"Com efeito, esta última corrente [o operaísmo] foi, quanto a nós, aquela que procurou com mais originalidade reflectir nas lutas de classes da época actual, ao mesmo tempo que mantinha a classe operária no centro dessas lutas. Contudo, as diferenças entre esta corrente e as precedentes modalidades de relançamento do sujeito revolucionário não residiam apenas, nem principalmente, no privilégio atribuído por este operaísmo à figura do operário-massa enquanto incarnação do trabalho propriamente dito. Para começar, a relação com o marxismo não é apenas a de uma actualização, mas simultaneamente de aprofundamento, nomeadamente a partir da leitura dos Grundrisse e dos capítulos d'O Capital sobre a indústria, e de ruptura, em particular com o marxismo enquanto filosofia dialética. [...]
Para tanto, Tronti deu um passo em frente relativamente a Raniero Panzieri, o fundador dos Quaderni Rossi. Esse passo consistiu em situar a relação de classe, designadamente a fenomenologia da troca de força de trabalho por dinheiro, não só no centro, mas na própria origem do desenvolvimento capitalista, inclusive nas suas próprias determinações técnicas. Para ele, assim como o modo de existência da força de trabalho precede a troca e condiciona as modalidades desta, também a classe operária é condição do capital. Contrariamente à tradição marxista estabelecida, a questão da organização da classe para si está inscrita, por assim dizer, na própria materialidade da estrutura da força de trabalho, isto é, na classe em si. Não se trata, pois, para esta corrente, de reabilitar a classe operária enquanto sujeito revolucionário, mas de ver, efectivamente, na sua estrutura material, antagónica do capital, o cerne de qualquer transformação técnica e social moderna."
Manuel Villaverde Cabral, Proletariado - o nome e a coisa, A regra do jogo, Lisboa, 1984, pp.100-101
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