Independentemente do que cada um ache politicamente de
Hugo Chávez, é terrível que, duzentos anos passados de movimentos operários e
populares de todo o tipo, ainda ande tudo preocupado à esquerda com o futuro
desses movimentos quando um líder desaparece… É ver o estado de desespero de muita
gente de esquerda perante o falecimento de um “dirigente máximo”. Assim se
compreende como a orfandade política por dirigentes-guias-salvadores demonstra
o quanto a maioria da esquerda não quer saber para nada dos trabalhadores nem
das possibilidades de a classe trabalhadora gerir democraticamente o conjunto
da vida social sob novos princípios de organização da sociedade… Hugo Chávez
figurará no panteão da esquerda como Karol Wojtyla para a Igreja Católica? Pelo
menos a curto prazo, o ícone sobrepor-se-á ao real.
(…)
Chávez
foi mais um entre muitos líderes partidários ou de Estado com que a esquerda
nacionalista continua a suspirar para funcionarem como vanguarda mais ou menos
pessoalizada de processos que mais não são do que uma roupagem avermelhada de
capitalismos arcaicos e populistas. Verdade seja dita, a cristalização de
lideranças carismáticas e que decidem pela população resulta sempre da
desmobilização e da desorganização das dinâmicas democráticas de base. O que
não isenta ninguém, mas recorda a origem dos processos de recuo das lutas
sociais de base que se apegam a líderes, dirigentes e/ou estruturas
centralizadas e burocráticas como um último reduto de ilusões.
Para
o conjunto dos trabalhadores de todo o mundo isto é o pior de tudo: ainda não conseguirem
contar com as suas próprias (as nossas!) forças colectivas e democráticas para
continuarem um qualquer processo social e político, independentes do destino
que os indivíduos tomam no decurso da vida. E independentes da conversão das
lutas sociais de base em processos de aclamação de dirigentes omnidecisores.
“A
emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”?
O artigo pode ser lido na íntegra aqui
1 comentários:
Como sabemos as sociedades humanas estão divididas em classes, ou se quiserem, hierarquizadas há milénios. Uns quantos movimentos igualitários surgiram ao longo dos séculos mas logo foram esmagados. No século XIX começaram a definir-se, mais claramente, ideias que tinham um projecto revolucionário de uma sociedade de iguais. A AIT corporizou esse projecto a que uns chamaram comunismo, outros anarquia, outros socialismo. Mas os princípios hierárquicos logo se recompuseram com a ideologia das vanguardas revolucionárias que ganharam o seu expoente no leninismo...
Em resultado disso e da derrota dos projectos radicalmente igualitários do anarquismo e comunismo de conselhos, o que predominou no século XX foram os projectos revolucionários hierarquizados e vanguardistas.
Recordar isto é fundamental para entender que como é difícil ir contra a corrente dominante da história. Não vale a pena iludir-nos que o comunismo, ou se quiserem a comunidade humana, está ao virar da esquina...
Se fosse possível criarmos colectivos, organizações, movimentos, baseados em valores igualitários e libertários certamente que já estaríamos da dar um grande passo em frente.
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