31/08/11

Perguntar não ofende

Nao é preciso ter a perspicácia de "Chalana" no desvendar de conexões ocultas para que nos perguntemos se não existirá alguma relação entre as acusações que certa autodenominada "esquerda", que se pretende a única legítima e com verdadeiro direito à existência, multiplica contra o conjunto da inssurreição líbia contra o regime de Khadafi, e as inquietações dos dirigentes da "sociedade harmoniosa" em construção na RPC perante as revoltas que, desde o início do ano, têm deflagrado no Médio Oriente e, agora, em particular, perante a queda do regime khadafista — eventual factor de perturbação das relações privilegiadas e das oportunidades de negócios que a ditadura oferecia aos interesses dos mandarins — bem como perante as perspectivas de derrocada que ameaçam o regime de Asad na Síria.

Senão leiam-se estas linhas de uma peça, assinada por David Brunat e dada à rede pelo Público.es:

Igual que ya pasó con las revueltas en el mundo árabe a inicios de año, Pekín se muestra hoy algo nervioso por los cambios políticos en el tablero de Oriente Medio y el Magreb, escenarios en los que tiene grandes intereses geoestratégicos y planes de inversión en los próximos años para abastecerse de materias primas. Unos planes que ha tenido que poner en cuarentena.
(…) lo cierto es que Pekín arranca con desventaja en la carrera por adjudicarse los contratos más jugosos en Libia. China, que junto a Rusia no apoya los movimientos sociales para derrocar regímenes (temiendo pulsiones parecidas en suelo propio) ha ido cambiando de postura lentamente.

Empezó por superar sus reticencias al dar luz verde, junto a Rusia, a la resolución de la ONU que permitía la misión aliada en Libia, cuyos ataques luego condenó. Más adelante, recibió a emisarios rebeldes y reforzó con el tiempo los contactos. Ahora, finalmente, ha terminado "respetando la voluntad del pueblo libio" y diciendo: "Siempre hemos concedido gran importancia al Consejo Nacional de Transición (CNT) en la resolución de los problemas de Libia".

Pekín invirtió en los últimos años 13.500 millones de euros en el país africano, emprendió 50 proyectos de gran envergadura, estrechó tanto como pudo sus lazos con Gadafi y sus importaciones de crudo libio llegaron el año pasado al 3% de su consumo nacional, copando el 10% del total del petróleo de Libia.
(…)
A Pekín no le queda otra que aceptar la nueva situación en Libia, pero quiere evitar que ocurra lo mismo en Siria. Las autoridades chinas critican la presión de la UE y EEUU para que dimita el presidente Bashar al Asad, argumentando que la decisión "debe surgir del pueblo". Para Pekín, perder también a Damasco supondría un duro revés. Tras la independencia de Sudán del Sur, la guerra de Libia, y los problemas que le están poniendo Vietnam y Filipinas para rastrear petróleo en el mar del Sur de China, Pekín no quiere más contratiempos.





20 comentários:

Chalana disse...

Miguel Serras Pereira:

Citar-me num artigo sobre a Kadafi é o cúmulo da desonestidade intelectual, dado que nem sequer é capaz de encontrar uma citação minha sobre esse assunto.

E sobre a China (que aparentemente o deixa tantas noites em claro...), apenas lhe digo o seguinte:

o MSP ESTÁ-SE NAS TINTAS para os chineses! O que você faz, sistematicamente é utilizar a China como arma de arremesso contra o PCP que é (ao contrário do MSP e dos seus amigos cabotinos) a única força de resistência coerente e combatente contra a destruição do NOSSO PAÍS e do povo trabalhador.

Pode continuar com as suas diatribes anti-pcp: elas são a expressão mais clara da sua desorientação política e desespero existencial.

Miguel Serras Pereira disse...

Chalana,
eu não lhe atribuí qualquer juízo sobre o Khadafi. Limitei-me a dizer que não era indispensável termos a sua perspicácia detectivesca para nos perguntarmos se não haveria relação entre as simpatias de alguns pela via da "sociedade harmoniosa" e a sanha que os mesmos manifestam contra quem denuncie o regime de Khadafi. E V. terá de admitir in petto que este seu comentário é a demonstração cabal de que a pergunta se justifica. Agradeço, portanto, a confirmação que faz da minha leitura e convido-o a não se preocupar com o meu desespero existencial.

Sinceramente

msp

Chalana disse...

MSP:

Se insiste em fetiches, eu cá curto mais o Ho Chi Mihn.

Quanto às suas perguntas, respondo-lhe com o desprezo que a sua desonestidade merece: não sabe o que penso sobre a China, nem sobre o Kadaffi, mas citou-me nessa sua truncagem barata.

Quer exibir provas do meu "estalinismo"? Dê-se ao trabalho de citar o blog no qual tenho o gozo de ir escrevendo - tem lá muito material. E é sempre mais decente.

QUANTO AOS CHINESES... não é tradutor? Escreva um blog em chinês para ajudar a libertar o arroz xau-xau que tem aí na montra

Miguel Serras Pereira disse...

Chalana,
não enfie tão solicitamente todas as carapuças que por aí vê - ou, se as enfia, não se queixe.
Eu não disse que V. era khadafista - e, quanto à China, foi V. que insinuou que eu escrevia movido pelo anticomunismo e ao serviço (em regime de voluntariato militante) de Passos Coelho. Abriu as hostilidades e agora queixa-se de ter sido agredido. Enfim, nada que não se tenha já visto. No entanto, se, como parece, V. faz questão em repudiar o estalinismo, só posso felicitá-lo: continue e aprofunde essa atitude crítica, porque o mais difícil é começar…

msp

A.Silva disse...

msp, seu aldrabãozinho de meia tijela, o regime khadafista de kadafi não caiu, foi derrubado pela NATO e com pelo menos 50 ooo mortos de "generiosa" contribução democrática dos seus amigos sarkozi, berlusconi, obama e cª.

A.Silva disse...

e já agora, com a generosa contribuição moral de msp também.

Anónimo disse...

Ainda há pouco o Finantial Times descrevia a forma furtiva do tipo de investimentos da China, sobretudo em África: como quem não quer a coisa, os chinocas- quer em Angola ou na Etiópia ou Tanzânia...- chegam aos poucos, inteiram-se do que falta aos autoctones, propõem e dialogam com os poderes estabelecidos - e mediante linhas de crédito...- arranjam empreitadas em cascata. Ao ponto dos USA e a UE se sentirem marginalizados e a perder cota de mercado, cada dia que passa. Isto quer dizer, sr. Silva, que as suas rábulas de marxista empedernido-e-protector-dos algozes-mais sanguinários não tem alcance nem perspectiva. O caso da Libia- mas pode vir a passar-se com o Irão- ontem Sarkozy ameaçou com bombardeamentos preventivos o país de Ahmid-Nejjadh por causa das instalações nucleares...-está longe de estar resolvido e pacificado, existindo o perigo de um novo poder discricionário e totalitário se instalar na sequência do derrube da ditadura de Kadaphi e família. Entretanto, a Total francesa " roubou " a fatia de leão dos contratos de exploração de hidrocarbonetos à Itália. E a incerteza política que pesa sobre a Líbia, por outro lado, confere uma suplementar margem de manobra à Rússia e à China na região, o que só pode vir a causar imensos dissabores ao processo democrático em curso nos principais países do Médio Oriente,peões capitais- no caso do Iraque e do Irão- para a estratégia de dominação petrolífera delineada por Poutine & Chavez. Tudo isto, é evidente, nos faz ver que o derrube de Kadaphi é um passo importante- mas secundário...- na estratégia de afrontamento indizivel e invisivel entre os interesses estratégicos globais dos USA e o novo poder económico da Rússia e aliados. Niet

A.Silva disse...

niet você pode não ser empedernido, mas lá que o seu discurso parece ser de um calhau isso parece.

Arguto msp, se tiver um tempinho era capaz de me traduzir o que o niet quer dizer com aquele arrazoado todo?

Miguel Serras Pereira disse...

A. Silva,

foi só perante a impossibilidade da parte de Khadafi de calar rapidamente e em força os manifestantes, que, depois de o terem defendido e desculpado, hesitado e vacilado, recorrido aos serviços diplomáticos de Berlusconi e outros, que os governos europeus e Obama tentaram o mal menor - "mudar as coisas para as manter na mesma" (as palavras são outras, mas a ideia de Tancredo é esta, como sabe).
Aqui vai - em francês, porque não tenho tempo para traduzir o texto - mais um documento que prova quem beneficiava com a opressão e as agressões secundadas pelo imperialismo exercidas por Khadafi sobre os líbios, a que alguns, como é o seu caso, chamam a "independência nacional" da Líbia.

"Le groupe informatique français Bull et sa filiale Amesys auraient activement contribué à l'espionnage de l'opposition libyenne par Mouammar Kadhafi. Un reportage du Wall Street Journal dans un ancien QG des services de sécurité et des images tournées par la BBC viennent de le confirmer.
Ce mardi, deux reporters du Wall Street Journal racontent leur visite dans le bâtiment d'où le régime libyen surveillait les communications. Ils y ont notamment retrouvé des manuels rédigés en anglais, mais portant le logo d'une entreprise française, Amesys, filiale du groupe Bull.

Un reportage de la BBC confirme, en images, le rôle de la société française. Des documents retrouvés dans le bâtiment abandonné sont bien signés d'Amesys. (Cliquer sur l'image pour accéder au reportage)



Le colonel Kadhafi se méfiait d'Internet, même si, comme le souligne le Wall Street Journal, la Libye ne comptait que 100 000 abonnements, pour 6,6 millions d'habitants. Selon le quotidien américain, il aurait fait appel à Amesys en 2009.

Les Français lui auraient fourni un système d'interception des communications baptisé Eagle, auquel le site Reflets.info s'était intéressé en mai dernier. Il permet de surveiller les communications par e-mail, par téléphonie en ligne (par exemple, Skype) ou par chat (par exemple, sur MSN).

« Ce système stratégique est conçu pour répondre aux besoins d'interception et de surveillance à l'échelle d'une nation », se félicite d'ailleurs Amesys sur son site.

La filiale de Bull n'était pas la seule à lorgner sur le marché libyen : des entreprises chinoise et sud-africaine ont aussi apporté leur assistance technique à la dictature. En toute discrétion".
(http://www.rue89.com/2011/08/30/libye-une-entreprise-francaise-participait-a-la-repression-219888)

Anónimo disse...

Sr. Silva: Está provado que não percebe o mínimo do que se passa na Libia, em particular, e no Médio Oriente, em geral. Por isso, está objectivamente impossibilitado de entender aquilo que escrevo. E o que escrevo sinaliza a tese mais livre, aberta e realista que existe: a situação política na Líbia está longe de estar estabilizada; e, segundo um historiador da Uni da Califórnia, geralmente os golpes insurrecionais- e que beneficiam de ajudam externas- armados geram quase sempre novas ditaduras. A sua kassete, sr. Silva, não serve e tem que a deitar para o lixo, de forma a poder tentar perceber o minimo do puzzle geo-estratégico que se desenrola à sua frente. Niet

A.Silva disse...

Msp veja lá você que o kadafi até acusou o sarkozi de receber dinheiro dele prá campanha eleitoral!

Já agora por causa de franceses e colagem aqui de notícias e teorias vindas da net, cá vai outra:

“El complot para derrocar a Gaddafi se perfeccionó en diciembre 2010: Nicolás Sarkozy tenía una bolsa llena de motivos para vengarse de Muammar El Gaddafi.

Bancos franceses le dijeron a Sarkozy que Gaddafi estaba a punto de transferir sus miles de millones de euros a bancos chinos. De este modo el líder libio no podía de ninguna manera ser en un ejemplo para otras naciones árabes sobre los fondos soberanos.

Corporaciones francesas le dijeron a Sarkozy que Gaddafi había decidido no comprar más aviones Rafale, y no contratar a los franceses para construir una planta nuclear; el líder libio estaba más preocupado por invertir en servicios públicos.

La gigante petrolera Total quería un pedazo mucho más grande de la torta petrolera de Libia — la cual estaba siendo comida en gran parte por Europa, por la italiana ENI, especialmente porque el primer ministro Silvio Berlusconi, un fanático confeso de Gaddafi, había cerrado un acuerdo complejo con el mandatario libio.

De este modo el golpe militar fue perfeccionado en París en diciembre; las primeras manifestaciones en Cyrenaica en febrero, enormemente instigadas por los conspiradores, fueron frustradas.

El auto promocionado filósofo Bernard Henri-Levy voló a Benghazi para conocer a los “rebeldes” y telefoneó a Sarkozy, virtualmente ordenándole que los reconozca a principios de marzo como legítimos (no era necesario un estímulo para Sarkozy).

El Consejo Nacional de Transición fue inventado en París, pero las Naciones Unidas también debidamente se lo tragó como el “legítimo” gobierno de Libia, solo que la OTAN no tenía un mandato de la ONU para ir de una zona de exclusión aérea a un bombardeo “humanitario” indiscriminado, culminando con el actual asedio a la ciudad de Sirte.

Los franceses y los británicos redactaron lo que se convertiría en la Resolución 1.973 de la ONU. Washington alegremente se unió a la fiesta. El Departamento de Estado negoció un acuerdo con el Rey saudí a través del cual los sauditas garantizarían un voto de la Liga Árabe como un preludio para la resolución de la ONU, y a cambio serían dejados tranquilos para reprimir cualquier protesta pro-democrática en el Golfo Pérsico, como lo hicieron, salvajemente en Bahrain.

El Consejo de Cooperación del Golfo (GCC por sus siglas en inglés) también tenía toneladas de razones para deshacerse de Gaddafi. Los sauditas amarían acomodar a un emirato amigable en el norte de África, especialmente deshaciéndose de la mala sangre entre Gaddafi y el Rey Abdullah. Los Emiratos querían un lugar nuevo para invertir y “desarrollar”.

Qatar, muy amañada con Sarkozy, quería hacer dinero — como el manejo de las nuevas ventas de petróleo de los “legítimos” rebeldes.

(…)
Gaddafi no solo cruzó todas estas líneas rojas, también trató de escabullirse del petrodólar; él trató de vender la idea a África de una moneda unificada, el dinar de oro (la mayoría de los países los apoyaron); él invirtió en un proyecto multibillonario — el Gran Río Artificial, una red de tuberías distribuidas bombeando agua fresca desde el desierto hasta la costa mediterránea — sin doblar sus rodillas en el altar del Banco Mundial; él invirtió en programas sociales en países pobres del África subsahariana; él financió al Banco Africano, permitiendo así la superación de las naciones para evitar, una vez más, al Banco Mundial y al Fondo Monetario Internacional; él financió un amplio sistema africano de telecomunicaciones que evitó redes occidentales; él aumentó la calidad de vida en Libia. La lista es interminable.”

A.Silva disse...

Niet, que dizer a alguém que nos diz:

“Está provado que não percebe o mínimo do que se passa na Líbia, em particular, e no Médio Oriente, em geral. Por isso, está objectivamente impossibilitado de entender aquilo que escrevo.”

Prontos, agente reduz-se à sua insignificância e segue caminho… deixando o calhau no sítio onde o encontrou.

Já agora, há alguns anos e por piada, quando queria dar um ar de credibilidade a uma afirmação minha (coisas menores é claro), tinha por hábito juntar-lhe este remate:
”... segundo um estudo da universidade tal americana!”

Com o tempo, deixei de usar tanto essa piada, mas ainda hoje a uso quando me lembro.
Portanto como pode ver, você e o seu “historiador da Uni da Califórnia”, a kassete que você usa já a mim quase que se esqueceu.

Miguel Serras Pereira disse...

A. Silva,

em meu entender, os elementos que V. fornece deveriam levá-lo a adoptar uma posição bastante parecida com a minha sobre a legitimidade que assiste aos que, sem esperarem pela intervenção sob o comando da NATO, começaram por se revoltar contra Khadafi, exigindo o fim da ditadura - à semelhança do que se acabava de passar na Tunísia e no Egipto. O facto - indubitável - de as potências ocidentais terem, depois, a pretexto de cumprimento de um mandato das NU cujos termos excederam claramente, procurado canalizar o processo de modo a garantirem os seus interesses na região, não tira legitimidade à revolta, nem prova que a solução seja entregar de novo a Líbia a Khadafi.
A propósito, já viu o último apelo do Führer líbio, agora em parte incerta?
"Não somos mulheres, vamos tornar a Líbia num Inferno, os que lutam contra o meu regime são tradiores, quem diz o que é a Líbia sou eu" - bom, o resumo não é literal, mas suponho que sirva para os efeitos desta discussão. Diga-me lá se acha que alguém pode não apoiar quem se revolta contra esta criatura tão sinistra como grotesca, que quer continuar a alimentar-se ao mesmo tempo do petróleo do país e do sangue dos seus compatriotas?

Anónimo disse...

Sr. Silva, com franqueza, o uso da manobra de divertimento/ dilatória e o simulacro da fuga para diante geram muito pouca Informação. Nisso deve estar de acordo comigo, ou não? Pois, o sr. não consegue sair de uma inoperante cena circular e fraquérrima,vaga e quase nula...de Informação,repetindo estafados estribilhos da Imprensa " tendenciosa " ao serviço dos mais espúrios designios políticos e civilizacionais, dando relevo a uma marcada lógica totalitária condenada a prazo ao maior dos fracassos. Niet

A.Silva disse...

msp, há argumentos que se não fosse o facto de estarmos a falar no mínimo de 50 000 vidas vitimas da "ajuda humanitária", eram uma barrigada de riso.

Com que então dá-se o caso dos “rebeldes” sabendo como as coisas estavam, resolveram adiantar-se às forças da nato e começaram a revoltar-se contra kadafi. Pronto, depois as forças da nato a pretexto do cumprimento de um mandato das NU (que caiu do céu), canalizaram o processo de modo a garantirem os seus interesses.

Partindo dos seus pressupostos, há quem pense que as supostas revoltas na líbia foram combinadas com a nato de forma a encontrar um pretexto para a sua intervenção, repetindo outras recentes guerras com o seu interminável rol de cadáveres e destruição das infraestruras de países (os poços de petróleo miraculosamente ficam sempre a salvo)

Das duas três, ou você percebe tudo (como até parece perceber) e toma o partido dos criminosos da nato, ou então você até vê e sabe de alguns factos mas depois não sabe relaciona-las e tirar as devidas ilações e ai terei de pensar que afinal não é tão arguto como eu pensava.

A.Silva disse...

Niet será que nas suas cogitações acerca dos jogos de geoestratégia que modelam o futuro do mundo, há algum lugar para a vontade dos povos, ou é tudo um mero jogo entre as grandes potências no qual a vontade dos povos não interessa para nada?

Miguel Serras Pereira disse...

A. Silva,
desde quando é que as interferências imperialistas a que qualquer crise de regime dá azo, seja onde for, são uma razão para que as populações exploradas e oprimidas se resignem à ditadura e à dominação de classe?
Remeto-o para o artigo do Luís Leiria no esquerda.net.

V. pensa que não existiram interferências dos governos ocidentais junto dos militares, de organizações políticas várias, de personalidades-chave, no Egipto e na Tunísia? Pensa que não foi TAMBÉM no interesse dos americanos que o exército deixou cair Mubarak? E então? Então, sucede que essas manobras e inteferências - dos EUA, da RPC, dos países-guia da UE, da Rússia, etc. - não significam que não haja iniciativas populares autónomas ou que essas iniciativas possam ser caracterizadas como pura e simplesmente "ao serviço de" uma ou outra coligação de grandes potências.

Senão, explique lá porque é que a revolta merece o seu apoio na Tunísia, mas não na Síria; no Egipto, mas não na Líbia; na Arábia Saudita, mas não no Irão; na Grécia (contra a precariedade e exploração), mas não na RPC (contra as condições servis de trabalho e os sindicatos ao serviço do capital), etc. etc.
Eu aprendi que o socialismo significa a democracia dos trabalhadores e do conjunto da grande maioria dos homens e mulheres comuns expropriados de riqueza e de poder, e a defesa dessa democracia contra os que monopolizam o poder político classista e a disposição dos meios de produção, a direcção da economia, em seu proveito particular. A definição parece-me boa - embora muito mais houvesse a dizer - e não estou disposto a esquecê-la, enquanto não me apresentarem outro programa melhor. E é por isso que me estou nas tintas para a "independência nacional" quando invocada contra a "soberania popular", ou para as versões do direito dos povos à autodeterminação que implicam a legitimação de governos oligárquicos e da exploração de classe. E é q.b. - até mais ver.

msp

A.Silva disse...

msp lá tá você a inventar (e a mentir), onde é que eu escrevi ou afirmei que não apoiava a revolta na siria?

aliás nem apoio nem deixo de apoiar, acho é que os sírios têm o direito (e já agora o dever) de lutar pelo seu destino, como parece estar a acontecer e mostrar à gente da sua "esquerda", que afinal os povos (mesmo os arabes) não precisam das bombas da nato para se libertarem.

Já agora a propósito dos seus rebeldes líbios, aconselho-o a ver a reportagem de hoje do jornal da noite da sic, onde a cândida pinto mostra, como uma coisa natural, uma prisão em Tripoli, onde o único crime cometido pelos presos é a cor da sua pele revelar que eram originários da áfrica negra e entrando na prisão, a cândida cândida pinto parece também achar normal e a coisa mais democrática do mundo que os prisioneiros, mesmo não sendo muçulmanos, sejam obrigados a dar vivas a alah.

Para além disso, nunca vi revolução (ou será rebelião?) em que os revoltosos passam a maior parte do tempo aos tiros para o ar e aos saltos de suposta alegria para as tv`s livres do ocidente mostrarem cá ao pessoal, para nos confirmar a justeza das bombas lançadas pela nato.

Miguel Serras Pereira disse...

A. Silva,
ainda bem que não condena a revolta na Síria - mas parece-me que salta demasiado facilmente por cima da exigência internacionalista, pondo as coisas nos termos em que as põe.
É, de um modo geral, com maciças cumplicidades internacionais (oligárquicas) que os ditadores como Asad - ou Khadafi - se dotam de meios militares esmagadores para manterem, a pretexto de "independência nacional", as populações dos seus países em condições intoleráveis.
Assim, é dever dos que defendem as liberdades e direitos sociais mais elementares - pelo menos esses - solidarizarem-se com as revoltas, exigirem sanções para os regimes opressivos, pressionarem os seus governos nesse sentido, etc. Nem todas as intervenções são necessariamente imperialistas - não lhe parece?

msp

Niet disse...

Ao sr. A Silva, como uma espécie de cântico de libertação, acima de tudo. " Não espero que os homens se transformem em anjos, nem que as suas almas se tornem puras como os lagos das montanhas- que não cessaram sempre de me perturbar profundamente. Sei quanto a cultura presente agrava e exaspera a vossa dificuldade de ser, e de estar com os outros, e vejo que multiplica sem fim os obstáculos para a vossa liberdade(...) Desejo que o outro-meu interlocutor- seja livre, porque a minha liberdade começa onde começa a liberdade do outro e, sózinho, não posso ser senão no máximo " virtuoso na infelicidade ".(...) Sei, por certo, que este desejo não pode ser realizado hoje; nem mesmo, se a revolução eclodisse amanhã, isso se realizaria ainda no decorrer da minha existência. Sei que os homens viverão um dia sem a lembrança sequer da série de problemas que tanto nos flagelaram no nosso quotidiano. Mas isso não me pode reduzir nem ao desespero, nem à ruminação catatónica. Farei tudo para levar por diante este meu desejo. Só posso trabalhar para que se realize. E já na opção que realizo como interesse principal da minha vida, no trabalho que nisso invisto para mim pleno de sentido( mesmo se deparo e aceito o falhanço parcial, os prolongamentos, os desvios, as tarefas que não têm sentido em si-mesmas), na participação numa colectividade de revolucionários que tenta ultrapassar as relações reeificadas e alienadas da sociedade presente- estou com capacidade para realizar parcialmente esse desejo. Se porventura tivesse nascido nma sociedade comunista, a felicidade talvez tivesse sido mais fácil- não sei nem posso fazer nada por isso. E não vou por força desse pretexto passar o meu tempo livre a ver televisão ou a ler romances policiais ". C. Castoriadis, I.Imaginaire de la société. Edt. Du Seuil. Niet