Aí há uns dias decidi colocar um comentário num post de Tiago
Mota Saraiva sobre o euro no 5 dias. O meu comentário, e que passo a transcrever de
seguida, dirigia-se ao seguinte comentário do Nuno Cardoso da Silva.
Nuno Cardoso da Silva diz:
Concordo em grande parte com Louçã. Se
entrar no euro foi mau, sair agora ainda seria pior. Mas isso não significa que
não haja alternativas. A criação de uma união monetária apenas para os países
da orla mediterrânica (incluindo a Itália) que têm problemas algo semelhantes e
precisam de uma desvalorização da sua moeda que não seja nem excessiva nem
contínua, podia ser uma solução. Aí sim aumentar-se-ia a competitividade sem
cair num buraco sem fundo. Agora Portugal sair sozinho do euro e recriar uma
moeda nacional sustentada por uma economia à beira do colapso, isso não.
Caro Nuno,
O que, até hoje, nenhum dos
nacionalistas se dignou a responder é o seguinte: se a competitividade iria
aumentar 30 ou 40%, de acordo com as matrizes de input-output que têm
utilizado, e se, ao mesmo tempo, ocorrerá uma desvalorização de 30 a 50% da
moeda, logo a importação de combustíveis, de matérias-primas, de medicamentos,
de maquinaria, etc. aumentaria, pelo menos inicialmente, na mesma proporção.
Logo, se os custos com importações dificilmente substituíveis como várias das
matérias-primas, combustíveis, maquinaria, medicamentos, etc. iriam aumentar, e
se, mesmo assim, os economistas nacionalistas ainda conseguem afirmar que
Portugal ganharia competitividade então só vejo uma resposta possível. Para
conseguirem tal competitividade isso só poderá ser feito à custa da maior
exploração dos trabalhadores, da expansão da mais-valia absoluta e da
correspondente edificação de um aparelho de Estado ainda mais repressor para
conter as revoltas geradas… Aliás, um dos economistas nacionalistas chegou
ontem a dizer no jornal i que seria necessária «uma liderança forte para que
não houvesse turbulência»… Mais palavras para quê? Se a política que a esquerda
nacionalista preconiza é assim tão benéfica para os trabalhadores para que
precisariam de uma «liderança forte»?
E ainda se poderia abordar a hipótese
muitíssimo provável de a banca poder falir ou sofrer elevadas perdas. A
salvação da banca e dos depósitos nas condições de uma saída do euro faria o
BPN parecer uma brincadeira de meninos…
Um abraço
Perante este meu comentário, o autor do post meteu a sua
colherada e tratou-me de uma maneira certamente muito cordata e educada...
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O zeloso camarada ouve a mensagem do Mestre Yoda-Cunhal: "Que a Força da Pátria esteja contigo" |
Tiago Mota Saraiva diz:
Oh João Valente Aguiar, vai chamar
nacionalista ao raio que te parta.
Ainda há poucos anos desfazias-te em mensagens privadas sobre como um comunista
devia “valorizar o legado” de Estaline ou a “experiência” da Coreia do Norte.
Agora vejo que não perdeste os tiques estalinistas fazendo ataques de carácter
enviesados. De facto és um tipo coerente.
Tenho a certeza que, se/quando a coisa azedar, serás dos primeiros a denunciar
os teus ex-camaradas.
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JVA encurralado pela luminosa argumentação de TMS. Medo! |
Perante esta resposta eivada de substância política,
respondi ao TMS:
Tiago,
eu até podia ter ido às campas do
Stáline e do Kim Il-Sung lá rezar e deixar umas flores. Até podia ter tatuado o
Lénine e o Álvaro Cunhal na testa… Como dizes, e bem, “há poucos anos”… Ora,
99% dos militantes de toda a esquerda de origem marxista, seja ela qual for,
alguma vez na vida, e ao longo da história, glorificaram a URSS e os regimes
socialistas… Claro que glorificamos! Todos, quase sem excepção… E daí? qual a
novidade? Pior de tudo é quem depois acaba por nunca se interrogar sobre nada.
Isso sim é que é grave… Mas isso parece pouco importar…
O espantoso é como tu desvias um
comentário meu vocacionado para um problema económico que os nacionalistas de
esquerda não respondem. Repara que tu se percebesses alguma coisa de economia
ou de política até me podias ter arrumado para canto se soubesses responder ao
que eu coloquei no fundamental do meu comentário: como é possível aumentar a
competitividade da economia portuguesa saindo do euro, sabendo que os custos
com importações de combustíveis, matérias-primas, etc. vão necessariamente
aumentar? Repara que teoricamente vocês todos até poderiam ter razão. Não me
parece, mas eu discuto estas coisas de um modo analítico. Bem ou mal, com mais
ou menos acertos, o que importa é a atitude. Ora, tu preferiste ligar ao
“nacionalista”, mas se quiseres podes chamar de patriota que é exactamente a
mesma coisa. O que conta são os conceitos e não os termos… Mas se não os
dominas não sou eu que te vou explicar…
O teu comentário acaba com a macacada
final sobre denúncias e não sei que mais…. Eu nem tenho nada de responder e
provavelmente nem vai adiantar de nada. Mas face à recorrência desse ataque vil
aqui vai uma resposta final. Eu que nem sequer te conheci pessoalmente (pelos
vistos, felizmente), que sei de ti o mesmo que qualquer tipo que te leia na
net, que não tenho ninguém do PC nas redes sociais onde participo (precisamente
para evitar essas bocas delirantes, mas, pelos vistos, nem assim diminui a
paranóia da vossa parte), eu que nunca estive em nenhum organismo de direcção
do PCP (nem sequer regional, apenas de… freguesia e que éramos literalmente
meia dúzia) e eu é que ia denunciar??? Quem?? O quê?? Que há membros assumidos
do PC que escrevem no 5 dias??? Que colei não sei quantos milhares de cartazes?
Que distribuí panfletos?? Que fui um dedicado militante de base, que nunca
arranjei chatices com ninguém enquanto fui militante activo e que a única coisa
que me destacava dos outros era o meu interesse pela teoria marxista?? Eu que
não tenho contacto orgânico com ninguém do PCP desde meados de 2008 (reuniões,
pagar quotas, etc.) e que só estive entre 2008 e 2011 em duas ou três
iniciativas públicas da CDU e do PCP, eu é que ia denunciar?? Mas está tudo
maluco ou o quê?? E eu é que sou stalinista…
De facto, só um eventual delírio ou má fé podem explicar essa tua atitude. Se
queres brincar ao Marinetti procura outro que te ature… Passar bem.
Entretanto, chegamos à Sexta-Feira Santa e o TMS decide
crucificar-me no altar da sabedoria imortal do marxismo-leninismo. Para isso, TMS vai repescar o mesmo argumento político cheio de densidade política e teórica: a pessoalização da crítica política.
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Isto de pescar água é difícil... |
Tiago Mota Saraiva diz:
João Valente Aguiar, eu não cheguei hoje
a um ideal político nem parto amanhã. Tal como nunca me apeteceu muito discutir
contigo quando eras um ultra-estalinista pró-PCP também não discutirei contigo
quando te transformaste num ultra-estalinista anti-PCP – o facto, com o qual o
Vítor Dias goza, de teres ido apagar o teu blogue (http://otempodascerejas2.blogspot.pt/2013/03/um-tal-de-joao-valente-deaguiar.ht)
é tão revelador …
Agora não tentes transformar isto num ódio a ex-PCP’s que não tenho. Tu, na tua
1ª fase de estalinismo, és um excelente exemplo daquilo que costumo chamar como
a doença infantil dos partidos de esquerda. É uma certa forma de valorizar e
engraçar com uma trupe de jovens caceteiros ultra-sectários que assim que acham
que o seu brilhantismo não é integralmente reconhecido partem para ser os
primeiros Anti. E isto interessa-me discutir, mas não contigo!
Não queres, certamente, que vá à procura de escritos teus da tua 1ª fase de
estalinismo com ataques de carácter a malta que é, e será, minha amiga e que
está, e estará do meu lado da trincheira, como o Zé Neves, o Zé Guilherme ou o
Ricardo Noronha… Só para te dar alguns exemplos…
João Valente Aguiar, hoje como ontem, não tenho qualquer interesse em debater
contigo o que quer que seja. E nada tem a ver com o facto de achar que te
afastas-te do teu ideário – que se calhar até não te afastaste assim tanto –
mas tem sobretudo a ver com o facto de achar que a forma como te vês é
inversamente proporcional ao respeito a que te prestas.
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João Vader Aguiar, o Mal Absoluto da Galáxia Federal |
Estes comentários do Tiago Saraiva merecem uma resposta
FINAL. A única "argumentação" que o Tiago Saraiva dá a algumas
das minhas críticas parte sempre do pressuposto de que eu fui sectário e
estalinista enquanto militante do PCP, como se o facto de ter sido exactamente
igual a 90% dos militantes do PCP só fosse um defeito por eu ter deixado de o
ser... Sectários e estalinistas são os que permanecem
assim uma vida inteira e nunca mudam em nada...
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Se o nacionalismo é criticado é preciso cuidado, não vá acontecer a chatice de surgir um seu contrário... |
Sobre os nomes que o TMS cita. Porque raio eles são para aqui chamados? Quando TMS não tem argumentos políticos para utilizar, chama nomes à colação a ver se os amigos dele (que também são meus) vêm lavar as lágrimas do menino? Sente-se assim tão perdido que só com a citação de outros se consegue tentar valer politicamente? Para quem me acusa de ser sectário, utilizar o nome de outras pessoas que nada têm a ver com o assunto, esse sim é um belo tique sectário. Em termos políticos e teóricos, o que me interessa, como sempre foi o
que mais me interessou, são sempre as tendências mais vastas e não as pessoas. Se calhar foi
essa consciência mais racional e analítica que felizmente me permitiu ir questionando
e, no final, romper totalmente com o PCP e com o leninismo. Aliás, a única
pessoa abaixo dos 40 anos de idade que no Portugal das últimas décadas escreveu dezenas
de páginas sobre a exploração económica, sobre as funções do trabalho e do
capital e sobre a autonomia da classe trabalhadora e dos seus limites mínimos e
máximos, teria de chegar a uma altura da sua vida e resolver a tensão existente entre os temas que eu
sempre estudei por minha iniciativa e a imagem do marxismo que o PCP enuncia de uma luta entre nações. Uma
pequena diferença aos olhos dos incautos, mas que é abissal, e tem repercussões totalmente
díspares.
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O que é parecido nem sempre se torna igual. |
O TMS fala em busca de reconhecimento da minha parte. Mas o reconhecimento
quem mo está a dar são pessoas do PCP…
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Quem ataca o leninismo leva tau tau |
Quem é que em vez de ter respondido a um comentário
absolutamente normal sobre questões económicas de uma saída do euro, se passou
da cabeça e transformou um assunto económico (o meu primeiro comentário) num ataque à minha pessoa? Quem é
que em Julho do ano passado teve um artigo no Avante totalmente dedicado a
concepções que defendo e onde a crítica mais profunda que me fizeram era a de
contraporem os seus 40 anos de militância com o meu anti-nacionalismo? Onde é
que eu procuro reconhecimento quando tive funcionários do PC a insultarem-me
ainda estava no 5 dias (assinados pelos próprios), candidatos autárquicos da
CDU, gente do PCP a assinar com pseudónimos de assassinos (como Ramon Mercader),
etc. Eu é que quero reconhecimento ou o PCP é que tem militantes que se pudessem
davam largas aos piores instintos humanos sobre quem simplesmente escreve o que
eles não gostam? O espantoso nisto tudo é que um indivíduo como eu que aparentemente
está tão errado, e que só escreveria merda e afinal desde há uns tempos para cá
já teve dezenas de pessoas “à perna”… Onde há fumo, há fogo… Se eu estou assim
tão errado e tenho toda esta atenção e carinho, o que fará se eu estivesse
certo…
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Meu Deus! E se o gajo tem razão? |
Por outro lado, é ridícula essa tentativa do TMS se colar à
esquerda internacionalista e autonomista. Como se no caso de um regime em que o
PC estivesse no poder gajos como eu, o Noronha e outros fossemos poupados…
Mesma barricada? De quem? Dos que em todas as circunstâncias históricas
atacaram as iniciativas autónomas dos trabalhadores: da CGT contra a unidade
dos estudantes com os trabalhadores na Renault Bilancourt, do
PCI contra os militantes autonomistas e os operários de fábricas ocupadas, do
COPCON chamado pelo PC para ir lembrar aos trabalhadores da TAP que há greves
boas e greves más, das greves
organizadas em conjunto pelo PC alemão com o partido nazi em 32, do Comintern
que entregou comunistas da Pérsia, da Turquia, da Grécia ou da China aos
carrascos, só para manter boas relações geoestratégicas e diplomáticas, dessa
grande experiência socialista que foi a URSS e que, no final, se tornou no
maior ninho mundial do neo-nazismo, etc. Um caso, dois casos, três casos,
qualquer um engole e engana-se a si mesmo. Mas quando uma pessoa ganha noção de
tantos e tantos casos, em tempos diferentes e com tanta frequência, como pode
ficar incólume perante tudo isto? Como pode resistir a fé e a teoria dos “erros
e dos desvios” perante toda a merda que foi feita em 100 anos? O TMS acha mesmo
que está na nossa barricada?
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A realidade que alguém vê numa imagem é a realidade que habita? |
A sua única justificativa perante os meus
argumentos é que eu sou um estalinista. Ora, ele é membro e apoia
incondicionalmente um partido político que nunca fez uma análise séria do que
se passou na URSS e em todos os capitalismos de Estado “socialistas” e o
estalinista sou eu? Como é fácil despachar a discussão política rotulando os outros sem que isso tenha correspondência com o ideal e com as práticas dessa pessoa. Mas o estalinista sou eu e não um partido que andou décadas a fio a tecer loas a toda
aquela bodega, tendo tido gente sua a viver anos e anos por lá, nunca fez uma
análise do carácter capitalista daquele regime, que nunca criticou a entrega da
economia e do Estado a gestores instalados nas empresas. Gestores esses que, para o PCP, só
se tornaram “maus” quando perceberam que afinal já não precisavam para nada da
capa “socialista” para controlar as empresas anteriormente estatais. Até lá
eram grandes dirigentes do povo soviético e não sei que mais. O TMS quer
enganar quem com essa conversa do estalinista? Mas alguém que seja racional
compara um indivíduo como eu, que rompe com toda essa tralha, com um partido
que, pelo contrário, se fosse poder fora do actual regime político português,
iria reproduzir grande parte daquelas mesmas práticas? Alguém que seja racional
compara um tipo como eu que entretanto deixou de seguir a fé na luz leninista (e que a seguiu apenas uns pares de
anos), com um partido que mantém a perspectiva de criar mais um
capitalismo de Estado repressor e economicamente arcaico? Eu é quero
reconhecimento? Eu é que sou estalinista? TMS é tão incongruente sobre a minha
pessoa, que se eu fosse esse vaidoso que ele traça sobre a minha pessoa então,
se eu seguisse essa lógica, ou eu teria ficado no PC para arranjar qualquer
lugar, ou tinha ido para outro partido qualquer com lugares de poder. Mas aqui
estou eu, cientista precário, com muito orgulho a escrever nessa organização multimilionária de
nome Vias de Facto… Que vaidoso que sou. Que ambicioso… Que estalinista… Ou serão
estalinistas os que sabem todas ou algumas das coisas que enunciei e continuam
a compactuar como se nada se passasse.
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- Senhor doutor, os meus olhinhos não me deixam ver a História. Que se passa? - Nada de especial menina. Utilize as lentes do Comité Central. |
Para terminar, abordo brevemente um assunto que tem sido dado a deturpações. Há aí uns meninos que
dizem que eu teria escrito que o PCP é fascista. Totalmente falso nem eu nunca
escrevi isso. Nem eu considero, de maneira nenhuma, que o PC seja fascista. O
que eu escrevi sempre, e por diversas vezes, é que a saída do euro pode
degenerar numa solução estatista de controlo da vida social e que, face à
evolução da situação económica e social, até poderia engolir o próprio PC (e
toda a restante esquerda). É esse escancarar de portas defendido cada vez mais abertamente pelo PCP, que pode induzir um risco de
fascização da sociedade portuguesa. Sendo o PCP a única organização
estruturada, disciplinada, etc. e que defende uma solução nacionalista/patriótica,
isolacionista e de regresso a uma europa de nações divididas, o PC é a força
política que, em Portugal, pode abrir a caixa de Pandora. Duvido que se a situação fosse
nesse sentido de confronto político e de ódios nacionais exacerbados, o PCP
tivesse capacidade para se aguentar. Pelo contrário, seria qualquer sector
militar ou de extrema-direita a depois captar a situação de edificação de uma
forma capitalista de Estado a seu favor. Naturalmente com a esquerda
(nacionalista ou não) como vítima.
Sempre que nacionalismos tentaram concorrer
entre si, o nacionalismo de direita venceu sempre, como o caso indonésio, birmanês,
iraquiano, sírio, francês do pós-guerra até aos anos 90, etc. demonstraram. E
quando o nacionalismo ligado a uma pretensa variante marxista inicialmente
venceu, como em situações de libertação nacional, o que subsistiu ao longo do
tempo foi sempre o lado nacionalista e não o marxista... O fascismo vive da sua
capacidade de parasitar os erros e ambiguidades da esquerda relativamente à
nação, ao capital financeiro e às classes. Isto sim é que é realmente
importante discutir, mas poucos são os que se preocupam com isso.
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Dentro de cada estrutura ideológica, as possibilidades de replicar imagens e véus mistificadores é infinita. Agarrar-se a cada imagem ou ver a estrutura global: a diferença entre a crença para-religiosa e o uso da reflexividade crítica. |