Entre os vários brilhantes ensaios que nestes dias se escrevem sobre o BE, nenhum tem um início tão fulgurante como o de Vasco Pulido Valente, devidamente citado por Eduardo Pitta: “Custa a compreender como qualquer pessoa com QI acima de 50 pode votar ou apoiar o Bloco de Esquerda.”
O que eu não percebo, mas talvez seja do QI, é qual poderá ser a razão por que alguma coisa feita por pessoas com QI acima de 50 não é facilmente compreendida por pessoas com QI superior a 50 - pessoas como, presume-se, Vasco Pulido Valente e Eduardo Pitta.
8 comentários:
Deves ter, de facto um QI menor do que 50, uma vez que leste mal a frase. Eles compreendem porque é que as pessoas com QI menor do que 50 (50 quê, já agora) votam no Bloco. O que elas não compreendem é porque é que as pessoas com um QI maior do que 50 votam no Bloco.
A questão que se impõe é a seguinte: e como é que eles sabem que alguém com um QI maior do que 50 vota no Bloco? Eu por acaso até já votei BE, e posso perfeitamente voltar a votar, e como nunca consegui passar do primeiro desenho daqueles testes de inteligência, suponho que o meu esteja abaixo dos tais 50 (embora consiga perceber a frase do Pitta - o meu deve andar pelos 38 e o teu pelos 30 e honi soit qui mal y pense). Ao contrário do Barata-Moura e do Jaime Gama que, segundo a Joana Lopes, são muito inteligentes e, como toda a gente sabe, não votam no Bloco. Coisas destas não são coincidência.
Depois da GNR temos a CNE a desrespeitar a lei de protecção dos dados. É uma vergonha.
foda-se.
mas actualizei.
o que só prova o chico-espertismo dos tugas, como diz o Gil.
onde estava "abaixo" passou a "superior".
abç
Pois já agora, informo-vos que a famosa actriz porno Asia Carrera tem um QI, ao que parece, de 155 e é membro da Mensa International (sociedade a que julgo não pertencerem nem o Pitta nem o Pulido). Agora, se votaria no BE, isso já não sei.
Talvez votasse. O bloco não tem uma mensa internacional mas tem uma mesa nacional (onde são mais que as mães).
De qualquer modo, muito obrigado pela informação, Ana. Fiquei a saber quem é a Asia Carrera e quem é que é a Mensa Internacional. Acho que esta última mais depressa aceitava a sugestão do Zé (o embrulho com o EP e o VPV) do que os credores da dívida.
De resto adorei a página de apresentação dessa Mensa. Os gajos dizem num parágrafo que os propósitos não são políticos nem racistas, mas dizem no seguinte que só aceitam malta acima de um certo QI. Com certeza que o texto resultou de um outsourcing.
bruno, eles não são racistas. se tiveres um bom QI, serás sempre aceite independemente da cor da pele (é um clube mentalmente exclusivo, topas?). e sempre será melhor do que a maçonaria que não te eceita se fores coxo ou maneta mesmo que sejas mais inteligente do que o gama ou o barata moura...
:-)
Sim, Ana,
eu percebi isso. Estava apenas a usar um entendimento de racismo com um bocadinho mais de latitude, de modo a abranger as formas objectivadas de hierarquização entre os humanos, como é o caso desta coisa do QI. Mesmo que não sejam esses os propósitos desta malta, o resultado é a naturalização ou mesmo a biologização, de uma ordenação hierárquica entre as pessoas. A mim a coisa parece-me sinistra, e não sei se anda assim tão longe do racismo. Ou de um certo racismo de classe (lá estou eu a alargar o conceito). Vale a pela ler o ensaio do Bourdieu sobre o racismo da inteligência, a esse propósito.
Quanto à maçonaria, o que é se pode esperar de um bando de gajos que acha cool vestir-se de avental?
Claro, Bruno, claro. Nem a Ana pensou que não tivesses percebido. Tu nem precisavas de vir ao Vias para aguçar o engenho que já te sobra. Mas estas trocas fazem bem a qualquer espírito incréu. Daí que sejamos alvo das fulminações dos devotos.
Mas essa do racismo, pá - pace Bourdieu -, deixa-me dúvidas. Um gajo começa a duvidar da Santíssima Trindade ou da Dialéctica da Natureza e o resultado está à vista: duvida de tudo e vê-se, como o pobre Bertolt Brecht - por Galileu interposto -, obrigado a ponderar a hipótese de governar as coisas da vida, assentando-as na dúvida e não na certeza.
Se bem compreendo, usas racismo em vez de concepção ou imaginário (ou, vá lá, hoje estou concilidador, "ideologia") hierárquico: "racismo de classe", "racismo da inteligência", "racismo dos iniciados perante os outros pedreiros", etc. Mas, às vezes, dar tanta latitude ao conceito destrói-o. Podes usar "domianção hierárquica", "visão hierárquica" - ninguém vai pensar que passaste a ser autonomista só por isso. Depois, especificamos os casos da hierarquia e as suas justificações proteiformes: a raça, a classe, a vanguarda consciente, etc. Guardamos o racismo para a raça, a exploração classista para as classes, etc. - e passamos a acabar qualquer caderno reivindicativo ou abaixo-assinado, reclamando, depois da satisfação das várias exigências particulares, a abolição do Estado. Era, pelo menos, a sugestão do meu amigo Claude Orsoni: "N'oubliez jamais de demander, en plus, l'abolition de l'État. Ça fait plus joli" - costuma ele dizer. Bem sei que reclamar a abolição discreta do Estado suscita aporias filosófico-políticas terríveis. Pori sso, entendamo-la aqui, até mais ver, não como um acto isolado e negativo, mas como o reverso do processo instituinte do autogoverno, da democratização generalizada do poder político. Pode ser assim?
Abrç
msp
Bruno, eu apenas acho que se a gente começa a alargar demasiado o significado das palavras/conceitos acabamos como o Alegre a falar por "metáforas" que ninguém entende...
:-)
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