25/03/13

Excerto de uma troca de mails com o João Bernardo: "De quem era este programa?"


O João Bernardo enviou-me, num mail particular, o seguinte texto, propondo-mo como uma espécie de adivinha:

“(…) De quem era este programa?

— to introduce capital punishment for defrauders of public funds;
— to confiscate the fortunes of these defrauders;
— to bring to justice all politicians who have acted against the country;
— to forbid politicians to take part in the Administrative Council;
— to expel all foreign exploiters from the country;
— to declare the territory of [...] as the inalienable and imprescriptible property of the [...] Nation;
— to make all elected officials work honesty;
— and to institute a central administrative authority. (…)”

Respondi que não sabia, embora achasse que, datando decerto de entre as duas guerras, bem poderia provir de algum grupo da “direita revolucionária” francesa ou das bandas do que viria a ser o nacional-socialismo — apesar de se poderem encontrar, mais tarde, posições semelhantes entre grupos que apoiaram De Gaulle, quer no maquis, quer no exílio. Passo a transcrever a chave do enigma e algumas observações com que o João Bernardo a acompanhou — de momento é quanto basta.

“Este programa interessou-me porque podia ser reproduzido ipsis verbis pela actual extrema-esquerda portuguesa. Se fizeres uma figura geométrica com os três pontos que enunciaste, o resultado fica no meio, sobretudo se conhecermos as propostas de um dos órgãos coordenadores da resistência francesa, o Comité Général d'Études, que estudava com muito interesse as tendências corporativistas de Vichy. Os pontos que transcrevi são as medidas políticas enunciadas por Codreanu no seu primeiro discurso ao parlamento, em Dezembro de 1931. Por um lado, no campo da economia, o movimento legionário do Codreanu era ainda mais radical do que a direita revolucionária de Paris. Por outro lado, no campo do racismo, era ainda mais místico do que o nacional-socialismo germânico. A bem da verdade, o Mircea Eliade nunca teria conseguido entender tão bem a história das religiões se não tivesse feito parte do movimento de Codreanu. Ao menos isso. Mas o que me impressiona em todo este período é 1) a desculpabilização do capitalismo e a atribuição das responsabilidade à corrupção dos políticos e 2) a noção de que os aspectos económicos nefastos são só do capital financeiro (cosmopolita, na visão social; judaico, na visão racial). Não há nada que eu leia que não reforce isto. Lembro-me sempre do Bardèche, quando escreveu que existem hoje «milhares de homens que são fascistas sem o saber» e que «desde que a palavra "fascismo" não seja pronunciada, não faltam os candidatos ao fascismo». Outro dia gozaram o primeiro-ministro por estar a ler uma biografia do Salazar. Que ignorantes! Deviam gozá-lo era se ele estivesse a ler uma biografia do Sinel de Cordes. Se o Vias de Facto publicasse os artigos que o Salazar escreveu no Novidades aquando da campanha que conduziu contra as negociações encetadas pelo Sinel para obtenção de um empréstimo internacional, tenho a certeza de que os comentários seriam entusiásticos”.

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