As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."
Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.
Sophia de Mello Breyner
26/01/11
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8 comentários:
Grande poema...
grande poeta!
Estive ontem na entrega do espólio de Sophia à Biblioteca Nacional. Uma exposição que vale a pena ver num dia mais calmo (ontem era praticamente impossível). Este poema foi muito citado nos discursos, e com razões de sobra: não só é magnífico como muito actual.
Olá Ana!
Não estive presente. As aberturas de exposições são mais ou menos como as vistas à capela sistina - de fugir!
Quanto ao poema, juro que não telefonei a ninguém para o incluírem nos discursos.
:)
Com uma mãe destas, para onde terá ido o talento literário de MST?
As mães, ah as mães! As mães podem ser tramadas..
:)
LOL. Essa das mães tramadas é tramada...
Mas não resisto a contar ao Ricardo Noronha que o Miguel ST lhe respondeu antecipadamente à pergunta que faz aqui, e com uma grande frase: "Acidentes biológicos não dão direitos adquiridos". Referia-se à posse do espólio pelos filhos, claro, mas a aplicação é bem mais vasta.
:-)
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