30/09/11

A confirmação

Lembram-se de Alessio Rastani? Há poucos dias atrás afirmava candidamente que as maiores oportunidades para fazer dinheiro aparecem em tempo de crise, quanto maior melhor. E não é que ele tinha mesmo razão?

"After a number of investors struck gold by betting against French banks, many have turned their attention to the hot yet risky euro zone trade of the moment: buying Greek government bonds that traders say are changing hands for as little as 36 cents for each euro of face value. 

The investors hope to book a fat profit on the expectation that the European Union and the International Monetary Fund will once again bail out Greece, fearing a global financial disaster if they do not. 

Under the deal Greece struck in July with its banks as part of Europe’s rescue plan, a substantial portion of its existing bonds are scheduled to be swapped into new longer-term securities that could be valued at more than 70 cents to the euro. If the deal closes in late October — assuming the latest bailout system is ratified by the parliaments of the 17 European Union countries that use the euro — those who bought the bonds recently at distressed prices might in some cases come close to doubling their money. 

But what is good for hedge funds is not necessarily good for Greece. 

The popularity of this trade is just the latest sign that the carefully constructed debt swap agreed to by Greece and its private sector creditors may be a much sweeter deal for investors than it is for taxpayers.  

“Everyone knows this was a good deal for the banks,” said Otmar Issing, a top German economist who served on the executive board of the European Central Bank. “It will not help Greece at all.”

According to a person with direct knowledge of the debt swap, about 30 percent of the investors who are expected to participate in the exchange bought their bonds after July 21. They are not the original debt holders — mostly large European banks — but more speculative investors looking to cash in on the steep fall in Greek bond prices.

The debt swap is expected to cover about 135 billion euros ($183 billion) in existing bonds, suggesting that various hedge funds and other investors have bought as much as 40 billion euros worth of Greek debt since July 21."

Nem Alemães, nem Portugueses

Se nada fizermos, a crise das dívidas arrisca-se a ser o tempo de todos os nacionalismos, sentenciando definitivamente a morte da democracia.



Nos países que ainda não estão no olho do furacão da crise financeira, aumentam os sinais que nos dão conta de um crescente sentimento de superioridade em relação aos governos e às populações dos países em crise. Nestes últimos, por sua vez, multiplicam-se os apelos – de teor não menos nacionalista – a um orgulho colectivo que deverá juntar, num só abraço, os patronato, a esquerda, a polícia, os empresários, os sindicatos, a direita e quem mais se julgar um bom e honrado cidadão.



Vejam bem a rapidez com que algumas situações evoluíram nos últimos tempos. Recordam-se quando, ainda há poucos meses, um jornal alemão sugeriu que as ilhas gregas deixassem de ser propriedade do Estado grego, no que seria uma forma de este amortizar os seus pecados financeiros? Na altura, por aquele ser um jornal tablóide, supusemos que o seu sensacionalismo não reflectiria o pensamento das elites alemãs e prontamente negámos ser esse um sinal de preocupação. Hoje, porém, é a própria Angela Merkel que aventa a hipótese de impor uma diminuição de soberania a Estados como o grego.



Para agravar ainda mais este cenário, temos a reacção das elites políticas dos países em crise às declarações de Merkel. A reacção tem sido uma de duas: há quem continue a não encontrar no facto qualquer razão para alarme, afirmando que Merkel se limitou a constatar uma realidade; e quem desate a falar do irreprimível expansionismo alemão e de como por cá – em Portugal, por exemplo – não falta quem se preste ao papel de colaboracionista, o que exigiria uma espécie de levantamento patriótico dos chamados portugueses. Ou seja, temos os que ignoram a doença e os que nos querem matar com a cura.



A confirmar-se este cenário de inflacionamento de todos os nacionalismos, não tardará que uma primeira vítima se apresente na morgue mais próxima. Não será provavelmente o banco X ou o banco Y, porque já todos percebemos que haverá sempre um estado qualquer pronto a salvar um banco qualquer em nome de um qualquer interesse nacional. Será a democracia.



O estado da democracia já não é, hoje por hoje, muito famoso. Triste e fragilizada, arrasta-se penosamente pelos cantos, manietada por uma sua concepção que ignora os valores da igualdade económica, tudo se resumindo a uma concepção de liberdade que tem o seu pilar fundamental no respeito pelo direito da livre iniciativa privada, isto é, o direito de uns poucos privarem os muitos do acesso a outros tantos bens. Mesmo a liberdade política encontra-se hoje resumida ao direito de escolhermos livremente os poucos que sobre nós mandarão, as mais das vezes a despeito de programas eleitorais acabados de imprimir. A política institucional está hoje apropriada por um sistema partidário em que escassos são os eleitos que recusam ser incluídos na categoria “classe política”, expressão que pressupõe uma profissionalização da política que é a negação de uma ideia de democracia segundo a qual um cidadão tanto poderá eleger uns como ser eleito por outros.



O estado da actual democracia não significa, porém, que nada possa piorar. Os efeitos anti-democráticos da voragem nacionalista que se avizinha não devem ser menosprezados. O crescente nacionalismo alemão arrisca-se a eliminar qualquer ilusão de autonomia – dar a nós próprios as nossas próprias leis – que ainda pudesse estar contida no princípio da soberania nacional. E os nacionalismos anti-alemães, por sua vez, ameaçam suspender por mais de seis meses a democracia enquanto instrumento de expressão do antagonismo político entre pessoas que vivem num mesmo país. A democracia enquanto negação do conflito e sublimação do consenso – alimentada tanto por uma concepção gélida e tecnocrática da política, como por uma exaltação romântica e calorosa do orgulho e resistência nacionais – pouco mais será do que uma forma menos musculada de dizer a palavra ditadura.



Num tempo em que até os partidos parlamentares mais à esquerda invocam a necessidade de uma unidade nacional, ideia que na Grécia ou em Espanha sectores anarquistas ou autonomistas – a famigerada esquerda radical – têm procurado contrariar, pouco falta para que a política em Portugal se resuma a um concurso televisivo para eleger o melhor administrador desta pequena e moribunda empresa. E a democracia, já se sabe, costuma ficar à porta das empresas.



Por mais que a ideia contrarie a intuição de alguns leitores, pode bem dar-se o caso de a esquerda radical ser a maior esperança para uma reinvenção da democracia.



publicado esta quinta-feiran o jornal i

29/09/11

Outra a querer suspender a democracia por seis (ou 24) meses?

A governadora (Democrata) da Carolina do Norte:

http://projects.newsobserver.com/under_the_dome/was_perdue_joking_you_decide_listen_here

“I think we ought to suspend, perhaps, elections for Congress for two years and just tell them we won’t hold it against them, whatever decisions they make, to just let them help this country recover”

A velha ideia que "os políticos têm que se pôr de acordo", para conduzirem as massas a bom porto...

27/09/11

Morales recua e incrimina a polícia

Cresce a tensão na Bolívia e Evo Morales é obrigado a recuar, incriminando agora a acção da polícia e declarando-a "imperdoável", perante os protestos populares. Aqui fica a peça que se pode ler no Público.es sobre o assunto.

El presidente boliviano, Evo Morales, ha decidido suspender por ahora la construcción de una carretera que iba a atravesar una reserva amazónica en el centro del país, mientras las dimisiones se suceden en su Gobierno.

Dos días después de que la Policía cargara contra una protesta indígena opositora al proyecto, son ya tres los funcionarios que han renunciado. Aunque había asegurado en repetidas ocasiones que la carretera sería construida "sí o sí", el mandatario boliviano se ha visto desbordado por la repercusión que ha tenido la intervención policial contra una marcha indígena de 1.500 manifestantes, que avanzaba hacia La Paz desde el pasado 15 de agosto.

El ministro de Gobierno, Sacha Llorenti, ha señalado como responsable de la agresión al viceministro de Régimen Interior, Marcos Farfán, quien ya ha presentado su renuncia. Llorenti ha añadido que lo ocurrido se debió al consejo de "malos" mandos policiales, que serán sancionados. Además del viceministro, también abandonaron su cargo la directora de Migración, María René Quiroga, y la ministra de Defensa, María Cecilia Chacón.

Abrumado por los acontecimientos, Morales ha calificado la acción de la Policía como "imperdonable" y ha prometido la creación de una comisión especial con representantes de organismos nacionales e internacionales para investigar los incidentes. "No comparto la medida de intervención de la marcha que ha asumido el Gobierno y no puedo defender o justificar la misma".

El presidente boliviano ha afirmado que no había ordenado a la Policía que cargara contra la marcha y ha asegurado que la construcción de la carretera se detiene hasta que se celebre un referéndum en Beni y Cochabamba, los departamentos que comunicaría la carretera. Los indígenas, descontentos, reanudarán la caminata, ya que la decisión de suspender el proyecto es sólo temporal.

La ruta, cuyo trazado prevé la partición en dos del Territorio Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis), iba a servir de corredor interoceánico para comunicar zonas de Brasil y de Perú, según el Gobierno. Para los indígenas, la carretera es una aberración ecológica y social muy dañina para las comunidades que viven en el Tipnis, asediadas por productores de coca que han ocupado el terreno para plantar sus cultivos.

Quem manda no mundo é a Goldman Sachs

Não sou eu que o digo. É Alessio Rastani. Não sabem quem é? Então leiam e ouçam, atentamente.

Pedro Lomba mente

Mente quando afirma, hoje na sua coluna de opinião no jornal Publico que:

"nem obrigar Israel a aceitar um Estado palestiniano, visto que por duas vezes, com Barak e Olmert, Israel ofereceu as fronteiras de um Estado aos palestinianos (as fronteiras de 1967). A oferta foi recusada."

Ora, acontece que é essa pretensa oferta, que na realidade nunca existiu e desafio Pedro Lomba a provar o contrário, que foi agora proposta à ONU. Simplesmente e apenas o reconhecimento dum Estado Palestiniano dentro das fronteiras de 1967. Se Israel ofereceu isso mesmo antes, não vejo porque o recuse agora.

Pedro Lomba mente ainda quando diz que:

"Porque, evidentemente, não está em causa que Israel transija com a saída dos territórios ocupados desde 1967 em troca do reconhecimento internacional de um Estado palestiniano. O problema é que Abbas não abdica do regresso às fronteiras de 1948. Não lhe basta reaver a Cisjordânia e Gaza num estado chamado Palestina. Ele insiste no "direito" histórico de regressar a Israel.(...) Imaginar que, neste cenário de fragilidade demográfica, os israelitas aceitarão que a comunidade internacional lhes imponha o direito de retorno é completamente irrealista e perigoso."

Repito, o que foi proposto na ONU foi somente o reconhecimento dum Estado Palestiniano dentro das fronteiras de 1967. Basta ler a carta onde é requerido à ONU o reconhecimento da Palestina como Estado de pleno direito. Pedro Lomba tenta, numa manobra de clara desonestidade intelectual, confundir o leitor misturando a questão das fronteiras com a questão do eventual retorno a Israel dos palestianos que foram expulsos das suas terras ancestrais após as guerras que se seguiram ao reconhecimento de Israel pela ONU em 1948. Como é óbvio, como devia ser óbvio para qualquer pessoa, e ainda mais para um jurista como Pedro Lomba, o pedido de reconhecimento do estado palestiniano não tem qualquer implicação legal sobre o direito de retorno desses refugiados a Israel. Aliás, o passo agora dado pelos palestinianos implica assumir que essas duas questões são independentes e assim serão tratadas, algo nunca antes assumido.

Tinha Pedro Lomba como alguém que era capaz de reflectir de modo intelectualmente honesto, sem recorrer à mentira como meio de persuasão. Enganei-me.

Nota: quem quiser pode constatar, lendo a documentação disponível sobre as cimeiras de Camp David (2000), Taba (2001) e Annapolis (2007, uma autêntica farsa) que Israel nunca aceitou o estabelecimento dum estado palestiniano nas fronteiras de 1967, sempre exigindo a retenção de alguns colonatos aí construídos (sem mencionar Jerusalém Leste). Mesmo em Taba (2001), quando as negociações estiveram praticamente fechadas, e só não resultaram num acordo porque entretanto Ariel Sharon e G. W. Bush chegaram ao poder e renegaram a (mais moderada) anterior posição negocial israelita.

26/09/11

Deriva lulista de Morales?

As ambições de feição neo-colonialista do regime brasileiro não são novidade. O que se passa na Bolívia confirma-o, levando para já muitos cidadãos do país a denunciarem, passando à acção, uma espécie de deriva lulista de Morales. Fica este excerto de uma peça publicada por El País sobre a demissão da ministra da Defesa na sequência da repressão policial que atingiu os índios que protestavam contra a abertura de uma estrada, financiada pelo Brasil, numa reserva natural do país.

Cientos de bolivianos se manifiestan hoy con vigilias, concentraciones y huelgas de hambre en diferentes ciudades para protestar por la violencia con que se dispersó a los indígenas amazónicos que rechazan una carretera financiada por Brasil que atravesará una reserva natural. Sindicatos, asociaciones indígenas, partidos de oposición y grupos ecologistas y de defensa de los derechos humanos han organizado protestas públicas para hoy y los siguientes días, incluyendo una huelga nacional de la Central Obrera Boliviana (COB), la mayor organización laboral del país, según informa Efe.

Los policías forzaron a cientos de indígenas a subir a autobuses que los llevaron al pueblo vecino de San Borja, de donde los trasladarán a sus comunidades, según dijo el general Muñoz. El jefe policial agregó que se "detuvo a tres o cuatro personas" y que hay varios heridos en ambos bandos, aunque no de gravedad.

Los medios de prensa informaron que muchas mujeres indígenas fueron separadas de sus hijos y pedían ayuda para hallarlos antes de que se pierdan en el bosque. La Policía impidió la cobertura de fotógrafos y periodistas y algunos perdieron sus equipos en medio de la refriega, según denuncias de los medios bolivianos.

La intervención policial se produjo horas después de que Morales anunciara un referéndum en los departamentos de Cochabamba y Beni sobre la carretera, y tras invitar a los dirigentes indígenas, ahora detenidos o dispersados, a dialogar en La Paz.

Morales, que ha visto afectada su imagen de indigenista y ecologista por este conflicto, según reconocen incluso miembros de su Gobierno, volvió a defender ayer la polémica vía, financiada por Brasil.

El desencanto social de Evo Morales se ha hecho más visible en Bolivia a causa de la represión de la marcha indígena que revela la inconsecuencia gubernamental entre sus postulados de promoción de los derechos humanos y, la práctica política de obviarlos. Varios de sus más importantes exaliados políticos y sindicales, además de analistas han coincidido en destacar la gestión gubernamental como contradictoria a los principios ideológicos con los que Morales comenzó su Gobierno en 2006.

Das vantagens em ir envelhecendo

Há quem diga que a velhice traz sabedoria; outros que é mais rugas e reumático. Pontos de vista…
Por falar em pontos de vista – não confundir com o relativismo da razão: eu tenho um ponto de vista, tu tens um ponto de vista, ele tem um ponto de vista… porreiro, pá! –, veja-se como a Relatividade permite interpretações opostas. Se o tempo se torna mais lento quando a velocidade aumenta, com a idade devíamos poder ir adiando a morte já que a tendência é, facto incontestável, para perdermos mobilidade. Por outro lado, contudo, também podemos dizer que, à medida que o tempo que resta encurta, a velocidade de aproximação à meta dispara apesar do acréscimo exponencial das artroses.
Seja qual for a forma como olhemos a coisa, a grande vantagem da velhice não parece afastar-se muito da grande vantagem em ser-se rico: poder dizer o que nos vai na gana e o mundo que se lixe (o que não significa que a maioria dos velhos ou a maioria dos milionários tenha por hábito fazê-lo).
Martin Amis não é velho mas também não vai para mais novo (n. 1949). Não sei se no caso dele a idade virá ao caso, mas a forma como critica Saramago em O Segundo Avião faz prova de uma nonchalance só admissível a partir dos cinquenta e muitos.
Cita-o (“Ah, sim, os horrendos massacres de civis causados pelos chamados terroristas suicidas… Horrendos, sim, sem dúvida; condenáveis, sim, sem dúvida, mas Israel ainda tem muito a aprender se não é capaz de compreender as razões que podem levar um ser humano a transformar-se numa bomba.”), mas só para não o poupar: “E se formos ouvir a retórica do delírio e da auto-hipnose, então mais vale que a ouçamos de um laureado de Estocolmo (…) [cuja] linhagem da prosa (…) na verdade é a mais pura e empertigada grandiloquência (poderia chamar-se-lhe nobelês).”
O mais radical encolher de ombros à opinião alheia, vai, porém, para Francis Bacon que, quando interrogado sobre pintura abstracta, respondeu (cito de memória): “É assim como o padrão dos sofás. Fica bem na sala…”.

25/09/11

Help!

Ao tentar entrar no meu blog pessoal, "Meditação na Pastelaria", surge a mensagem "Este Web site pode danificar o seu computador".
Sem entrar em teorias conspirativas, alguém me dá me ajuda para resolver o problema? As explicações do Google soam-me vagamente a chinês.
Agradecida.

24/09/11

Ainda sobre a pena de morte nos EUA

No mesmo dia da execução de Troy Davis, houve outra nos EUA - Lawrence Brewer. Neste caso não há qualquer dúvida sobre a sua culpa e o crime parece-me muito pior: Brewer e dois cúmplices (supremacistas brancos) ataram James Byrd Jr.  (aparentemente escolhido apenas por ser negro) à parte de trás de um camião e arrastaram-no durante quilómetros, até à morte.

No entanto, até à execução, houve quem tentasse salvar a vida de Lawrence Brewer, tendo apelado para que a pena fosse comutada - o filho da vítima:
As Texas prepares to execute one of his father's killers, Ross Byrd hopes the state shows the man the mercy his father, James Byrd Jr., never got when he was dragged behind a truck to his death.

"You can't fight murder with murder," Ross Byrd, 32, told Reuters late Tuesday, the night before Wednesday's scheduled execution of Lawrence Russell Brewer for one of the most notorious hate crimes in modern times.
"Life in prison would have been fine. I know he can't hurt my daddy anymore. I wish the state would take in mind that this isn't what we want."

(...)

Byrd says the execution of Brewer is simply another expression of the hate shown toward his father on that dark night in 1998. Everybody, he said, including the government, should choose not to continue that cycle.

"Everybody's in that position," he said. "And I hope they will stand back and look at it before they go down that road of hate. Like Ghandi said, an eye for an eye, and the whole world will go blind."
[Reuters]

23/09/11

Palestina



Há momentos, Mahmoud Abbas entregou uma carta a Ban Ki-Moon, secretário-geral da ONU, na qual requer o estatuto de membro de pleno direito para o estado palestiniano. Não é, na minha opinião, a melhor solução para o conflito israelo-palestiniano, a qual passaria pela existência de um só estado, plenamente democrático (o que Israel está longe de ser), laico e aberto a todos que nele queiram viver. Mas é a única solução realista no horizonte, e irá permitir ao palestinianos afirmarem-se, nem que seja apenas simbolicamente, como povo de iguais direitos perante a comunidade internacional. O estatuto de membro permanente da ONU para a Palestina será seguramente vetado pelos EUA, se estes não conseguirem impedir que pelo menos 9 membros do Conselho de Segurança da ONU votem favoravelmente a concessão de tal estatuto. Este assunto pode parecer muito longínquo das nossas preocupações mais prementes, mas acontece que Portugal terá um papel importante nos tempos mais próximos, como actual membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU. Tendo em conta a alegre subserviência que este governo demonstra no contexto europeu, não ficava de todo espantado que tal atitude se mantivesse perante os EUA, resultando numa mais que provável e cobarde abstenção perante o requerimento palestiniano. Também pode ser requerido o estatuto de estado observador directamente à Assembleia Geral da ONU, o que Mahmoud Abbas só deverá fazer quando (o que pode demorar meses) ouver uma decisão formal do Conselho de Segurança da ONU. O estatuto de estado observador poderá permitir, por exemplo, à Palestina acesso directo ao Tribunal Internacional de Justiça e ao Tribunal Penal Internacional. De qualquer modo, os palestinianos sabem perfeitamente que este seu passo diplomático seria inútil sem acções no terreno que re-lembrem o estado de ocupação de que padecem. E por isso estão a ser organizadas enormes manifestações na Palestina para os próximos dias. Acabo deixando um vídeo realizado pela Avaaz, que nas últimas semanas tem desenvolvido uma intensa campanha mediática em apoio do requerimento palestiano, e que descreve factualmente a opressão que Israel exerce nos territórios por si ocupados na Palestina.


Acumulação primitiva de capital?

Villagers riot in southern China over land dispute:

BEIJING (AP) — Protests by hundreds of villagers over a land dispute in southern China turned violent this week, with residents smashing buildings, overturning vehicles and clashing with police, a villager and the local city government said Friday.

The unrest began Wednesday when about 50 residents of Wukan village in Guangdong province held a peaceful protest in which they shouted slogans and held up banners, according to a statement issued by the government of Lufeng city, which oversees the village.

Then the crowd swelled to more than 200 people, and the residents began smashing buildings and equipment in an industrial park in the village and blocked roads, the statement said.

The villagers had gathered to protest a rumor that their farmland was going to be sold by local village officials without their consent, said a woman surnamed Chen who works at a building materials company in Wukan.

In China, where economic development is surging and demand for land is high, protests — some violent — fueled by illegal land seizures have grown common among farmers. Although the central government has drawn up laws to protect farmers and their land, implementation at the local level often proves challenging.

Police arrested three villagers during Wednesday's violence, said Chen, who would give only her surname when reached by phone. On Thursday, more than 100 villagers showed up outside a police station to seek the release of the villagers, and a clash broke out, she said.

"They surrounded the police station and would not let the police out. Then there was a fight. Some of them were beaten and wounded. They were all villagers, no police were injured," Chen said.

Chen said the villagers smashed the windows of the police station and overturned vehicles. She said police released the three villagers after that.

Tirando dúvidas

O executivo do moderno estado capitalista acaba por ser sempre o conselho de administração dos interesses comuns da burguesia, seja quem for o presidente ou o governo; quer os laços de parte da burguesia de Wall Street com a classe dominante israelita, quer os laços da burguesia texana com as classes feudais dos países vizinhos de Israel (receosas de qualquer alteração ao status quo, como se viu em 1970-71), quer os laços de toda a alta burguesia norte-americana com o complexo-industrial-militar explicam perfeitamente essa atitude. Nem vejo onde está a dúvida.

22/09/11

Coisa de bárbaros e o resto é conversa: Troy Davis foi morto hoje

... e depois ainda há gente que nos reconcilia com o mundo

Corredores da morte, patíbulos, números… (2)

O adiamento da execução de Davis resumiu-se a um simples atraso, a execução foi consumada. Dito isto, não sei o que é realmente mais obsceno: se a morte por injecção letal, acompanhada dessa reabilitação da justiça privada que é a satisfação dos familiares das vítimas (reais ou putativas) do supliciado, no espaço reservado e medicamente assistido de uma prisão norte-americana, se a pedagogia da forca na praça pública praticada no Irão, para maior glória de deus e dos seus hierarcas temporais, e menorização reforçada, através da apologia da servidão voluntária, dos súbditos do regime islâmico. Os condutores de povos e outros aspirantes às chefias e direcção dos Estados que escolham. Aos democratas não compete o papel de conselheiros do mal menor.

21/09/11

Corredores da morte, patíbulos, números…

O adiamento da execução de Troy Davis não pode fazer-nos esquecer os factos disponíveis sobre a pena de morte e a sua aplicação nos Estados Unidos. E também noutras paragens. Pois, antes de continuar, recorde-se que, no Irão,  o regime islâmico — dito por antífrase "república", do mesmo modo que os EUA se dizem por antífrase governados pela "constituição da liberdade" —, acaba de oferecer em espectáculo pedagógico aos seus súbditos o enforcamento na praça pública, mais um, de um jovem de 17 anos. Mas aqui ficam alguns números que dispensam comentários:

(…) Estados Unidos es junto a Arabia Saudí, China, Irán y Yemen uno de los países que más personas somete a la máxima pena cada año (en el mundo se ejecutaron legalmente el año pasado 527 personas, según Amnistía Internacional, aunque los datos sobre China son esquivos y podrían superar a los miles).

Cada cierto tiempo, un caso aviva el debate -más fuera de Estados Unidos que dentro, desgraciadamente- sobre un método cruel, inhumano y atávico que sigue vigente en 36 Estados de la Unión y ya ha sido abolido en 14. El último en sumarse a esta tendencia fue Illinois el pasado mes de marzo. En esta ocasión, se trata de Troy Davis, cuyos abogados consideran que su juicio estuvo plagado de defectos de forma e incluso siete testigos se han retractado de lo que declararon en su momento y ya no apuntan su dedo acusador hacia el condenado en 1991 por el asesinato de un policía.

Números hay muchos cuando se habla de pena de muerte en el país más poderoso de la Tierra. Números como que solo en el Estado de Texas se han matado legalmente a 474 personas desde que la pena capital fue reinstaurada por el Tribunal Supremo de EE UU en 1976 tras dos años de moratoria. A Texas le sigue Virginia con 109 y Oklahoma con 96.

Números como el que dice que un 42% de las personas que esperan su turno en el corredor de la muerte son negras (a pesar de que solo suponen un 12% del total de la población del país); un 44% son blancos; un 12% son hispanos y un 2% pertenecen a otras razas. El Estado que mayor número de presos tiene encerrados esperando la muerte es California (607).

Más del 75% de las víctimas de asesinato cuyo caso acaba en una sentencia a muerte eran blancas, a pesar de que solo el 50% de los asesinados son de esa raza
.


La mort des loups


DEUX CONDAMNÉS À MORT ONT ÉTÉ EXÉCUTÉS
UN MATIN À CINQ HEURES IL N'Y A PAS TRÈS
LONGTEMPS. LES PRÉSIDENTS, MÊME NIXON,
NE SE SONT PAS DÉRANGÉS POUR ASSISTER
À CETTE FORMALITÉ

LE DEUXIÈME PRÉSIDENT DE LA CINQUIÈME
RÉPUBLIQUE EST MORT LE 2 AVRIL 1974.
LES PRÉSIDENTS, MÊME NIXON, SE SONT
DÉRANGÉS POUR ASSISTER À CETTE CÉRÉMONIE

- LAISSEZ OUVERT... J'ARRIVE!
- DE FAIT, IL ARRIVA

Les villes sont debout la nuit dans les maisons de l'amour fou
Des appareils marchent tout seuls branchés sur des soleils de volts
Des enfants jouent à l'amour mort dans des ascenseurs accrochés
À d'autres cieux à d'autres vies là-bas sur les trottoirs glacés
Des assassins prennent le temps de mesurer leur vie comptée
Perchés comme des oiseaux de nuit sur leur arme qu'ils vont tirer
Comme on tire une carte alors qu'on sait qu'on est toujours perdant
Dans le matin les coups de feu s'agitent comme des menottes

Les loups les loups

On ne les voit jamais que lorsqu'on les a pris
Alors on voit leurs yeux comme des revolvers
Qui se seraient éteints dans le fond de leurs yeux
Alors on n'a plus peur de ces loups enchaînés
Et on les fait tourner dans des cages inventées
Pour faire tourner les loups devant la société
Des loups endimanchés des loups bien habillés
Des loups qui sont dehors pour enfermer les loups

Je les aime ces loups qui nous tendent leur vie

Les routes sont des chiffres bleus dans la tentation du printemps
Du deux cent vingt à la Centrale À deux cent vingt vers l'hôpital
Des drogués sortent dans la cour faire cent pas avec le vent
Et la Marie dans les poumons ils se vendent pour trois dollars
Des grues qui font le pied de nez aux maisons blêmes mal chaussées
Des magazines cousus de noir ressemblent aux linges de la mort
Les cathédrales de la nuit ont des Cafés au fond des cours
On a flingué deux anges blonds dans un Café de Clignancourt

Les loups les loups

C'est eux toujours les loups qui dérangent la nuit
Qui la font se lever dans le froid du métal
C'est eux qu'on chasse alors qu'il ne tiendrait à rien
À peine un peu d'amour sans le Bien ni le Mal
Mais on les fait dormir au bout d'un téléphone
Qu'on ne décroche pas pour arrêter la mort
Qui vient les visiter la cigarette aux lèvres
Et le rhum à la main tellement elle est bonne

Je les aime ces loups qui nous tendent la patte

On oublie tout et les baisers tombent comme des feuilles mortes
Les amants passent comme l'or dans la mémoire des westerns
Les images s'effacent tôt dans le journal que l'on t'apporte
Et les nouvelles te font mal jusqu'à la page des spectacles
À la Une de ce matin il y a deux loups sans queue ni tête
Ils sont partis dans un panier quelque part dans un pays doux
Où la musique du silence inquiète les hommes et les bêtes
Ce pays d'où l'on ne revient que dans la mémoire des loups

Les loups les loups

Lorsque j'étais enfant j'avais un loup jouet
Un petit loup peluche qui dormait dans mes bras
Et qui me réveillait le matin vers cinq heures
Chaque matin à l'heure où l'on tuait des loups

Je les aime ces loups qui m'ont rendu mon loup






Léo Ferré (1975)

A nova lei eleitoral egipcía

The dangers of Egypt’s new electoral system e More criticism of the Egyptian electoral system, por Matthew Shugart.

How Bad Election Law Could Crash Egypt's Revolution (The Atlantic)

Egypt's new parties slam electoral districts law as tailored for NDP restoration (Ahram Online)

Às vezes me espanto

O País das Pessoas de Pernas para o Ar é um título de Manuel António Pina com bonecos do João Botelho que eu li no já vetusto ano de 1973 quando a Regra do Jogo o editou. Dirigido à infância, reunia quatro histórias e foi a obra de estreia do poeta.
Os anos passaram, Manuel António Pina foi melhorando com a idade e, já este ano, viu ser-lhe atribuído o Prémio Camões. Quanto ao livro, desenterrei-o há uns tempos de uma pilha poeirenta, voltando a pensar nele ao tropeçar por acaso nas recentes declarações de Francisco Van Zeller, ex-presidente da CIP: “É ridículo o povo aceitar sacrifícios e não ir para a rua”. Estupefacta, recordei a frase de Belmiro de Azevedo proferida em 2010: “Quando o povo tem fome, tem direito a roubar”.
Dado que as duas afirmações me pareceram contaminadas por um radicalismo mais ajustado aos tempos do PREC – quando os ricos que pagassem a crise! – do que ao dos PEC – para o qual nem sequer conseguiram inventar um slogan de jeito – dei por mim a pensar que a coisa deve estar muito pior do que nos querem fazer crer.
Passos Coelho anunciou o fim da crise portuguesa para 2012 mas já Christine Lagarde preferiu avisar sobre a iminência da economia mundial entrar em recessão. Em quem acreditar?
Não será por falta de patriotismo mas, assim como assim, opto pela Christine (e eu até simpatizava mais com o Dominique). Afinal, cá pelo burgo andam a prometer-nos a salvação pelo menos desde 13 de Outubro de 2006, dia que ficará para a História pátria como aquele em que Manuel Pinho anunciou, não recordo já se com pompa e circunstância mas certamente com a costumada sapiência, que “a crise acabou”.
Segundo o novo governo falta-nos ainda e apenas um aninho. Só mais um esforço, pois, compatriotas. No entretanto, “ensinai aos vossos filhos o trabalho, ensinai às vossas filhas a modéstia, ensinai a todos a virtude da economia.”
Uma caixa de pílulas gratuitas ou, em alternativa, um broncodilatador à borla a quem adivinhar o autor da frase citada.

18/09/11

Porfírio Silva e o Espírito de Perseguição da UCP

Dificilmente será novidade para alguém que o "esplendor da verdade" da lei divina, de que a Igreja de Roma se declara detentora e única intérprete legítima, tem por alvo privilegiado e inimigo directo o esplendor da liberdade e da responsabilidade humanas e a ordem democrática da cidade. Mas que a República Portuguesa possa reconhecer, avalizar e apoiar uma universidade — a UCP — que tem por boas práticas aquilo que o Porfírio Silva descreve, num post chamado Uma História Pouco Católica  devia ser motivo de protesto e acção organizada por parte de todos aqueles para quem a cidadania não é uma palavra vã. Oxalá os corvos venham a ter de queixar-se de que os amigos da democracia não se cansam de lhes mover guerra.

16/09/11

US Day of Rage



Amanhã, 17 de Setembro, US Day of Rage. Será que também é possível a revolução na América?

Ontem na Dinamarca

As eleições legislativas foram ganhas tangencialmente por uma coligação liderada pelo Partido Social-Democrata, e que integra o Partido Social Liberal, o Partido Socialista do Povo e a Aliança Vermelho-Verde. Enquanto que o primeiro é um partido típico da Internacional Socialista, como o PS por cá, e o segundo é um partido liberal que se tenta posicionar politicamente no centro, quer o Partido Socialista do Povo quer a Aliança Vermelho-Verde posicionam-se claramente à Esquerda:

"Socialist People's Party ideological base is Popular Socialism, inspired by democratic socialism and green politics. The party sees a democratic socialist Denmark as the end goal of its politics. The party is a strong supporter of human rights, the rights of minorities and democracy. An important issue dividing the party is the European Union. Historically the party was highly Eurosceptic. However, during the 1990s, when the EU began to implement policies oriented at regional development, environmental protection and social protection, the SF became more positive about the EU. Currently, this issue is still dividing the party internally."

"The Red-Green Alliance objects clause may be summarized as: creating a socialist Denmark and working for the spread of socialism internationally; unite left-wing cooperation and left-wing representation in the struggle against capitalism; improve the Danish welfare system; ensure social justice; Spread empathy, and tolerance. The party opposes Danish membership of the European Union and NATO. A unique organizational feature is that the party has no chairman, but is led by an executive committee consisting of 25 members. The members of Parliament pay a part of their parliamentary salary to the party, such that their net income is comparable to that of a skilled worker."

Uma experiência a acompanhar atentamente.

15/09/11

Pode um Partido Socialista ter medo do Socialismo?

Aproxima-se o vigésimo aniversário da queda da URSS. Estávamos em 1991 e para muitos esse ano marcou o fim do século XX. Iniciava-se então uma nova era cujo signo seria o da liberdade.




Negada pelos regimes socialistas da Europa de Leste, a liberdade seria agora rainha e senhora. Sem muros nem a meias, o mundo seria livre e seria mundo, a sua superfície aplanada e alisada, disponível para nele circularem tudo e todos, de tal modo que as economias nacionais e regionais se desenvolveriam combinadamente, acumulando-se riqueza, dinheiro, progresso. Depois, mais tarde, num futuro mais ou menos longínquo, tudo acabaria por escorrer, do topo da pirâmide até cá abaixo, a caminho da felicidade e da abundância gerais. Em suma, a liberdade política traria a igualdade económica.




O fim da URSS trouxe mudanças importantes nas esquerdas partidárias europeias. Os partidos comunistas ressentiram-se imediatamente da débacle, alguns de modo fatal, outros conservando ainda hoje uma parte importante das suas forças, caso do PCP. Os partidos social-democratas, por sua vez, reclamaram a queda da URSS como uma vitória sua e beneficiaram eleitoralmente com a crise dos rivais comunistas, conforme testemunha o PS dos anos 90. Finalmente, mais à esquerda, abriu-se um espaço para correntes que, a partir de tradições radicais, e juntando-lhes comunistas e social-democratas desavindos com o seu passado, souberam trilhar um caminho de crítica da globalização capitalista sem guardar nostalgia pelos regimes socialistas do leste – foi o caso do BE.




Este novo cenário acalentou junto de algumas pessoas novas hipóteses de uma aliança entre os partidos de esquerda. Cessando a divisão do mundo entre o capitalismo ocidental e o socialismo de leste, cessava um obstáculo importante entre as esquerdas portuguesas. À nova situação geopolítica, juntava-se ainda a auto-crítica do PCP relativamente às experiências de leste, que o levou a revalorizar a ideia de liberdade política, diminuindo a sua distância face aos valores liberais dominantes. O próprio BE, que em parte alimentara uma ideia de liberdade política mais próxima de uma democracia de cariz basista, inspirada na crítica revolucionária da burocracia e do estatismo dos regimes de leste, rapidamente acabaria por redundar num partido parlamentar convencional.




Em suma, não tem sido o respeito pela liberdade política, nem as divergências – que as há – em relação ao que se entende por democracia política, que tem impedido aproximações entre as esquerdas partidárias. O principal motivo de afastamento reside no respeito pelo princípio da igualdade económica. Com a queda da URSS, e apesar da maior influência do liberalismo, PCP e BE continuaram, porventura de um modo mais tímido, a atribuir relevância significativa à ideia de igualdade económica. Já no campo do PS, essa ideia parece ter sido definitivamente secundarizada. Os socialistas portugueses participaram activamente do argumento segundo o qual todos os que lutam pela igualdade económica acabarão por negar a liberdade política. Propostas no sentido de uma menor liberdade comercial em nome de uma maior igualdade económica foram uma e outra vez indiciadas pelo PS como prova de que a esquerda anticapitalista é refém do mesmo tipo de pulsão totalitária que terá caracterizado os regimes socialistas do Leste.



Para alguns, o rumo liberal do PS é fruto de uma sua rendição aos encantos da terceira via. Para outros, o PS é por definição um partido do centro, que tanto emergiu contra a sua esquerda como contra a sua direita, sem a ligação histórica ao movimento operário que por exemplo caracterizou a social-democracia alemã. E, no entanto, olhando para o último congresso de Sócrates e para este primeiro de Seguro, tudo parece necessariamente mais elementar: na vida do PS sobrelevam os sinais de que em curso está um simples ajuste de contas entre novas, velhas e futuras lideranças. Infelizmente, a desastrosa troca de cadeiras entre Seguro e António Costa é mais do que um simples episódio tragicómico. E o problema que se mantém no meio da sala do congresso, como o elefante que ninguém quer ver, é se pode um partido socialista ter medo do socialismo?

Por estas e por outras é que eu [ainda] gosto deste país...

... ou em que outro lugar do mundo um deputado presidente de uma Comissão de Assuntos Constitucionais enviaria um envelope com informação secreta pelos CTT (correio azul?) chegando este ao destinatário (um ex-espião sob suspeita) "engatado pelo picotado"?
E, no meio disto tudo, não nasce um Jerome K. Jerome?! Porque essa parte de só nos saírem Peixotos é que lixa tudo.

11/09/11

O dia que mudou o mundo

É assim que o dia de hoje, 11 de Setembro, tem vindo a ser apresentado nos meios de comunicação social nos últimos tempos (sobretudo na semana passada).

Mas que grande mudança houve realmente no mundo nesse dia? Bem, para 3 mil pessoas, mais os seus familiares, amigos, etc. houve realmente uma grande mudança; mas, fora isso, que grande mudança houve?

08/09/11

A Parábola da Agulha (que para o eduquês já demos)

Longe de mim ter teorias sobre educação. Há poucas coisas, aliás, sobre as quais tenha teorias, apesar de Platão ser o meu pensador preferido pelo menos desde 1978, salvo erro, ano em que conclui que a sua Teoria das Ideias se podia resumir na boa a uma parábola contada algures por Herberto Helder.

Cito: “Levanto-me então da plateia e, por entre as metralhadoras esculpidas, conto de novo a parábola da agulha, que me obceca. Desentranhei-a de um velho manual. Trata-se de uma mulher que perdeu uma agulha na cozinha e a procura na varanda de sua casa. Acorre então o jovem que pretende ajudá-la, e pergunta: Que procura? — Uma agulha. Caiu-me na cozinha. Logo o inexperiente jovem se espanta muito e quer saber porque a procura ela na varanda. — Porque na cozinha está escuro — responde a mulher.”

Como presumo até os estudantes liceais de Filosofia saberão (supondo que ainda existam), na Caverna Platónica também fazia escuro p’ra caraças. Vai daí, o filósofo, que, como a mulher da parábola, nada tinha de parvo, foi à procura das Ideias noutro sítio.

Voltando à educação e ignorando os temas sindicais recorrentes – assunto sobre o qual “só sei que nada sei” –, o que eu gostaria mesmo era que alguém reflectisse a sério sobre isto: “Na geração que cresceu habituada às multitarefas, na era digital, os limites superiores da atenção no cérebro humano encontram-se em rápida expansão, algo que provavelmente levará à alteração de certos aspectos da consciência num futuro não muito distante, se tal não tiver já acontecido. Expandir a atenção traz vantagens óbvias, e as capacidades associativas geradas pelas multitarefas trazem vantagens espantosas; em contrapartida, poderá haver um custo em termos de aprendizagem, consolidação de memória e emoção. Não temos ainda ideia de qual poderá ser esse custo”, António Damásio, O Livro da Consciência.

Atendendo à dificuldade que há já em sentá-los (a que acresce a insistência na discussão estéril do “eduquês”), temo que o custo seja grande. E qualquer dia nem a agulha do Platão, perdão, do Herberto Helder, nos ajudará a encontrar o Norte.

O Fascismo e Kadafi. Um contributo do João Bernardo para o Vias e para a discussão sobre a Líbia

O João Bernardo enviou para o Vias de Facto este contributo para o debate que aqui tem decorrido há meses sobre os acontecimentos na Líbia. A discussão continua…


Kadafi

Estou hoje a reler um pequeno livro de Karl Jaspers (La Culpabilité allemande, Paris: Les Amis des Éditions de Minuit, 1948) e é curioso ver que uma das acusações que ele proferiu contra as potências aliadas foi a de não terem tomado a iniciativa de fazer guerra contra a Alemanha logo depois de 1933, para porem termo à ditadura hitleriana. E é bem conhecida a indignação dos republicanos espanhóis pelo facto de a França não os apoiar militarmente na guerra civil, quando o Reich, a Itália e Portugal apoiavam os nacionalistas. Se houve reclamações pelo comportamento da União Soviética na Espanha, elas não se deveram à sua intervenção militar na guerra civil, que foi elogiada por todos no lado republicano, mas ao facto de essa intervenção ter sido considerada insuficiente e ainda à intromissão policial nas disputas políticas internas ao campo republicano. E devemos ter presente que, sem a intervenção militar dos comunistas sensatos do Vietnam, os comunistas paranóicos ainda hoje governariam o Cambodja.
Mas agora o facto de os Estados Unidos e alguns membros europeus da Nato terem posto os seus aviões a bombardear as forças de Kadafi serve para conferir uma aura progressista ao anterior regime líbio. É claro que os Estados Unidos e a União Europeia procuram aproveitar os acontecimentos na Líbia. Que outra coisa se poderia esperar? Do mesmo modo, tentaram desde início aproveitar a revolta popular no Egipto e noutros países árabes e continuam a tentá-lo. Tal como o Reino Unido, usando Armindo Monteiro, e depois os Estados Unidos, usando Júlio Botelho Moniz e finalmente Mário Soares, tentaram aproveitar-se da insatisfação popular em Portugal e conseguiram fazê-lo. Vamos defender o salazarismo em nome da independência nacional e do antiamericanismo? Aparentemente, continua a existir uma porção da esquerda que não aprendeu a grande lição da guerra fria — as consequências funestas de confundir as lutas sociais com a geopolítica.
Aqueles que, na esquerda, usam o pretexto da intervenção da Nato para defenderem o regime de Kadafi fariam talvez bem se lessem uma das obras do melhor dos teóricos fascistas do pós-guerra, o francês Maurice Bardèche. Em Qu’Est-ce que le Fascisme? (Paris: Les Sept Couleurs, 1961) Bardèche censurou aos neofascistas do seu país a reacção «sentimental» que os levava a lutar pela presença da metrópole no Norte de África, sem verem que estavam assim a defender também «os interesses da democracia plutocrática». «É preciso escolher as suas guerras», preveniu Bardèche, e em vez disso os neofascistas aceitavam todas. «Eles não examinaram se, na realidade, os nacionalistas argelinos não fazem parte dessas forças que querem estabelecer regimes novos e autoritários, independentes de Washington e de Moscovo» (o raciocínio foi desenvolvido nas págs. 116-121 e as passagens e expressões citadas encontram-se nas págs. 116 e 119). O que permaneceu em filigrana nas observações de Bardèche, demasiado escandaloso para se afirmar claramente, é que na guerra da Argélia o fascismo estava talvez do lado dos independentistas. Mas o sentido das suas conclusões é tanto mais claro quanto no capítulo seguinte Bardèche se dedicou a mostrar o carácter fascista do regime de Nasser, para detectar adiante um carácter nasseriano em alguns elementos do FLN argelino (págs. 123-130 e 149-150). O carácter fascista do regime de Nasser foi reconhecido até pelo teórico neofascista italiano Adriano Romualdi, apesar de ele circunscrever o fascismo à Europa e criticar Bardèche por ter classificado como fascismos vários terceiro-mundismos. «O único fenómeno extra-europeu que, com um pouco de boa vontade, se poderia definir como “fascista” é o Egipto de Nasser, onde efectivamente se procurou enxertar uma mística da antiga cultura árabe sobre uma disciplina política revolucionária», escreveu Romualdi (citado em Francesco Germinario, Estranei alla Democrazia. Negazionismo e Antisemitismo nella Destra Radicale Italiana, Pisa: Biblioteca Franco Serantini, 2001, pág. 45). Ora, tudo o que se disser acerca do nasserismo deve ser multiplicado por dez acerca do regime de Kadafi.

João Bernardo

07/09/11

Os cómicos da economia e nosotros.


Já lá vão alguns dias, o Miguel Madeira notava com humor neste blogue que há indivíduos que trabalham como guardas-nocturnos para os políticos e que nem sequer sabem calcular o IRS…
 Não vale a pena pensar que esta bicharada é sacana, parva ou mesmo analfabeta. Não senhor! É muito mais simples do que isso. Trata-se de gente que lava as mãos antes de ir para a mesa, trata bem a mulher, os filhos e até as criadas, lamenta o sofrimento dos pobres. Isto é, são, na maioria dos casos, o que se chama gente normal! Só que é gente que sofre de uma deficiência mental grave. Que não pode conceber que a sociedade humana possa ser organizada de outra maneira, segundo outros princípios. Que não percebe o significado do desabafo do Castoriadis que dizia (mais ou menos), «O género humano deve poder fazer melhor do que este desastre». Que são uma espécie de talibans do sistema capitalista; para eles,  o único, o definitivo, o eterno horizonte do género humano. Ámen.
Senão veja-se.
 O Sr. Pereira dava explicações de política económica às meninas e aos meninos de um colégio privado de Vancouver. Agora é ministro em Portugal, da ECONOMIA, atenção! Veio de avião, para salvar a pátria do trabalhador Belmiro de Azevedo e outros como ele. Na entrevista dada ao jornal El Pais, no dia 25 de Julho, o santo homem de barbicha bem aparada confessa, com ar sério, que a sua primeira iniciativa para diminuir as despesas do Estado foi de apagar a luz nas salas vazias do seu ministério… Num país de merceeiros, o Sr. Pereira faz questão de honrar as tradições, não se deixa a luz acesa se não esta ninguém na loja.
Dias antes, o Sr Evangelos, que também é ministro da dita «economia», desta vez na Grécia, desabafava no Le Monde,  «Com a ajuda da UE, a economia grega vai poder respirar profundamente e isto vai progressivamente repercutir-se na economia real». Uma espécie de medicina chinesa, um movimento de qi gong. Respiração e energia…Só que, uma semana depois, a tal «economia real» continuava a sufocar. Deve ter respirado ar poluído. E, umas semanas mais tarde, anunciava-se que a dívida pública da Grécia estava fora de controlo… Este rapaz, Evangelos, é um cómico!
Assim vão os economistas modernos, entre mercearias e respirações assistidas. Prisioneiros do voluntarismo monetário, incapazes de analisar as causas da doença do corpo a partir das contradições de valorização da «economia real», correm atrás dos efeitos e dos acontecimentos, agências de notação, mercados e outros fetiches. E não vêem outra solução senão a de pagar a dívida com a recessão. Assim, o Sr. Pereira e os primos de Cascais, depois de ter apagado as luzes, fará a única coisa que esta gente sabe fazer, dar porrada nos pobres para que se salvem os ricos e os mubaraks saloios, os seus cómicos e demais bobos da corte, para os quais a palavra de ordem continua a ser «é fartar vilanagem!». Mais pobreza e mais concentração de riqueza. Baixar o valor da força de trabalho com a esperança de atrair o investimento e aumentar a taxa de exploração. Com a esperança, digo bem, pois que estamos a falar para crentes… Entretanto, a tal «economia real», que fundamenta a vida das sociedades continua a afundar-se, levando com ela vidas, existências, ilusões, alimentando medos, loucuras, pânicos, fomentando irracionalidades e barbaridades.

Contribuição à crítica do pensamento único, junto acrescento extractos de um livro que um amigo acaba de publicar em Espanha [José A. Tapia y Rolando Astarita, « La Grande Recession y el capitalismo del siglo XXI », Catarata, Madrid, http://2011 www.catarata.org]

¿Cómo se sale de las crisis económicas?
Durante la primera mitad del 2010 muchas instituciones económicas y políticas se volvieron a convertir a la ortodoxia económica de décadas anteriores, de recorte de impuestos a los ricos, reducción de gastos sociales y austeridad (para quienes viven de sus salarios). El FMI, muchos gobiernos —el de Merkel en Alemania, el de Cameron en el Reino Unido y el de Rodríguez Zapatero en España— y una buena parte de los economistas «de derechas» proponen reducir drásticamente los gastos sociales y el subsidio de desempleo, recortar salarios, hacer que el despido sea libre y que se pueda contratar a todo el mundo en precario (esto suelen llamarlo flexibilización del mercado laboral) y que no haya regulación alguna de los mercados.  Otro sector de la economía académica —conformado entre otros por los economistas vinculados a la administración de Obama, los articulistas del Financial Times y la influyente revista The Economist— critica la política de Angela Merkel y sostiene que los países más fuertes, como Alemania, Francia y EEUU, deben seguir aumentando el gasto público con una política monetaria expansiva. Este sector también está de acuerdo en imponer mayor regulación a los mercados financieros y a los bancos. Frente a estas alternativas del establishment económico, los economistas «de izquierdas», como Galbraith y Wray, piden en cambio que aumenten los salarios para que haya más demanda, que se aumente el gasto público para que se creen puestos de trabajo y que haya subsidio de desempleo y se aumenten las medidas de protección social. Cualquiera que tenga dos dedos de frente y cierta «sensibilidad social» dirá que esto último es mucho mejor. ¿No es así?
            La cuestión, sin embargo, es separar dos cosas que, aunque tienen relación, son distintas. Por una parte está la realidad económica y su funcionamiento y ahí la cuestión es entender cómo funciona el sistema de producción y distribución de la «economía de mercado» y si lo que dicen sobre ese funcionamiento distintas escuelas de pensamiento es cierto o es falso. Por otra parte, está la cuestión de qué es lo que favorece a unos sectores de la sociedad, a unas clases sociales, y qué favorece a otras.
            Por ejemplo, desde una perspectiva de defensa de los intereses de los asalariados es evidente que hay que defender medidas como el subsidio de desempleo, porque los desempleados tienen que poder vivir. Pero es ilusorio decir, como se dice a veces desde posiciones supuestamente progresistas, que el subsidio de desempleo crea demanda y por tanto favorece la salida de la crisis. Ciertamente, el dinero del subsidio que se paga a los desempleados crea demanda, pero si, por ejemplo, la cuantía total anual del subsidio es 2000 millones, como los subsidios son siempre menores que los salarios que reemplazan, la demanda de bienes de consumo que puedan crear esos 2000 millones siempre será menor que la demanda anual que creaban los salarios de los empleados antes de que comenzara la crisis que, supongamos, eran 3000 millones. Si con una demanda de consumo de 3000 la demanda era insuficiente para cubrir la oferta, con 2000 millones la insuficiencia de la demanda será mucho mayor.
            Lo clave para que se recupere la demanda son las inversiones. En el mundo hay enormes masas de dinero que antes o después necesita encontrar «oportunidades de inversión». Pero, «oportunidades de inversión» no es otra cosa que empresas con buenas perspectivas de producir ganancia. Como, además, las ganancias empresariales son la diferencia entre ventas totales y costos, y un componente importante de los costos son los costos salariales, para que aumente la inversión es clave que aumente la rentabilidad del capital (la relación entre ganancias y capital invertido), por ejemplo, mediante la reducción de los salarios. Como el subsidio de desempleo al menos en alguna medida reduce la presión a la baja que el desempleo masivo pone sobre los salarios, dificulta la recuperación de la rentabilidad empresarial y, por tanto, la recuperación de la rentabilidad. Decir simplemente que se puede salir de la crisis porque el subsidio de desempleo o los aumentos de salarios aumentan la demanda agregada y de esa forma estimulan la economía es ignorar el mecanismo básico del capitalismo, que es la explotación del trabajo asalariado. Las empresas obtienen mayor rentabilidad cuanto menores son los salarios y estos son tanto menores cuanto más presione la necesidad sobre los asalariados, forzándoles a aceptar cualquier trabajo y cualquier ingreso. Si los salarios son muy bajos las ganancias serán muy altas y la economía no solo recibirá un estímulo sino que se acelerará sobremanera, por la afluencia de inversiones de capital, atraídas por esa alta rentabilidad. En una ocasión Marx citó con aprobación al sindicalista inglés Thomas Dunning, quien afirmaba que el capital tiene horror a la ausencia de ganancia como la naturaleza tiene horror al vacío, y que conforme aumenta la ganancia, mayor es el envalentonamiento del capital. Lo cual, por otra parte, resulta confirmado una y otra vez cuando hay una expansión, la rentabilidad del capital se dispara y en los mercados de alta rentabilidad se producen «burbujas» (sean bursátiles, de empresas internéticas, de propiedades inmobiliarias...) por la afluencia de capitales grandes o pequeños. Burbujas que, por supuesto, acaban estallando, como en el verso de Machado, «como pompas de jabón».

05/09/11

Os agentes do "Ocidente" na Líbia

É evidente que as potências "ocidentais" tentam controlar e canalizar em seu proveito — contra eventuais concorrentes, como a RPC ou a Rússia — o processo político em curso na Líbia. O modo como conduziram a intervenção, excedendo claramente o mandato das NU prova-o suficientemente. No entanto, até ao momento, estão longe ainda de ter nos porta-vozes da transição agentes tão disciplinados e diligentes como o ditador e o seus hierarcas. Entra pelos olhos dentro.

Las nuevas autoridades libias acusan a Londres y Washington de colaborar conjuntamente en la captura de un disidente en 2004. En concreto de Abdelhakim Belhaj, actual comandante de Trípoli, quien ha exigido hoy disculpas a ambos gobiernos.

Según este comunicado la Comisión de Investigación de Detenidos está "bien posicionada" para investigar las alegaciones denunciadas en los últimos días. Por su parte, David Cameron tiene previsto dirigir un escrito al parlamento esta misma tarde.

Los documentos, encontrados por personal de Human Rights Watch en Trípoli, revelan que el MI6 y la CIA mantuvieron un diálogo regular con la Inteligencia libia, en particular con Musa Kusa, ex jefe de los servicios de inteligencia libios y ministro de Exteriores cuando comenzaron las protestas y uno de los primeros en desertar.

Entre los documentos, según ha recogido la prensa británica, figurarían cartas y faxes enviados a Kusa con el encabezamiento "saludos desde el MI6" y una felicitación de Navidad personal firmada por un espía como "tu amigo".

"No está claro exactamente a qué ascienden las alegaciones", ha señalado el portavoz, subrayando que el Gobierno británico "no tiene una imagen clara de estos documentos, de ahí el que una investigación como la de la citada comisión está bien situada para considerar la cuestión".

Por su parte, la Comisión de Investigación de Detenidos, originariamente creada para investigar los casos de los casos de los británicos retenidos en la prisión estadounidense de Guantánamo, ha señalado que puesto que su cometido es "analizar la extensión de la implicación del Gobierno británico o su conocimiento en el trato inadecuado de detenidos, incluida su entrega", "evaluará estas alegaciones de la implicación de Reino Unido en la entrega a Libia (de presuntos terroristas) como parte de nuestro trabajo". En este sentido, la comisión ha explicado en un comunicado que "solicitará más información al Gobierno y a sus agencias tan pronto como sea posible".
(…)
"Lo que me ocurrió fue ilegal y merezco una disculpa". Abdelhakim Belhaj, actual comandante militar de Trípoli, ha exigido a los gobiernos británico y estadounidense una disculpa por haber colaborado conjuntamente en su captura.

Según unos documentos de los servicios de inteligencia libios encontrados por un periodista canadiense en Trípoli, Belhaj habría sido capturado por la CIA en Bangkok -con su mujer embarazada- y entregado a las autoridades libias. El comandante fue encarcelado durante siete años en la prisión de Abu Selim en Trípoli, donde él afirma que fue interrogado por miembros de los servicios secretos británicos.

Aula de fiscalidade para Miguel Sousa Tavares

MST no Expresso:
"A partir de 153.000 euros de rendimento anual cai-se no escalão máximo. Descontado o 13º e o 14º mês, isso equivale, num casal em que ambos trabalhem por conta de outrém, a um salário bruto de 5000 euros/mês, cada"
Algo que acho irritante é esta conversa de "um casal em que ambos trabalhem, basta ganharem tanto para irem parar a certo escalão".

Será que os opinadores que escrevem isto não pagam IRS? Não preenchem declarações de IRS? Não recebem notas de liquidação, indicando o que têm a pagar ou a receber? Por outras palavras, não sabem que a taxa de IRS dos casais é determinada em função de METADE do rendimento declarado? Para um casal ficar no último escalão têm que ganhar em conjunto 306.600 euros, cerca de 11 mil euros por mês cada um.

Já agora, não acho que 5.000 euros por mês fosse assim tão pouco - não conheço ninguém do meu círculo de relações próximas que ganhe isso (é verdade que também não ando a perguntar às pessoas quanto ganhem, e o meu circulo social também não é muito grande...).

02/09/11

Os Destruidores de Máquinas

Em Inglaterra celebra-se o bicentenário do general Ludd. Não teve cerimónias de Estado, mas nem por isso o espectro de Ludd deixa de pairar sobre as ilhas britânicas…



Haverá melhor maneira de evocar a memória de Ludd que fazer incidir as luzes sobre o actual levantamento dos amotinados londrinos? Antes de responder concentremo-nos nesse longínquo século xix, ao encontro do velho Ludd.

Foi há duzentos anos, num território que ficaria conhecido como o triângulo ludita, entre as cidades de Manchester, Leeds e Nottingham, não muito longe, portanto, da área de influência de Robin dos Bosques. Um número inusitado de desafios à ordem pública e violações da propriedade privada fez soar o alarme junto de autoridades públicas e privadas. Fogos postos e saques colectivos ou individuais, somados a outros tantos raides nocturnos dirigidos a propriedades agrícolas, e ainda vários actos de sabotagem industrial, em muitos casos contra as máquinas que começavam a tomar conta do chão da fábrica, marcavam o início de uma onda de revoltas e protestos que duraria de 1811 a 1813.

Foram os anos do ludismo. Ainda hoje não é fácil saber ao certo quem eram os luditas. Entre eles encontravam-se seguramente artesãos, tecelões e fiadores. Reivindicavam frequentemente as suas acções assinando-as general Ludd ou simplesmente Ludd. Apelido imaginário, por certo, mas noticiado em jornais de parede, ao estilo agit-prop. A fama de Ludd beneficiou do prestígio avolumado pelas redes sociais tecidas pelos migrantes, que iam dando conta dos seus feitos, de localidade em localidade, numa época em que se intensificava a circulação de mão-de-obra. Insolente, Ludd vigiava o patrão menos escrupuloso da região, com carta ameaçadora na caixa de correio, mas também chegou a ser citado em petições parlamentares.

Em que contexto decorre a emergência do ludismo? A crise comercial em Inglaterra e o conflito com Napoleão são circunstâncias relevantes. A estes soma-se o impacto da nova maquinaria introduzida no quadro da revolução industrial; é razoável pensarmos que entre as motivações dos destruidores de máquinas estaria o desejo de conservar o posto de emprego. Nenhuma destas circunstâncias, contudo, parece ter comovido as autoridades. Se em alguns casos ainda encontramos sinais de uma resposta de tipo paternalista, foi repressão pura e dura que recaiu sobre os luditas, numa enorme operação militar e judicial. Esta criminalização deixou sequelas na memória e não é estranha a que os próprios historiadores, ao longo dos séculos xix e xx, tenham olhado para o ludismo com desprezo ou, na melhor das hipóteses, com a condescendência que lhes merecem os vencidos. A historiografia considerou os luditas mero sintoma da transição estrutural da época pré-industrial para o mundo da técnica. O retardado Ludd destruiria máquinas movido por um impulso irracional contra o progresso, diziam uns, enquanto outros referiam que os luditas se revoltariam por nítido desespero, como animais que atacam descontroladamente tudo e todos ao sentirem o estômago vazio.

Nas últimas décadas, porém, a situação modificou-se, em particular devido ao trabalho de uma geração de historiadores marxistas britânicos. Para o caso é particularmente relevante o artigo publicado em 1952 por Eric Hobsbawm e cujo título resgatei para dar mote a esta crónica. Pôs a hipótese de deixarmos de considerar homens e mulheres como os luditas enquanto sujeitos apolíticos. Não que os passemos a considerar actores políticos à semelhança dos "grandes homens" que comandam a ordem oficial - Ludd não é Churchill, Thatcher ou Obama - ou das "massas" em nome das quais falam os críticos oficiais da ordem - os luditas não são a classe de Lenine. Mas olhar de igual para os luditas obriga-nos a questionar permanentemente onde começa e acaba a política. E se entre os motins londrinos de 2011 e a vaga ludita iniciada em 1811 existem seguramente inúmeras diferenças, aproxima-os a circunstância de uns e outros permitirem que questionemos a crença de que só poucos - a "classe política" ou a "elite empresarial" - têm o direito histórico de agir sobre a cidade.



publicado aqui