Alguns exemplos da perspicácia recente desta malta:
«O mesmo Euro não impediu a Irlanda de crescer a taxas excepcionais. E não impediria também Portugal de fazer o mesmo porque o problema essencial não está na política monetária mas sim em inúmeros bloqueios como a rigidez do mercado laboral, a tributação predatória, a regulação excessiva e arbitrária, a inoperância do sistema de justiça, a fraca qualidade da educação, a cultura de nepotismo e a captura do Estado por parte de várias corporações sectoriais e profissionais.»
«O crescimento através das obras públicas estatais não colhia adeptos nem na Irlanda, nos EUA, na Grã-Bretanha, sequer na vizinha Espanha. Todos estes quatro países apresentam hoje taxas de crescimento satisfatórias, ao contrário do que se passa em Portugal.»
«No entanto, mesmo que a Irlanda agora sofra um pouco mais durante 2009, o mais certo é que também recupere mais rapidamente depois, dada a flexibilidade estrutural quando comparada com a nossa economia fossilizada; e basta ver o gráfico abaixo para perceber que, mesmo que a Irlanda não recupere rapidamente, Portugal é que não é exemplo para ninguém (excepto pela negativa).»

4 comentários:

Jorge Nascimento Fernandes disse...

Por favor, ao menos diga-nos quem é que escreveu esta pérola,para podermos estar alerta contra novas investidas.

Ide levar no déficite ide disse...

A irrealidade, essa insurgente crónica

por Luis aRanha...apesar de alguns
não observarem os sinais do fim de um sistema eles já ameaçavam desde 2001, numa economia especulativa
em que dois aviões fazem tremer um mercado global

e em que escândalos financeiros de empresas e bancos se avolumavam desde os idos dos 80's

Justiniano disse...

Rainha, mas olha que aos tais "imascercíveis liberais", "irredutivelmente coerentes", já lhes ouvi, estultantemente, assinalar a falencia dos banqueiros imprudentes como enunciado apodíctico de virtude.
Quanto à Irlanda versus quejandos, parece-me uma vertigem ao alegórico embate entre o roto e o esfarrapado!!

Luis Rainha disse...

Quem quiser outra versão deste post, made in Indústrias Opinativas DO, aqui tem: http://aeiou.expresso.pt/estavas-linda-irlanda-posta-em-sossego=f615818