Merecemos o nosso passo de bichos de dilúvio
merecemos que nos ceguem todos os dias
merecemos estar sozinhos rodeados de prédios
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfoEgkHSvciGtrNrwiinDrEDx8shCVY2L5jqYLd_MmxsNSwi-U9tykOcwhqXsx_B1yneHjtZg6avZ8B3LdMthQ4rPQXVpbDlweJXSI8Xnnpq05fPOe9N9WordrczRIWRLPHVaFHYSI5oo-/s320/220px-Fernando_Nobre_02.jpg)
fim princípio moleza dos costumes
assassinatos histórias de basílicas
e até porque não dominicais
mas como não gritar à passagem triunfal do Grande Monstro Parado
como sermos bem nós e a localidade
muito bem disfarçada de necessidade
pela subterrânea passagem que é a nossa
(…)
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkPODl6eA5bpteqNrYiOq71i70PiVN2fx5C0fascFlS9bmvBCtvEuSsjCAgpa8DBkdTn-7KkPt0MOBqmBaje_2Np2BMtaQwoiXqmJ6YoHDSps5UwLZEYlxpJRTPG8RFsZHVpsfKIziU8Xu/s1600/Unknown.jpeg)
Dito isto fica um grande espaço vazio
onde o homem está só não já de corpo ou de espírito
mas de todo o murmúrio e todo o espasmo
e então sim contra os vidros
o amor soluça tempestade
deuses cegos assomam às janelas e tombam
sobre o odioso chão que ladra e ladra
uma aurora de cães afivela o teu pulso
e a cobardia responde à cobardia
como a coragem responde à coragem
Um pouco de certo modo por toda a parte
há homens desmaiados ou simplesmente mortos
O AMOR REDIME O MUNDO diziam eles
mas onde está o mundo senão aqui?
Mário Cesariny
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