31/01/11

Sobre as escolas públicas e privadas

Muita gente da minha área politica é capaz de não concordar com o que vou escrever, mas não tenho numa objecção de principio a um sistema em que as famílias possam por os filhos numa escola privada (ou numa escola organizada pelo sindicato, ou por uma "associação pedagógica alternativa", ou um colectivo autogerido de professores, ou seja o que for) e que seja o Estado a pagar (e não família em causa).

Desde que:

- o valor que o Estado pague à escola privada (ou sindical, ou "alternativa", ou...) seja equivalente o custo marginal de um aluno na escola pública

- a escola privada respeite os direitos dos seus trabalhadores

- a escola privada não cobre propinas adicionais ao subsidio estatal

- a escola privada não seleccione alunos (ou, se o fizer, o faça nas mesma circunstâncias da estatal)

Vamos analisar isso ponto por ponto (excluindo a questão dos direitos laborais, que é tão óbvia que não precisa de ser explicada):

Pagamento de acordo com o custo marginal - o "custo marginal" corresponde ao aumento de despesa que o Estado tem por mais alunos frequentarem a escola (ou, inversamente, a poupança que há se alunos deixarem de frequentar a escola). Os defensores dos "contratos de associação" falam muito do "custo por aluno", mas escondem essa diferença entre o custo marginal e o custo médio (despesa total a dividir pelo número de alunos) - no custo médio estão incluídos custos de estrutura que as escolas públicas têm sempre, tenham muitos ou poucos alunos. Ora, se um aluno não frequenta a escola pública mas o Estado tem as mesmas despesas que teria se ele a frequentasse, porque razão o estado deve ir ainda gastar dinheiro adicional a subsidiar uma escola privada? Só faz sentido subsidiar alunos numa escola privada se esse subsidio for igual (ou menor) do que o dinheiro adicional que o Estado gastaria se eles fossem para a escola pública.

Ausência de propinas adicionais - nos sistemas de "contratos de associação"/"charter schools" o Estado paga e as famílias não pagam nada; no sistema do cheque-ensino, ass escolas privadas fixam o valor das suas propinas (tal como agora) e o Estado dá uma espécie de subsidio às famílias para pagar as propinas, que as familias podem complementar com dinheiro delas (caso a escola que querem cobre uma propina mais alta que o valor do cheque-ensino). Eu sou contra o segundo sistema, tanto por razão filosóficas como pragmáticas:

A razão filosófica é acho que só faz sentido subsidiar alunos na escola privada se for para assegurar igualdade de acesso à educação; mas, num sistema em que as escolas cobrem propinas adicionais além do subsidio, isso quer dizer que as escolas "de elite" continuaram a ser para a elite económica e social, logo não vejo que essas escolas (ou os seus alunos) devam receber subsídios.

Depois há a razão pragmática - um sistema desses arriscava-se a uma espiral inflacionária: como as "melhores" escolas continuariam fora do alcance de muita gente, haveria pressões para o governo subir o valor do cheque-ensino (em nome da "justiça social"), que por sua vez incentivaria as escolas a subirem também o valor das propinas (já que agora os seus clientes poderiam pagar mais), o que levaria ainda a mais aumentos no cheque-ensino, numa potencialmente enorme transferência de riqueza para as escolas privadas mas que pouco ou nada benificiaria os alunos e as suas famílias (tanto no privado como no público)

- Não selecção de alunos - a razão aqui é a mesma que a "razão filosófica" apresentada no ponto anterior: não faz sentido estar a subsidiar escolas reservadas a elites. Há quem argumente que todas as escolas (desde que tenham mais procura do que capacidade) precisam de seleccionar; eu até acho que não, mas, a ser assim, pelo menos que essa selecção seja feita por uma regra geral comum a todas as escolas e que não crie circulos viciosos de favorecimentos (os melhores alunos irem para as melhores escolas e ficarem ainda melhores, os piores irem para as piores e...).

Eu até tenho uma ideia de, a ter mesmo que haver selecção de alunos por escolas, de qual seria talvez o sistema menos mau [Atenção: ver adenda no fim do post]: quanto mais afastada fosse a nota do aluno face à nota média, mais prioridade teria (ou seja, os bons e os maus alunos ficariam à frente dos médios).

Razões para isso:

1º um sistema que desse prioridade aos bons alunos teria o problema que referi ali atrás; um sistema que desse prioridade aos maus alunos poderia levar a incentivos perversos. Um sistema que favoreça os bons e maus alunos não teria esses problemas

2º a razão mais importante - os bons e maus alunos são, por norma, pessoas mais complicadas que os médios, logo irem para uma escola "boa" ou "má" pode ser decisivo para a sua vida futura; já os alunos médios tendem a ser "médios" em qualquer situação - note-se que não estou a dizer que as "boas escolas" para os "bons alunos" serão necessariamente as mesmas "boas escolas" para os "maus alunos" (sem ter feito qualquer estudo sobre o assunto, baseando-me apenas na minha intuição, diria que os "maus alunos" precisam de muita atenção em quantidade e qualidade, os "médios" de atenção média em quantidade e qualidade, os "bons" de muita atenção em qualidade e pouca em quantidade).

Adenda: na verdade, acho que o sistema que o Pedro Viana sugere ("sortear os lugares existentes") muito melhor e mais simples do que o que propus.

Repensando o caso Sakineh Ashtiani

Há uns meses falou-se (inclusive eu) muito do caso da iraniana Sakineh Ashtiani, condenada à morte pelo regime dos ayatollahs.

Não discordo de nada do que foi feito a seu favor (e espero que ainda venha a ter resultados) nem me arrependo do que escrevi na altura, dos mails que reencaminhei, etc.

No entanto, atendendo ao ritmo a que se enforcam pessoas no Irão, e por crimes até mais leves do que Ashtiani é acusada, começo a interrogar-me sobre a racionalidade lógica de concentrar especificamente as campanhas, mobilizações, etc. sobre ela em vez de noutra pessoa qualquer...

Por outro lado, também é verdade que "a morte de um individuo é uma tragédia e a de um milhão é uma estatística" (Estaline, creio), pelo que concentrar uma campanha em torno de um pessoa específica (em vez de nas dezenas de pessoas em risco de ser executadas no Irão) até é capaz de ser mais eficiente e mobilizador.

Incendiar a noite


"Aquilo que deve fazer-se para sabotar a realidade é muito simples: há que recusar-se ser uma microempresa. Há que converter-se num interruptor de moblização global. Interromper a mobilização que nos porta e incendiar a noite. Incendiar a noite não acaba com a noite. Acaba, sim, com o medo da noite."

 Santiago López-Petit, "A Mobilização Global, seguido de O Estado-Guerra", Porto, Deriva, 2010 (Trad. Rui Pereira)

Uma política criminosa e suicida

Ao contrário do que afirmam Peres e outros porta-vozes oficiais das autoridades israelitas,  a única garantia política consistente contra os regimes confessionais fanáticos, que põem em causa o direito à existência do seu país e do seu povo, é a democratização. Assim, as posições assumidas pelos responsáveis israelitas perante os acontecimentos no Egipto são, ao mesmo tempo, criminosas — garantir, através da estabilidade das ditaduras os regimes "amigos", a segurança do seu próprio regime cada vez mais confessional e opressivo — e suicidas. Aos verdadeiros amigos de Israel resta, portanto, esperar que a revolta popular desperte, exija a democratização do regime e varra do poder os governantes fanáticos que constituem uma ameaça mortal  dirigida contra o seu próprio povo.

El presidente de Israel, Simón Peres, ha manifestado hoy su apoyo explícito a Hosni Mubarak, al expresar su posición sobre la revuelta egipcia. "Siempre hemos tenido y tenemos gran respeto por el presidente Mubarak. No decimos que todo lo que haga sea correcto, pero hizo una cosa por la que le estamos agradecido: mantener la paz en Oriente Próximo", ha dicho Peres, insistiendo en que "un régimen fanático y religioso en Egipto no será mejor que la falta de democracia".

Esta explicita declaración llega poco después de que Israel pidiera a EEUU, China, Rusia y varios países europeos que bajen el tono de sus críticas al régimen de Mubarak. Según informa el diario Haaretz, el Ministerio de Asuntos Exteriores israelí remitió el sábado un cable a sus embajadas en Estados Unidos, Canadá, China, Rusia y varios países europeos. En el mensaje las autoridades israelíespidieron a sus diplomáticos que transmitieran "lo antes posible" a los gobiernos occidentales la importancia de preservar "la estabilidad en Egipto". En los últimos días, Tel Aviv ha tratado de convencer a sus aliados de que es necesario mantener en el poder a Mubarak, que ha garantizado el cumplimiento del acuerdo de paz firmado entre Egipto e Israel con los Acuerdos de Camp David en 1978.

Nem mais [ou a democracia quando nasce devia ser para todos]

The American government cannot ask the Egyptian people to believe that a dictator who has been in power for 30 years will be the one to implement democracy (...) This is really a farce. I mean, people here could be poor, but they're intelligent.
Mohamed ElBaradei
, a propósito da posição da administração norte-americana sobre a crise no Egipto.

Valhalla Rising: o Inferno na Terra


Valhalla Rising é uma das poucas obras-primas que o Cinema já nos ofereceu neste milénio tão bisonho. Um filme com pouco mais de 2.000 palavras faladas e dominado de fio a pavio pelo peso tremendo da Natureza; dos maciços rochosos ao nevoeiro oceânico, os corpos e rostos humanos encontram-se sempre subjugados pela imensidão hostil dos elementos. Corpos e rostos. Filmados com a solenidade hierática de um Dreyer, mas sempre possuídos por paroxismos de violência e crueldade, como se alguém se tivesse lembrado de encenar um Mad Max metafísico.
O dinamarquês Nicolas Winding Refn filma esta epopeia celebrando o gore quase insuportável, agredindo-nos com erupções de planos oníricos/alucinatórios tingidos da cor do ódio que banha todas as acções do protagonista. E a presença constante de uma música espectral e áspera apenas sublinha a precariedade de vidas subjugadas pelos seus demónios, perdidas num mundo de que nem a cartografia conhecem. Aquelas almas condenadas sabem-se impotentes para alterar o mundo; todas as edificações que vemos são transitórias, frágeis: crucifixos, uma jaula, monumentos fúnebres. Apenas uma aura quase imperceptível rodeia alguns daqueles homens perdidos, modulando as paisagens que os rodeiam com a fugacidade enigmática das coisas verdadeiramente sagradas.
Comprem este filme, arranjem-no como quiserem. Mas não se privem desta hora e meia que me restaurou a crença nas capacidades do Cinema de hoje.

30/01/11

Uma divisa de Catarina da Rússia e a revolta tunisina na perspectiva de Juan Goytisolo

Publicado em El País, mais um muito recomendável exercício de — e convite à — reflexão de Juan Goytisolo. Aqui ficam a epígrafe e alguns parágrafos da conclusão como incentivo à leitura na íntegra do breve ensaio.

"La plebe no debe recibir educación. Pues si sabe tanto como yo, me desobedecerá en la misma medida en la que ahora me obedece". Catalina la Grande, zarina de Rusia.
(…)
Lo ocurrido en la pasada década desde el monstruoso atentado del 11-S abre un periodo de turbulencias inéditas en la historia reciente de los pueblos de Oriente Próximo. Si la respuesta a la política israelí en los Territorios Ocupados de Palestina, al genocidio de los musulmanes bosnios y al aplastamiento del pueblo checheno por las botas del Kremlin venía cantada, cuanto sucede hoy introduce un elemento nuevo y más nocivo en la barbarie que se extiende por la región. La multiplicación de atentados suicidas contra las comunidades chiíes de Irak y Pakistán y el acoso a los cristianos de Irak y Egipto establecidos allí antes de la llegada del islam revelan hasta qué punto el sectarismo doctrinal y la regresión de los valores cívicos y educativos en la mayoría de Estados arabomusulmanes se vuelve contra los principios religiosos que predican de puertas afuera y constituyen un poderoso obstáculo a la aceptación en su ámbito de la validez universal de la democracia y de los derechos humanos, incluidos en primer lugar los de la mujer.

El temor y pusilanimidad del núcleo identitario araboislámico y su anclaje en la evocación de un pasado glorioso le inducen a negar el valor de la diversidad, del interculturalismo y la ósmosis. La labor esclarecedora de los marroquíes Abdellah Laroui y Mohamed Ábed Yabrí, del egipcio Naser Abú Zaíd, del argelino Mohamed Arkoun o el tunecino Hichem Djait choca por desgracia con el muro de una tradición teológica — en realidad de un discurso ideologizado — que ignora o rechaza los avances del pensamiento y las ciencias: "no creas en lo que ven tus ojos, cree en lo que te contamos". Los desastres acumulados a partir del inhumano régimen de apartheid israelí en Gaza y Cisjordanía y de la criminal destrucción de Irak sirven de coartada a un inmovilismo que perpetúa el estancamiento educativo y el desarrollo humano tanto en Oriente Próximo como en el Magreb.

La revuelta cívica tunecina que culminó en el derrocamiento de Ben Ali se ha convertido en el faro esperanzador que ilumina todo el espacio que se extiende del Atlántico al Golfo. Los pueblos han comprendido que pueden ser dueños de su destino gracias al modesto vendedor de frutas cuya inmolación galvaniza hoy las energías de millones de árabes que a través de Internet, teléfonos móviles y canales de televisión por satélite rompen su anterior aislamiento y expresan su cólera contra unas gerontocracias que les niegan la dignidad y el trabajo.

A ditadura chinesa teme contágio remoto e censura as revoltas egípcia e tunisina

Las autoridades chinas no quieren correr riesgos ante la posibilidad de un efecto de contagio de las protestas en favor de la democracia ocurridas en Egipto, Túnez y otros países musulmanes. Pekín ha bloqueado la palabra "Egipto" en los microblogs de portales como Sina.com y Sohu.com , que, cuando se efectúa una búsqueda, devuelven el mensaje "De acuerdo con las leyes, regulaciones y políticas relevantes, los resultados no pueden ser mostrados" o dicen que no han sido encontrados.

Pekín posee uno de los sistemas de censura de Internet más sofisticados del mundo, gracias, en parte, a tecnología suministrada por empresas extranjeras, con el que logra con bastante éxito controlar lo que pueden ver, leer y publicar sus 450 millones de internautas.

Las revueltas en Egipto y las imágenes de los tanques en las calles de El Cairo han traído a la memoria de muchos chinos los recuerdos de las protestas de Tiananmen, en la primavera de 1989, y la consiguiente represión a manos del Ejército, en la que murieron entre cientos y miles de personas, según las fuentes. Las manifestaciones, a favor de reformas políticas y democracia, fueron catalizadas por la corrupción y la inflación.
(…)
La prensa oficial ha informado en los últimos días de las revueltas en Egipto, e incluso de los cortes de Internet y el servicio de telefonía móvil en El Cairo. Pero lo ha hecho de forma limitada, y ha aprovechado lo sucedido para lanzar un mensaje que más parece destinado al consumo de su propia población. El diario Tiempos Globales, publicado por el Partido Comunista, asegura hoy en un editorial que la democracia no es compatible con las condiciones existentes en Egipto y Túnez, y que "las revoluciones de color" -en referencia al término aplicado por primera vez para describir las protestas en favor de reformas políticas en las antiguas repúblicas soviéticas- no pueden lograr democracia real.

29/01/11

O "mito" do 25 de Abril

A propósito das teses negacionistas expendidas nalguns comentários deste post do João Tunes e destoutro da Ana Cristina Leonardo, consideremos o 25 de Abril de 1974 e vejamos o que diria um negacionista:

1. Nesse dia não se passou nada de invulgar; foi um dia útil normal.
2. Os que dizem o contrário e se afirmam como testemunhas participantes no acontecimento mentem, ao serviço do PCP e outras forças políticas ou prestaram depoimento sob tortura ou ameaça.
3. Salgueiro Maia não saiu de Santarém nem comandou qualquer operação junto do Quartel do Carmo, em Lisboa, nem no seu interior. Prova: Cavaco Silva recusou-lhe a pensão, que, de outro modo, não teria podido negar-lhe.
4. A PIDE/DGS era um simples serviço de polícia alfandegária. A sua lenda como "polícia política" é dois ou três anos posterior à sua substituição e foi forjada por elementos maçónicos com lugares destacados na indústria farmacêutica.
5. Deixa-se a cuidado da imaginação do leitor interessado completar o quadro, com o número de argumentos congéneres que bem entender: acertará sempre.

QED

Quanto mais um ditador se agarra ao Poder...

...maior será a desagregação e perda de legitimidade do aparato Estatal que susteve o seu regime, no momento em que o ditador finalmente sai de cena. Ditadores teimosos originam revoluções mais profundas.

1704 The BBC's Lyse Doucet says there is a power vacuum in Cairo, a sprawling metropolis of 12 million people. In some neighbourhoods there is a situation of anarchy, with police stations ransacked and looted, and weapons stolen. In other neighbourhoods, residents have formed vigilante committees, and civilians are even directing traffic. The police are nowhere to be seen.

28/01/11

Itália com Berlusconi


Manifestantes egípcios atravessando o Nilo



[Via CNN This Just In]

Isto foi o que eu vi em Auschwitz-Birkenau

«Faz muito frio em Auschwitz», dirá depois a mulher israelita com quem me cruzo na estação de caminhos-de-ferro de Cracóvia. Aproxima-se com um papel na mão e pergunta-me num inglês áspero se poderei ajudá-la.
Respondo-lhe que não por ser também estrangeira, e ela continua a tentar junto à fila do guichet de informações: «Desculpem, sabem dizer-me onde fica o Hotel Chopin?»
Era o meu hotel. Acabámos a partilhar um táxi – eu, ela e o marido – e nessa noite fico a saber que são ambos filhos de judeus polacos que sobreviveram fugindo para a zona de ocupação russa. Quase toda a família que ficara na parte anexada pela Alemanha em 1939 morrera no campo de concentração e extermínio de Auschwitz. Aqui a «solução» foi praticamente final: dos cerca de 3 milhões de judeus que viviam na Polónia antes da guerra, restavam 100 mil em 1945.

A caminho do Campo, o guia polaco vai calado junto ao condutor. Antes da partida fizera questão de contar uma piada que adivinho da praxe, recolhidos nos vários hotéis os participantes do tour: «Este autocarro dirige-se a Auschwitz-Birkenau. Aos passageiros que quiserem descer é dada agora uma última oportunidade», e seguiram-se alguns risos de circunstância.
A viagem é monótona. Depois de Cracóvia, árvores. Árvores, árvores, árvores. Despidas, de ramos suplicantes. Aldeias desertas. Mais aldeias desertas. Uma película viscosa, cinzenta e triste, adere ao céu e à paisagem. Chove. Estamos na estrada há cerca de uma hora. À vista de um entroncamento ferroviário adensa-se o silêncio dentro do autocarro, apenas interrompido pelo ronronar do motor. Todos parecem aguardar o pior. Mas ainda falta.
As árvores austeras dão por vezes lugar a florestas sombrias a que se sucedem planícies cultivadas e, mais tarde, colado a Birkenau, ao fundo, depois da cerca de arame farpado, hei-de avistar um outro campo igual, de terra arada e duas casas. Todos os dias os habitantes das casas olham a cerca. O mais provável é não a verem. Está ali há mais de 60 anos. Uma coisa com mais de 60 anos, se se mantiver, muito, muito quieta passa a ser invisível. A física não explica mas é assim.

O guia informa agora que chegaremos dentro de pouco mais de 15 minutos e que a agência responsável pelo tour oferece um desconto de 20% no caso de uma segunda visita. No regresso explicará que também organizam idas às minas de sal de Wielicka e às montanhas Tatra, tudo muito perto de Cracóvia e a preços acessíveis: «Podem consultar os folhetos».

«Leve um casaco, faz muito frio em Auschwitz», diz a mulher israelita. No dia seguinte será pior. Volto de comboio e chego a Birkenau muito cedo. O local está praticamente deserto e ouve-se o barulho dos cortadores da erva. Do topo da torre de vigia principal, à entrada, avista-se a simetria desmesurada do campo de extermínio. Quase nada resta, mas ainda assim faz muito medo.
«Queria ir a Auschwitz», confesso em tom sumido ao recepcionista do hotel. Chegara a meio da tarde e andara pelas ruas de Cracóvia a confirmar que se trata de uma cidade belíssima, poupada pela guerra. O pudor não me deixara ainda pronunciar a palavra. Quero saber como chegar de comboio a Auschwitz.

«De comboio?!», e num golpe de magia larga sobre o balcão um folheto de excursões organizadas. «We have a very good tour to Auschwitz. Sai daqui às 9 horas, por volta das três e meia está de volta». Mostra-me o programa e, porque insisto no comboio, a contragosto consegue-me os horários. Já no quarto, telefono a informar que, afinal, mudei de ideias; se me pode incluir na lista do dia seguinte: «Nesse caso, terá de vir à recepção pagar o bilhete agora». Passa da meia-noite e a conversa com o recepcionista arrumara-me com o pudor. Apetece-me perguntar-lhe se tem pacotes de viagens com almoço e bebidas incluído.

Durante os anos de 1940-45, o número de vítimas do campo de concentração e extermínio de Auschwitz é calculado entre 1.100.000 e 1.500.000 pessoas, 90% das quais de origem judaica, a maior parte morta imediatamente à chegada, nas câmaras de gás. A plataforma de desembarque, onde os médicos SS seleccionavam os «aptos» e os «inaptos» (selecção a que só os judeus se sujeitavam), ficava em Birkenau. Os carris continuam lá.
Quando, apesar de arrematada a excursão, acabo por voltar sozinha de comboio, dirijo-me directamente a Birkenau (conhecido como Auschwitz II). À saída, pergunto a direcção para Auschwitz (I). Os restos dos carris, passados 60 anos da libertação do campo, separaram-se da estrada ocultos entre veredas bucolicamente cobertas de plantas e flores silvestres e não servem de referência. Explicam-me que terei de descer até uma pequena ponte e virar à esquerda. São cerca de quatro quilómetros que percorro sob uma chuva intermitente e fria e que me levam a Oswiecim, o nome polaco da localidade a que os alemães chamaram Auschwitz. À época do nazismo, o percurso era inverso e de sentido único: vinha-se para Birkenau para morrer.
O portão onde se inscreve a frase «Arbeit macht frei», milhões de vezes fotografado, torna-se insignificante quando comparado com o amplo parque de estacionamento junto à entrada, transbordando de camionetas, táxis e ruidosos grupos de visitantes de cujo roteiro turístico faz parte um desvio pelo local.
O tour do primeiro dia, embora rápido, incluíra os marcos mais terríveis do campo, do temível Bloco XI, com o muro de fuzilamento e as celas de tortura, ao crematório I, inaugurado por um grupo de prisioneiros soviéticos, cobaias do Zyklon B, o gás com que os nazis levariam a cabo a «Solução Final».
No Bloco IV expõem-se os despojos. Aquando da Libertação, as tropas soviéticas encontraram pilhas de roupa, loiça, sapatos, malas (onde os proprietários deixaram escritos os nomes, estratégia de engano que convencia os recém-chegados de que as poderiam recolher mais tarde…), óculos, próteses, fotografias de família anónimas cujos retratados nunca mais se haveriam de rever…
Numa vitrina amontoam-se latas usadas do mortífero Zyklon B, noutra tranças e restos de cabelo humano amarelecidos pelo tempo – uma pequena amostra das sete toneladas que os SS deixaram para trás e que deveriam ser exportadas para a Alemanha onde se transformariam em mantas, recheio para travesseiros, forros de casacos, edredões...
Um ser humano dificilmente suporta tamanha realidade. Saio para o ar livre. Eu e uma americana de idade avançada. Cá fora, prestes a acender um cigarro, somos interpeladas por uma religiosa que passa e nos lembra, sorriso rasgado, que «is not allowed to smoke in Auschwitz». Mudas e cúmplices, aspiramos o fumo bem até às entranhas. [A velha americana há-de mais tarde assustar-me (eu distraída) ao repetir-me à orelha, voz cava e grossa: «is not allowed to smoke in Auschwitz!!!». E rimo-nos.]

Não será a a única freira com quem me cruzo. Há muitas por aqui. E num terreno contíguo, o do edifício onde as carmelitas se instalaram em 1894, ergue-se uma cruz alta de seis metros, a que resta da acesa polémica que rodeou a colocação de mais de uma centena de cruzes em Auschwitz, em 1982. Na altura, o anti-semitismo renasceu nas palavras do líder da chamada Associação das Vítimas da Guerra, Mieczyslaw Janosz, um ex-polícia corrupto que se opôs vigorosamente à remoção dos crucifixos. Os símbolos cristãos foram retirados (excepto o referido), e as carmelitas partiram. Para um olhar atento, a tentativa de cristianização do local não passa despercebida.

São cinco da tarde e os sinos tocam a rebate. Embora a hora de fecho seja às seis, um grupo de japoneses toma os sinos pelo sinal de encerramento e começa a dirigir-se apressadamente para a saída. Outros visitantes põem-se a correr na direcção do som, tentando perceber o que se passa.
«Why-the-bells-are-ringing?», insisto pela terceira ou quarta vez junto de uma funcionária que simula não me perceber. Finalmente consigo que me expliquem, a contragosto, que o som vem de uma igreja próxima. Fazem questão de sublinhar, «fora do recinto do museu».
A polémica sobre a cristianização de Auschwitz não é de agora. A canonização de Maximilian Kolbe (1982) e Edith Stein (1998) pelo Papa João Paulo II já tinha provocado reparos da comunidade judaica internacional. O primeiro, um padre franciscano que trocou a sua vida em Auschwitz pela de um outro condenado polaco (Franciszek Gajowniczek), fora responsável por uma importante publicação católica em cujas páginas se liam artigos anti-semitas; Edith Stein, filósofa alemã convertida ao cristianismo nos anos 20, tornar-se-ia freira carmelita e acabaria gaseada em Auschwitz juntamente com a irmã, embora, naturalmente, não por ser freira católica mas por ser judia.
Nas palavras do rabino Leon Klenicki, um homem que se tem debruçado sobre o relacionamento actual entre as duas religiões, «prestar homenagem ao sofrimento cristão só é aceitável se isso não servir para negar a realidade de que o Holocausto foi essencialmente um programa de extermínio do povo judeu». Ou, como afirmou de modo definitivo o escritor e sobrevivente espanhol Jorge Semprún, e para acabar de vez com a ignóbil contabilidade dos cadáveres:
«Existe, com efeito, uma confusão antiga, amiúde fruto da ignorância, ou talvez de um pensamento equívoco ou malévolo, entre a deportação de inimigos do nazismo – alemães anti-hitlerianos, resistentes europeus – e o extermínio de judeus e ciganos. Os primeiros foram detidos e deportados pelos seus actos, quaisquer que fossem as suas origens sociais ou a sua religião. Os segundos são exterminados por serem o que são, mesmo que nunca tenham cometido um acto ou um mero gesto de oposição ao regime. A diferença, mesmo que o número de mortos resistentes fosse comparável ao dos judeus exterminados – e não o é, de forma alguma –, não é uma diferença quantitativa: é ontológica.»
Também por isto é difícil aceitar que em Auschwitz, onde o extermínio dos judeus atingiu o paroxismo, os únicos nomes referidos durante a visita guiada sejam os do padre Kolbe, Edith Stein e Stefan Jasienski (um prisioneiro da cela 21 do Bloco 11 que se supõe ser o autor do crucifixo e do Cristo gravados na parede que, vivamente, nos recomendam que olhemos). Como também se considera excessivo que no curto filme que se mostra aos visitantes se inclua uma missa católica e se perca a conta às religiosas cristãs e às cruzes.
«Ninguém vai a Treblinka», resume o jovem inglês que encontro na estação de Oswiecim, onde somos os únicos a aguardar o comboio de regresso a Cracóvia. Quanto a Auschwitz, o comentário é lacónico: «Too much noise.» De facto, há demasiado barulho por aqui.
Não em Birkenau, onde menos sobem e cuja desmesura assusta, a maior parte dos visitantes limitando-se às poucas barracas que sobram à entrada e a espreitar o campo do alto da torre de vigia. Desolação podia ser a palavra que define este campo de morte, onde os Blocos são nauseabundos e as ruínas dos crematórios se escondem ao longe, por entre árvores e erva fresca. Uma terra aparentemente igual a qualquer outra, mas regada a cinzas. É aí, junto ao Crematório II, não longe do local da revolta do Sonderkommando, que avisto cabriolando por entre arbustos uma jovem corça, indiferente aos delírios dos homens e à maldição do lugar, a que também parece indiferente, embora sem o álibi da inocência, a nova-iorquina saída directamente de um filme de Allen que clama a plenos pulmões não se conformar com o facto de não ter encontrado a escultura – «God! Uma madonna belíssima!» – que uma amiga tinha feito «expressamente para oferecer aos judeus».

Os fotógrafos amadores invadem Auschwitz, procurando enquadramentos perfeitos junto às cercas de arame farpado para o recuerdo de grupo. Há gente que passa apressada, turistas do horror que acrescentam a visita do campo ao seu currículo. E depois há os outros. Os que escondem as lágrimas sob óculos de sol em dia de chuva. Os que entram e saem sem dizer palavra. Ou os sobreviventes.
Eu vi-o em Auschwitz, velho e magro, apoiado numa bengala, e adivinhei-lhe a origem pela forma como andava por ali, como alguém que regressa a uma casa em ruínas à qual reconhece os cantos. Voltei a encontrá-lo por acaso em Kazimierz, o bairro judaico de Cracóvia, quando procurava a sinagoga Izaak, uma das oito sinagogas que voltaram entretanto a abrir portas. Ele disse: «Aqui era um bairro judeu». Eu disse: «Vi-o ontem em Auschwitz». Ele disse: «É possível. Uma irmã minha morreu lá em 19..., outra em 19...». Esqueci os nomes e as datas. O olhar dele era tranquilo, a voz amável, o pulso tatuado. Não consegui dizer mais nada. Fugi por vergonha de sentir uma dor que não me pertencia.
Talvez o mesmo tenha se tenha passado com Patrícia, do Porto, Portugal, que deixou escrito no livro de visitas do Pavilhão da Checoslováquia, em Auschwitz: «9 de Maio de 2005. Infelizmente, este local existe. Mas, já que existe, espero que muita gente o visite para que jamais se repita.» E acabava com a candura de que só um jovem poderia ser capaz: «Beijinhos e desculpem». (2005)

Para os amigos de Celine talvez involuntariamente amnésicos acerca de Auschwitz-Birkenau

Enquanto alguns choram ofensas omitivas cerimoniais e oficiais à memória do detestável sujeito Céline, uma besta publica e propagandisticamente antisemita durante o tempo em que os nazis metiam milhões de judeus nos crematórios (tendo sido, portanto, um cúmplice directo do holocausto), sem que se ponha em causa a liberdade de se ler e se gostar dos livros do escritor Celine, passou quase em silêncio uma efeméride que nunca se devia esquecer, a dos 65 anos passados desde a libertação de Auschwitz-Birkenau. Quando e porque, com a formação de cooperativas ideológicas e propagandísticas de paranóias neo-leninistas que por mor das alianças dos orfãos comunistas com os fundamentalistas islâmicos, se forja e desenvolve um neo-antisemitismo radical e violento, retomando a velha bestialidade que desaguou em Auschwitz-Birkenau. Como bem alerta Manuel António Pina, no JN:

Ontem, data da libertação, há 65 anos, do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, assinalou-se o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, memória, sobretudo, das suas inumeráveis vítimas anónimas, na sua imensa maioria judeus.
Mas as imundas ideias onde se fundou a "Endlösung der Judenfrage" ("Solução final da questão judaica"), ou o homicídio indiscriminado e brutal de milhões de seres humanos sem outro motivo que não a sua origem ou religião, não germinaram espontaneamente na cabeça de Hitler, tiveram, desde os primórdios do cristianismo, uma gestação de séculos. Nem acabaram com Hitler. Hoje, a aliança entre o fascismo teocrático islâmico e alguma esquerda herdeira do Marx de "A questão judaica" lembra de mais o pacto Ribbentrop-Molotov para não ser assustadora.

(publicado também aqui)

Não comer o pão que o diabo amassou

Não tencionava escrever sobre as eleições presidenciais, mas há muito tempo que não discordava tanto do Daniel Oliveira. (Por quem, digo desde já, em jeito de aviso ao anti-oliveirismo primário, tenho bastante respeito - seja lá isto o que for - político e não apenas em razão da amizade). Este seu post dá a sensação, porventura errada mas fica aqui a provocação, que ao Daniel assusta que a máquina institucional-mediática processa a política dominante nos dias de hoje deixe simplesmente de funcionar.

Ao Daniel assustará a improdutividade, ora aí está. Tal como alguns se especializam a classificar economicamente quem não faz como sendo um simples parasita - é ver os discursos em torno do rendimento mínimo e do desemprego -, outros fazem-no politicamente. Como se uma certa esquerda estivesse destinada a fazer cumprir na política o moralismo e a disciplina que a direita procura impor na economia. Como se a produção fosse apenas o que sucede no emprego, neste post do Daniel a política apenas pode ser o que se institui como lugar oficial da política, assim sendo objecto da análise e do comentário do comentarista e analista político e sujeito da acção do dirigente e do governante.

Construir as cidades para os outros? Não, mas tão importante como dizer não é dizer que isto tanto uma afirmação de índole económica como política.

Ricardo Araújo Pereira justificou o seu voto no Alegre dizendo que não simpatizava com o tipo mas que um gajo come o que lhe põem no prato. Este artigo do Daniel é o artigo de quem se limita a colocar o prato à nossa frente. A malta que confecciona o prato tem que deixar de achar que os eleitores comem tudo e mais alguma coisa. E, sobretudo, que só quem está de barriga cheia é que não vem à nossa mesa. Os motins (termo rude e tosco, disse alguém com acerto) não se fazem apenas e só porque não há pão, mas também porque o pão é mau. Havendo, até, quem prefira meter as mãos na massa e fazer o seu próprio pão.

Posto isto, diga-se que não só votei no Domingo (no Francisco Lopes), como entendo que, nestas eleições, faltou um projecto de apelo ao voto nulo/branco. Em relação a estas eleições, estou como presumo que estivesse agora José Saramago. Triste com a vitória de Cavaco, inquieto (preocupado, aflito, sim, mas inquieto também como se está na música "cá dentro inquietação, inquietação...sei é que não sei ainda") com a abstenção, os brancos, os nulos.

27/01/11

Novo governo na Tunísia

Al-Jazeera - Ben Ali allies dropped from cabine:
Mohammed Ghannouchi, the Tunisian prime minister, has reshuffled the interim government, dropping key ministers from the heavily criticised government of ousted president Zine El Abidine Ben Ali. (...)

The new cabinet includes 12 new ministers and keeps nine from the previous set-up. Among those replaced with independents were the ministers of interior and defence. (...)

Protesters, who earlier on Thursday stormed police barricades in Tunis, the Tunisian capital, had been calling for a purge of Ben Ali loyalists. (...)

Tunisia's powerful labour union, UGTT, will not join the new government itself but said it would approve of Ghannouchi staying in power, a factor that could help appease protesters demanding that the government be purged of members of the RCD.
   
The union has a large membership and has been involved in organising some demonstrations.

In what is being seen as an attempt to ease the tension on the street, the union decided to cancel a big protest rally scheduled for Friday.

However, Al Jazeera's Hashem Ahelbarra, reporting from Tunis, later said that the union appeared to backtracking from that position and was now unhappy with the announcement. (...)

Ahelbarra said it was, therefore, unclear if the reshuffle would be enough to placate the thousands of demonstrators who continued to throng the main Tunis boulevard, Bourguiba Avenue, demanding that the transitional government resign.

"Some people are saying that this is quite significant and it will send people back to their homes, on the other hand the thousands who have been demonstrating outside the government compound are saying this is not enough," he said.

"They would like to see the prime minister himself go because he is a reminder of the old regime."

Earlier on Thursday, protesters broke through police lines outside Ghannouchi's office, where hundreds of demonstrators have pledged to camp out until the government is gone.

Os dentes do eleitorado é que não merecem nozes tão roliças

Do editorial do comicamente impagável “Avante”:

Tratou-se de uma campanha sem paralelo no contacto directo com os eleitores, na mobilização, no esclarecimento. Uma campanha só possível de concretizar com o envolvimento empenhado nela do colectivo partidário comunista, a começar pelo Secretário-geral do Partido; dos jovens da JCP; dos nossos aliados do PEV e da ID e de muitos cidadãos independentes – uma campanha à qual o candidato, camarada Francisco Lopes, com um desempenho notável, conferiu uma elevação e um conteúdo assinaláveis.

(publicado também aqui)

O mercado maluco com os juros indisciplinados e as ameaças cavaquistas desnudadas

Manuel António Pina, no JN:

Talvez Cavaco se tenha esquecido de dizer aos mercados que podem regressar aos quartéis porque não haverá segunda volta. Ou talvez ande ocupado a tentar saber os "nomes daqueles que estão por detrás" da "campanha de calúnias, mentiras e insinuações" contra si e ainda não tenha tido tempo de telefonar aos mercados.

(publicado também aqui)

Eu estou com o Céline, pas vous?

Esta soit disant polémica será muito afrancesada, mas não deixa de ser paradigmática da pobreza de ideias que substitui hoje os debates a sério.
O autor do extraordinário Viagem ao Fim da Noite foi excluído das comemorações oficiais em França

[E confesso já que Viagem ao Fim da Noite deve ter sido o livro que mais me custou a ler até hoje. Não pelo tamanho, não pela dificuldade, certamente não pela falta de interesse. Apenas porque dali ninguém sai vivo — incluindo o leitor.]

Hoje Battisti, amanhã tu

Do Passa Palavra: Um grupo de cantores, entre os muito conhecidos na música portuguesa, juntou-se para interpretar esta canção de apoio à não extradição de Cesare Battisti. Pela Comissão de Apoio a Cesare Battisti (Portugal)
Veja aqui o “video-clip” desta canção - com letra de Manuela de Freitas e José Mário Branco, e música de José Mário Branco - com a qual se pretende chamar a atenção para o caso de Cesare Battisti, preso no Brasil há quase 4 anos e ameaçado pelo Supremo Tribunal Federal de ser entregue ao governo italiano.



FICHA TÉCNICA: HOJE BATTISTI, AMANHÃ TU
Letra de Manuela de Freitas e José Mário Branco
Música de José Mário Branco
Cantores: Aldina Duarte, Amélia Muge, Camané, Duo Diana & Pedro, Duo Virgem Suta, Fernando Mota. João Gil, Jorge Moniz, Jorge Ribeiro (grupo Baile Popular), José Mário Branco, Luanda Cozetti (Couple Coffee), Norton Daiello (Couple Coffee), Paulo de Carvalho, Pedro Branco, Tim.
Instrumentistas: Guitarra (violão): José Peixoto, Baixo eléctrico: Norton Daiello, Flauta e sax soprano: Paulo Curado, Percussões: Fernando Mota e José Mário Branco.
Captação e mistura áudio: Fernando Mota
Imagens filmadas por Rui Ribeiro

Montagem vídeo por Nelson Guerreiro

Gravado e filmado em Lisboa (Portugal), em 25 de Janeiro de 2011.

Uma iniciativa da Comissão de Apoio a Cesare Battisti (Portugal).

A explosao que surprendeu

Se algo de importante se passou em Portugal no decorrer das últimas semanas isso foi sém dúvida a revolta dos proletários tunisinos…

Aqui ficam mais umas linhas, chegadas do outro lado do mar e que ajudam a compreender o conteudo e a dinâmica deste movimento.

Que veio mostrar de novo, mesmo em épocas ditas post-modernas, que a única forma de nos libertarmos dos que vivem « com o suor dos outros » é de correr com eles.

O papel dos sindicatos na revolta tunisiana

Jamais un syndicat au Maghreb et au Proche-Orient n’a joué un rôle politique aussi important que celui joué par l’Union générale tunisienne du travail (UGTT) dans la révolte populaire en Tunisie. Mobilisés dès le début du soulèvement de Sidi Bouzid, ses cadres ont ouvert leurs locaux aux contestataires et porté leur voix dans les médias internationaux. Ils ont été à l’initiative de nombreuses actions de solidarité avec eux, en organisant des rassemblements, des marches et des grèves générales régionales dans différents gouvernorats. Sous leur pression, l’exécutif du syndicat a dû appeler à une grève nationale, le 14 janvier 2011, pour protester contre la répression.

Traînant le boulet de ses accointances avec le pouvoir en place (son soutien à la candidature de Ben Ali en 2004 et 2009), la direction de l’UGTT (représentée par son bureau exécutif) ne s’est pas spontanément rangée aux côtés des populations insurgées. Son soutien à leurs revendications n’est devenu franc qu’après que la protestation se soit étendue à l’ensemble du territoire prenant une teinte politique prononcée. Alors qu’elle s’était contentée de se faire l’écho des aspirations sociales de la jeunesse du Centre et de l’Ouest tunisiens (emploi, etc.), son discours s’est relativement radicalisé le 4 janvier 2011, lorsqu’elle a réclamé des réformes démocratiques en Tunisie.

Après la fuite de Ben Ali, cette direction a accepté de participer au gouvernement d’union nationale de Mohamed Ghanouchi avant d’en retirer ses représentants sous la pression de la rue et de ses cadres les plus radicaux. La déclaration de sa commission administrative réunie le 21 janvier 2011 montre que sa sensibilité aux revendications politiques populaires reste contrariée par le souci de ne pas couper les ponts avec les anciens maîtres du pays. Alors que l’exigence de démission du gouvernement Ghanouchi et de formation d’un cabinet de transition sans le RCD gagne en popularité, elle revendique, elle, un « gouvernement de salut national », dont elle évite soigneusement de définir la composition.

L’implication de l’UGTT sur le terrain politique s’explique, certes, par la nécessité pour son exécutif de se faire une nouvelle virginité, dans un contexte de radicalisation politique, marqué par la mobilisation de sa base et de nombre de ses structures intermédiaires aux côtés des Tunisiens révoltés. Cet exécutif redoute, en effet, de se voir violemment contesté, comme le sont actuellement le gouvernement Ghanouchi, le parti-Etat RCD, les anciennes directions des médias publics et privés, entre autres symboles du règne musclé du président déchu. Toutefois, le pragmatisme n’éclaire pas, seul, cet engagement politique croissant de la centrale syndicale tunisienne. Sa très grande politisation s’explique également par son histoire spécifique et par le pluralisme idéologique qui continue de la caractériser, en dépit des efforts de sa bureaucratie pour réduire au silence les syndicalistes indépendants, qu’ils soient nationalistes ou de gauche.

Dans un système aussi répressif que le système Bourguiba-Ben Ali, l’UGTT a été, dès les années 1970, un terrain d’action pour les mouvements hostiles au virage libéral bourguibien dont les nationalistes radicaux et une « nouvelle gauche » à sensibilité maoïsante ou trotskisante, en rupture avec l’héritage du Parti communiste tunisien.

Réprimés et interdits d’expression publique, ces mouvements ont formé au sein du syndicat un courant qui montre des signes de continuité programmatique depuis de longues décennies (lutte pour la radicalisation de l’UGTT, établissement de passerelles avec les opposants démocrates, démocratisation interne, etc.) et qui, au prix d’énormes sacrifices (emprisonnements, exclusions, etc.), a renforcé sa présence aux échelons intermédiaires (syndicats généraux, unions régionales, etc.) et, partant, dans la commission administrative nationale.

Ce courant n’a pas été complètement aspiré par la bureaucratie syndicale, et si au contact de l’appareil, son radicalisme a pu décliner, il n’est pas devenu totalement inactif. Revigoré dans les années 2000 par le réveil des luttes démocratiques, il y a pris part, contre l’avis de la direction, conciliante envers le RCD. Il se sent fort, aujourd’hui, de ce que le Bureau exécutif, après un soutien plutôt mou et principiel à l’intifada tunisienne, réclame, au lieu du rituel « approfondissement de la démocratie » benalienne, un changement démocratique en profondeur.

On ne peut certainement pas qualifier l’UGTT d’organisation indépendante mais elle n’est pas non plus un « syndicat jaune », dont la seule mission serait de voler au secours du gouvernement et du patronat pour éteindre les incendies ouvriers. Malgré la fermeture politique en Tunisie avant le 14 janvier 2011 et tout en se compromettant avec les autorités, sa direction a conservé une certaine liberté de manœuvre vis-à-vis du parti officiel (le Parti socialiste destourien, PSD, rebaptisé Rassemblement constitutionnel démocratique, RCD, en 1988). Nombre de crises qu’elle a vécues depuis sa naissance en 1946 ont été des crises de rapports avec ce parti, qui a toujours œuvré à en faire une de ses antennes.

[…]

La décennie 2000 a été une décennie de relance du syndicalisme combatif, presque éteint dans les années 1990. Si l’exécutif de l’UGTT a pu imposer à la Commission administrative de soutenir la candidature de Ben Ali à la présidence en 2004 et 2009, cette position sera jugée avec sévérité par nombre d’instances intermédiaires (syndicats généraux, unions régionales, etc.). Tenant compte des pressions des syndicalistes radicaux, il tentera de contrebalancer son appui au système par un discours à tonalité antilibérale, la participation aux initiatives altermondialistes (forums sociaux, etc.) et, au niveau politique, par la condamnation des ingérences gouvernementales dans le fonctionnement de la Ligue des droits de l’homme. A défaut de soutenir la contestation du bassin minier de Gafsa (janvier-juin 2008), il s’est contenté d’appeler à la libération des personnes arrêtées lors des violents affrontements qui l’ont émaillée avec les forces de police.

L’explosion de Sidi Bouzid a surpris la direction de l’UGTT en pleine conciliation entre les impératifs de sa propre survie (liée à celle du secteur public) et sa soumission à un régime maintenant au-dessus d’elle cette même épée de Damoclès qui s’était abattue sur Ismaïl Sahbani en 2000 [imposé à la tête de l’UGTT par Ben Ali afin de réprimer la gauche syndicale, Ismaïl S. sera condamné en 2000 pour corruption. Il fut Remplacé par Abdeslam Jerad]. Elle est aujourd’hui de plus en plus délégitimée. Les syndicalistes qui rejettent sa ligne modérée exploiteront-ils son affaiblissement pour lancer le processus de réappropriation du syndicat par les travailleurs ?

[…]

Yassin T.

29 janvier 2011

Uma maioria feita de votos medricas entregue a um messias?

VGM, no seu vómito semanal via DN:

A campanha foi ainda muito interessante num outro aspecto: veio mostrar que, finalmente, os portugueses estão borrados de medo. Enfiaram barretes sucessivos votando as maiorias socialistas que os defraudaram com promessas não cumpridas e se encarregaram de levar o país à ruína. Deixaram de acreditar em cornucópias de benesses, subsídios e benefícios, que lhes foram prometidos. Perceberam que o horizonte está cada vez mais carregado de nuvens negras e que não se podem deixar levar em mais contos do vigário. Sentiram que o presente lhes está a sair muito caro e que o futuro de filhos e netos já está hipotecado para além do razoável. Perceberam que Portugal não aguenta mais fitas nem pantominas. E perceberam também que só tinham a saída de eleger um Presidente da República que lhes dê o máximo de garantias.

(publicado também aqui)

26/01/11

As pessoas sensíveis

As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas

O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra

"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."

Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.

Sophia de Mello Breyner

Empresariados no ensino privado à pala do Estado

Manuel António Pina, no JN:

Mas os colégios querem mais, e, ontem, dirigentes de alguns deles, arrastando consigo pais e crianças (há notícia de casos em que as crianças que não foram a essa e a outras manifestações promovidas pelos colégios tiveram falta), depositaram caixões junto do ME, querendo com isso simbolizar a "morte" do ensino privado... por ter que viver com o mesmo com que vive o ensino público. É a "iniciativa privada" no seu melhor: sempre a clamar contra o Estado e, ao mesmo tempo, sempre a exigir subsídios e apoios.

Diz a ministra que o Estado não deve contribuir com dinheiro dos contribuintes para as piscinas, o golfe e a equitação de alguns colégios privados, e é difícil não lhe dar razão.

Mas talvez esta fosse boa altura para, finalmente, o ME ir mais fundo e apurar o destino que é dado em alguns desses colégios aos dinheiros públicos. Saber, por exemplo, se todas as verbas destinadas aos professores chegarão ao seu destino ou se, em certos casos, o Estado não andará a financiar, afrontando a Constituição, um ensino abusivamente selectivo e confessional, onde os professores têm, de novo só por exemplo, que "participar na oração da manhã na Capela".

(publicado também aqui)

Onde os amanhãs nunca param de cantar

Assim se a análise do CêCê do PêCêPê:

A votação obtida por Francisco Lopes – mais de 300 mil votos e 7,2% – constitui uma inequívoca afirmação de combatividade e de exigência de uma profunda mudança na vida nacional.
(…)
O resultado obtido por Cavaco Silva encerra inegavelmente um juízo negativo sobre o seu exercício na Presidência da República.
(…)
O resultado obtido por Manuel Alegre, apoiado pelo PS e pelo BE, traduz-se numa votação significativamente abaixo das suas proclamações e é inseparável das contradições, ambiguidades e comprometimentos com o actual rumo do país.
(…)
A permeabilidade de sectores do eleitorado a um discurso populista e demagógico, patente nos resultados de Fernando Nobre e José Coelho, para lá das motivações dos eleitores que viram nestas candidaturas uma forma de protesto, não pode ser desligada da crescente protecção mediática na promoção de falsas soluções e inconsequentes opções que são, em si, uma garantia de estabilidade à política de direita e aos seus promotores.

São "os maiores", cheios de fé clubista. Pois, como se vê, ali só se avança (até à perda final de eleitorado). Com toda a confiança. Sem tempo para reflexão e autocrítica, modalidades de ociosos ao serviço da direita e do grande capital. Tal e qual.

(publicado também aqui)

Alguém avisou "os mercados" que os votos brancos não contaram?

Voto obrigatório?

A respeito da elevada abstenção, voltaram a ouvir-se vozes defendendo o voto obrigatório (p.ex., aqui).

Mas que beneficio teria o voto ser obrigatório? Antes que alguém me pergunta qual o beneficio de não ser obrigatório, respondo que, nisto como em tudo, o default deve ser a máxima liberdade e que são as proibições e obrigações que têm que ser justificadas; ou seja, o ónus da justificação está do lado dos que defendem o voto obrigatório.

A minha análise - o voto obrigatório prejuducaria aqueles que, sem ele, se iriam abster - afinal, se eles se abstêm é porque consideram o incómodo de votar (e não estou a falar apenas do incómodo físico de ir votar, estilo "estão-se a marimbar"; estou a incluir também o incómodo ideológico que, p.ex., um anarquista, um absolutista-monárquico ou um separatista algarvio poderão sentir por irem participar num sistema a que se opõem) maior que o satisfação de participarem na decisão colectiva; por outro lado, aqueles que votariam de qualquer maneira também ficam a perder, já que o seu voto passa a contar menos.

Ou seja, o voto obrigatório é daquelas coisas que prejudica todos os envolvidos.

[Só imagino uma situação em que se justifique o voto obrigatório - se existir uma forte pressão social para não ir votar, estilo bandos armados ameaçando quem ir votar, o voto obrigatório pode ser útil como forma de proteger os que efectivamente querem votar]

Egipto - expulsando a policia de choque

Problemas de sair do euro e/ou de renunciar à divida

Lá em baixo, o leitor Fernando pergunta "que mecanismos podem impedir o próximo governo [irlandês], caso fosse maioria de esquerda, de sair do euro recusando o pagamento da ajuda do FMI?". Vamos analisar cada questão separadamente:

1) Que mecanismos poderiam impedir uma saída do euro? Do ponto de vista formal, creio que as normas da UE impedem que, a partir do momento entra no euro, se volte atrás e se saia do euros; no entanto, não há nada que impeça um país de sair do euro E DA UE - o que não se pode é sair do euro permanecendo na UE. O grande problema da saída do euro não é jurídico mas prático - se um pais anunciar que vai sair do euro, imediatamente toda a gente vai tentar transferir o seu dinheiro, contas bancárias, etc para outros países, provavelmente levando o sistema financeiro nacional à falência (obrigando a que a decisão de sair do euro tenha que ser anunciada de surpresa, de preferência num sábado à noite, e acompanhada de um congelamento prolongado das contas bancárias). No entanto, no caso de um país em que o sistema financeiro já está falido e com as contas bancárias já a serem transferidas, como na Irlanda, este custo reduz-se substancialmente.

2) O que pode impedir um país de não pagar a dívida ao FMI? Do ponto de vista legal, sinceramente não sei; é possivel que um Estado em incumprimento veja os seus bens no estrangeiro congelados, ou coisa assim. Do ponto de vista prático, o grande problema de um incumprimento é que dificilmente, durante alguns anos, alguém voltará a emprestar dinheiro a esse pais. Ou seja, um Estado em incumprimento seria obrigado a ter um deficit orçamental zero, o que obrigaria a uma austeridade ainda mais dura no curto-prazo (embora provavelmente menos duradoura) - bem, haveria uma alternativa, que era apelar à pequena poupança nacional (em vez de à banca e ao ao FMI) e tentar financiar o deficit com com "certificados de aforro" e afins (com uns apelos patrióticos à mistura, estilo "vamos todos contribuir para salvarmos a nossa independência! Lembrem-se da Páscoa de 1916!"), mas é uma opção de desfecho incerto (prever esse desfecho dependeria mais da psicologia do que da economia).

A excepção ao descrito acima será um Estado que tenha um superavit primário, isto é, cuja receita em impostos seja maior que a despesa pública interna, e que só tenha deficit devido ao pagamento dos juros (e é possivel que as politicas de austeridade levem a uma situação dessas daqui a algum tempo); aí o incumprimento da dívida já não implicaria um agravamento da austeridade.

25/01/11

Gostava de saber qual será o desfecho disto

Saúde está a fazer cortes nas horas extras de 2010 (Diário de Notícias):
Médicos e enfermeiros estão a sofrer cortes nas horas extraordinárias e no trabalho suplementar que fizeram em Novembro e Dezembro do ano passado e que estão a ser pagos com atraso. Nalguns casos, a penalização ultrapassa os 300 euros. Os sindicatos não aceitam a situação e vão avançar com acções em tribunal para recuperar o valor retirado. A Direcção-Geral do Orçamento deu indicações para as reduções serem aplicadas no mês de pagamento, independentemente da altura em que o trabalho foi prestado.

Além dos cortes que sabiam que iam sofrer sobre o ordenado-base, médicos e enfermeiros descobriram que as horas extraordinárias e trabalho suplementar que realizaram nos últimos meses de 2010 também foram penalizados. Uma situação que consideram injusta, já que a redução imposta pelo Orçamento do Estado só entrou em vigor no dia 1 de Janeiro. E para muitos profissionais este cenário irá repetir-se no próximo mês, pois recebem as horas extras e suplementares com dois meses de atraso.

Os Palestine Papers

Descrição no quase em português:
O Guardian, a quem Al Jazeera disponibilizou os documentos, fez este primeiro resumo dos pontos essenciais:

• Palestinian negotiators privately agreed that a token 10, 000 refugees and their families, out of a total refugee population exceeding 5 million, could return to Israel as part of a peace settlement.

• PLO leaders accepted Israel's demand to define itself as an explicitly Jewish state, in sharp contrast to their public position.

• The then Israeli foreign minister, Tzipi Livni, repeatedly pressed in 2007-08 for the "transfer" of some of Israel's own Arab citizens into a future Palestinian state as part of a land-swap deal that would exchange Palestinian villages now in Israel for Jewish settlements in the West Bank.

• The US secretary of state, Hillary Clinton, and other American officials refused to accept any Palestinian leadership other than that of Mahmoud Abbas and the prime minister, Salam Fayyad. The US "expects to see the same Palestinian faces", one senior official explained, if it was to continue funding the PA.
• Condoleezza Rice, secretary of state under George Bush, suggested in 2008 Palestinian refugees could be resettled in South America. "Maybe we will be able to find countries that can contribute in kind," she said. "Chile, Argentina, etc."
• Livni told Palestinian negotiators in 2007 that she was against international law and insisted that it could not be included in terms of reference for the talks: "I was the minister of justice", she said. "But I am against law – international law in particular."

Alternativas

Na caixa de comentários de um post do Nuno Ramos de Almeida, deparo com estas linhas, assinadas por Pedro Rodrigues:

A única viabilidade para um projecto alternativo à esquerda terá que passar sempre por um compromisso entre o PC, Bloco e até com alguns sectores do PS no estabelecimento de um programa mínimo, mas que as pessoas possam realmente se rever e percepcionar.

Pois bem, também eu penso que a possibilidade de resistir à ofensiva oligárquica e ao governo exercido sobre nós por decretos pela sua economia política passa pela construção de qualquer coisa como um "programa mínimo", a que prefiro (mas sem fazer disso cavalo de batalha) chamar "plataforma necessária e suficiente", tendo por denominador comum a democratização a todos os níveis do exercíco do poder e das relações de forças governantes.

Em segundo lugar, parece-me igualmente claro que essa plataforma terá de reunir enquanto base da maioria dos que actualmente se reconhecem mais ou menos militantemente no PCP, no BE e no PS, bem como um conjunto muito mais amplo de elementos não integrados nesses ou noutros partidos.

O problema é que estes protagonistas da plataforma ou programa de acção comum só poderão levar a sua construção por diante — ou: (1) deixando de se reconhecer nos partidos referidos, cujos métodos, formas de organização, divisão interna do trabalho político, etc. são um dos principais obstáculos a esse projecto — ou: (2) transformando os mesmos partidos, se quiserem poder reconhecer-se neles, em termos necessariamente tão radicais que os tornarão irreconhecíveis na exacta medida em que os transformem em forças alternativas tanto ao regime da economia política dominante como ao dos seus próprios modos actuais de intervenção e funcionamento.

Colóquio Internacional Sophia de Mello Breyner Andresen






5ª feira, dia 27 de Janeiro
AUDITÓRIO 2 FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN
.........................................................................................................

09H00Recepção dos participantes
09H30
Sessão de Boas-Vindas
Diogo de Lucena 

Administrador da Fundação Calouste Gulbenkian


Guilherme d’Oliveira MartinsPresidente do Centro Nacional de Cultura
Maria Andresen de Sousa TavaresPresidente da Comissão Coordenadora
10H00
Início dos Trabalhos
Sessão I
Presidente da Mesa: Paula Morão
Nuno Júdice
Luz e desenho na poética de Sophia”
Rosa Maria Martelo
Imagem e som no mundo de Sophia”
Manuel Gusmão
O ameaçado fulgor da imagem, na poesia de Sophia”
Eucanaã Ferraz
Sophia: cesteira e cesto”
11H30
Coffee-break
11H50
Sessão II
Presidente da Mesa: Fernando Martinho
Helder Macedo
“Sophia: casa branca em frente ao mar enorme
José Manuel dos Santos
Sophia e a Felicidade”
Jorge Fernandes da Silveira
A inscrição do exílio”
Piero Ceccucci
«Ó noite, em ti me deixo anoitecer».
Encanto e sonho da Noite na poesia de Sophia
13H00
Almoço
14H30
Sessão III
Presidente da Mesa: Rosa Maria Martelo
Giulia Lanciani
E passa devagar memória antiga” (Sophia, Primavera)
Paula Morão
«Nunca nada é inventado» – Sophia e a Casa do Campo Alegre”
Federico Bertolazzi
O cântico da longa e vasta praia. Eco atlântico em itinerário mediterrânico”
Carlos Mendes de Sousa
Sophia e a dança do ser
15H50
Coffee-break
16H10
Sessão IV
Presidente da Mesa: Jorge Fernandes da Silveira
Perfecto Cuadrado"Cantar, contar, reinventar a Arcádia”
Frederico Lourenço
"O não-vivido na obra poética de Sophia"
Maria de Fátima Freitas Morna
Momentos de silêncio no fundo do jardim: a efabulação
como poética na obra de Sophia de Mello Breyner Andresen”

Maria Andresen Sousa Tavares
"Sobre Espólio e Poesia: Entre a Sombra e a Luz mais que pura"

6ª feira, dia 28 de Janeiro
AUDITÓRIO 2 FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN

.........................................................................................................
09H30
Sessão V
Presidente da Mesa: Maria Andresen Sousa Tavares
Alexis Levitin
"The Translation of Transparency"
Teresa Amado
Traduzir com Música e Paixão”
Michel Chandeigne
Sophia en France ...”
11H00
Coffe-break
11H20
Sessão VI
Presidente da Mesa: Teresa Amado
Pedro Eiras
A face nocturna”
Richard Zenith
Uma Cruz em Creta: a salvação sophiana”
Jaime Siles
"La mitología como sistema referencial en la poesía
de Sophia de Mello Breyner Andresen"
Miguel Serras Pereira
Poesia Exemplar”
José Manuel Mendes
Sophia e o Associativismo de Escritores Portugueses”
13H00
Almoço
14H30Sessão VII
Presidente da Mesa: Nuno Júdice
Fernando J. B. Martinho
"Sophia com Pessoa na Grécia"
Gustavo Rubim
Sophia (Ricardo Reis) e a forma humana”
Anna Klobucka
Entre Orfeu e Odisseu: Negociações de género
e sexualidade no diálogo Sophia-Pessoa”
Antonio Tabucchi
“Na Grécia com Sophia”
15H50Coffee-break
16H10Sessão VIIIPresidente da Mesa: Carlos Mendes de Sousa
Isabel Almeida
«Se nenhum amor pode ser perdido». Sophia e Camões”
Sofia Silva
Reparar brechas: uma possível relação entre
Sophia de Mello Breyner Andresen e Adília Lopes”
Clara Rocha
Sophia e Torga”
17H15Pausa
17H30
Mesa Redonda de Poetas
Moderador: Miguel Sousa Tavares
Ana Luísa Amaral, António Osório, Armando Silva Carvalho,
Gastão Cruz, Luís Quintais, Nuno Júdice
18H30Lançamento do número de Janeiro
da Revista Colóquio/Letras, em parte dedicada
a Sophia de Mello Breyner Andresen.