Com Raúl Ruano Bellido, o Jorge Valadas, assinando na circunstância Charles Reeve, acaba de publicar O Suspeito do Hotel Falcón. Itinerário de um Revolucionário Espanhol, ou antes, uma vez que não sabemos quando haverá edição em língua portuguesa deste trabalho, Le Suspect de l'Hôtel Falcón. Itinéraire d'un révolutionnaire espagnol (Montreuil, L'Insomniaque, 2011).
Registando apenas que se trata de um contributo bem mais esclarecedor em termos de "memória histórica" — e politicamente muito mais prometedor — do que muito papel que se tem autorizado da invocação dessa memória, a melhor maneira de apresentar e recomendar a sua leitura talvez seja ainda a transcrição da contracapa da (bela) edição francesa:
A 16 de Junho de 1937, enquanto a guerra civil devasta Espanha, Paco [Francisco Gómez Palomo, 1917-2008] e quatro dos seus camaradas das Juventudes do POUM (Partido Operário de Unificação Marxista) são detidos no Hotel Falcón, sede desse partido em Barcelona. No mesmo dia, dezenas de militantes e a maior parte da direcção do POUM são apanhados numa vasta operação de captura organizada pelos agentes da GPU, doravante todo-poderosos na zona republicana. Esta vaga repressiva assinala uma viragem: submetendo toda a sociedade à sua lógica, a guerra devora a revolução.
Paco e os seus camaradas ficam presos até Junho de 1938. Alguns meses mais tarde, atravessa a fronteira com a vaga das tropas republicanas derrotadas. Após uma estada nos ignominiosos campos de concentração franceses, evade-se e instala-se para o resto da vida em Paris. Operário, junta-se aos pequenos grupos — de Socialisme ou Barbarie à ICO — que denunciam o despotismo soviético, ao mesmo tempo que elucidam a sua natureza capitalista. Quando, em Maio de 1968, Paco e os seus colegas de fábrica tomam partido pelos estudantes revolucionários, são de novo classificados como "elementos suspeitos" pelos pequenos chefes autoritários da CGT.
Na narração deste itinerário modesto e singular, o protagonista apaga-se muitas vezes por de trás do movimento da História. Seguindo o seu percurso, revisitamos os acontecimentos à escala da vida dos indivíduos e das suas contradições. Notar-se-á apenas que Paco e os seus amigos, apanhados no turbilhão revolucionário, tiveram a coragem de romper com a impostura estalinista. Retiraram do POUM, radical e atípico, uma razão de viver… e, para muitos de entre eles, de morrer.
05/08/11
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