23/02/11

A pedra de toque líbia

É, no mínimo, desconcertante — embora pouco tenha de inesperado — que alguns dos que, e por vezes com excelentes argumentos, denunciaram as cumplicidades das autoridades portuguesas e europeias e dos altos responsáveis da Internacional Socialista com as ditaduras egípcia e tunisina observem um respeitoso silêncio perante as declarações com que Fidel veio deitar água na fervura líbia e nos "excessos" da contestação da ditadura do sócio de Berlusconi e braço armado da sua política de controle das migrações.

Porque, das duas uma:
— ou branquear as mais sinistras ditaduras se justifica quando corresponde à leitura que fazem dos seus próprios" interesses de potência" globais os governos ou forças políticas que os apoiam, e, nesse caso, não se vê por que razão fazer tanto barulho perante a compreensão que o governo de José Sócrates, digamos assim,  e a Internacional Socialista concederam a Mubarak , ao próprio Kadhafi e a tutti quanti;
— ou a intervenção de Fidel deveria merecer — pois quem cala consente —os mesmos protestos e justificar as mesmas conclusões quanto à natureza política e social do regime cubano.

Sublinhe-se, por fim, que o silêncio sobre a posição de Fidel — ou as justificações dialécticas que venham a solidarizar-se com ela — não é menos revelador da orientação e concepções políticas de quem por cá o alimenta.

2 comentários:

Niet disse...

Acho que devias ter festejado aquela análise sublime do Olivier Roy, um dos maiores especialistas do Médio Oriente-em que sublinha o fim do islamismo puro e duro como efeito das revoltas vitoriosas na Tunísia e no Egipto.Por outro lado,o problema Líbio gira em torno de uma estrutura política descentralizada - tribal- mascarada de Conselhos Revolucionários militarizados- assente numa " almofada " de umas reservas petrolíferas avaliadas em cerca de 45 biliões de barris de petróleo...Há riscos de divisão ou separação territorial no ar, como é evidente. E uma intervenção " ocidental " no estilo da realizada no Bahrein não está fora do registo dos estados-maiores da oligarquia mundial. Niet

Anónimo disse...

Há coisas que só o Miguel Serras Pereira consegue ler