28/03/11

EUA, onde os ricos pagam a crise... às vezes

Taxar as grandes fortunas. Obrigar os ricos a pagar a crise. Tudo boas ideias... já praticadas por vários estados americanos. Por exemplo, quase metade do IRS colectado pela Califórnia tem origem nos bolsos do 1% da população com rendimentos mais elevados. Em Nova Iorque vigora a chamada "taxa dos milionários", apontada a quem ganhe mais de meio milhão de dólares por ano.
E qual o resultado destas ideias fiscais, por certo apelidadas de comunistas por qualquer cabecita bem-pensante dos nossos PS, PSD e afins?
Funcionam mal, ao que parece. Sobretudo em tempos difíceis para as grandes empresas e para os mercados de capitais; aparentemente, os ganhos dos ricos são bastante voláteis, criando hoje buracos descomunais nos orçamentos de alguns estados habituados a um regime opulento de sangue de milionários. Esta espantou-me.

12 comentários:

Anónimo disse...

Penso que taxar os ricos não nos tira de uma crise estrutural do capitalismo. Essa é aliás uma das coisas que mais me irrita no BE: parece que ir aos bolsos dos ricos é a solução-chave. A solução é, isso sim, a EXPROPRIAÇÃO dos grandes grupos económicos e sua gestão democrática (porra, planos quinquenais à escala europeia, sim senhor!), pois só assim se consegue contrariar o curto-prazismo dos mercados financeiros que refoderam a economia global.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Anónimo das 20 h 14

de acordo com a gestão democrática ou com a democratização tanto do funcionamento das empresas como da política de rendimentos. Mas, se os planos quinquenais e a repartição do produto a que se refere são os que a experiência do "socialismo realmente existente" nos deu a conhecer, convém lembrar que foram o contrário da democratização das relações de poder que o "socialismo" começou por significar.

Em que ficamos, então?

Saudações democráticas

msp

Ana Paula Fitas disse...

Caro Luís Rainha,
Faço link.
Obrigado.
Abraço.

Anónimo disse...

MSP: entendo o distanciamento - muito higiénico e por isso útil - em relação ao socialismo real. No entanto, não esqueçamos que os primeiros 2 planos quinquenais representaram um avanço que uma sociedade orientada pelo mercado não permitiria.

Hoje a internet facilita a criação de fóruns e mesmo mecanismos de votação, por isso é o perfeito ponto de encontro para associações de produtores e consumidores que o socialismo real não conheceu.


Cumprimentos.

Anónimo disse...

aí está o mito do robin hood. excelente exemplo que escolheu. A california. O estado que foi à bancarrota. O estado que tem descido em todos os niveis. Excelente. Ser dependente dos super ricos é uma estratégia muito bonita. Mas quando se tem estados vizinhos com menos impostos sobre os ricos a solução é simples. Quem ganha são as pessoas dos outros estados. Quem perde as pessoas da california.

se fosse donos de uma mercearia preferiam viver ter clientes pobres ou clientes ricos? taxar os ricos não resulta. empobrece, favorece a corrupção, reduz o investimento, favorece a emigração. quando vão aprender isto?

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Anónimo,

a questão é importante e lamento se não compreendi as suas intenções.
Mas vale a pena, talvez, explicitar um ou dois aspectos.

1. O plano democrático é não só politicamente justo, como poderá permitir uma melhor eficácia e circulação das informações do que outras formas de planificação (estatal ou postas em prática e impostas pelo "capitalismo financeiro" actual e a sua burocracia de gestão dos "mercados");

2. Deverá ser acompanhado por uma democratização do mercado nas esferas do consumo dos indivíduos e grupos particulares, a quel implica, por sua vez, uma democratização radical da política de rendimentos.

3. Para que os consumidores sejam, de facto, "soberanos" e iguais perante o mercado, é necessário, não só que a força de trabalho deixe de ser uma mercadoria, mas também que todos disponham de um voto de igual peso no mercado.

4. Como sintetiza muito utilmente Castoriadis, é aqui que o plano democrático imperativo (ainda que democraticamente revisível pelo autogoverno dos cidadãos) intervém como momento indispensável. u seja: "Numa sociedade atónoma, é necessário que exista um verdadeiro mercado, e não só liberdade, mas também 'soberania' do consumidor: cabe aos consumidores decidirem que bens específicos devem ser produzidos para consumo, e isso por meio desse voto quotidiano que são as suas compras, valendo cada voto o mesmo que o de cada um dos outros. Hoje, o voto de um grande financeiro […] vale um milhão de vezes mais do que o voto do americano médio. Não é a isso que posso chamar um verdadeiro mercado. Mas são necessárias decisões de ordem geral sobre, pelo menos, dois pontos: a distribuição do produto nacional, ou do rendimento nacional, entre consumo e investimento, e a parte respectiva, no consumo global, do consumo privado e do consumo público - em suma, trata-se de saber qual é a parte que a sociedade quer consagrar à educação, aos transportes, à construção de monumentos ou a qualquer outro empreendimento público, e qual a parte que decide consagrar ao consumo dos indivíduos, que com ela farão o que entenderem. Sobre estes pontos, será necessária uma decisão colectiva. Serão necessários propostas e debates, e que as consequências das decisões sejam claras aos olhos de todos". (Uma Sociedade à Deriva, Lisboa, 90º, 2006, pp. 261-262).

Assim, não basta ir buscar dinheiro aos bolsos dos ricos através dos impostos - de acordo. Mas também a "expropriação" que importa assegurar é a que se confunde, não com a "nacionalização/estatização" burocrática e administrativa, mas com a apropriação democrática do pode de decisão e direcção da economia.

Cordiais saudações republicanas

msp

Zuruspa disse...

O anónimo do Robin Hood näo sabe ler, é pena...

Os super-ricos continuam a viver na Califórnia, só se fossem completos idiotas iriam sair das marinas de OC para ir para o Nevada ou Novo México. O mesmo para os que vivem em Manhattan, näo saem de lá porque é lá que está a Bolsa da Rua da Parede.

O que se passou é simples: os seus ganhos multimilionários cairam, logo os Estado californiano recebeu menos que o esperado. Tal como a Rússia quando pressupöe nos orçamentos que o pitrol está a 100 quando depois caiu para 70.

Interessante: quem ganha acima de 500.000 USD viu os seus rendimentos cair em média 2 vezes mais que os remediados. Portanto, se o remediado que ganha 50.000 viu o seu rendimento cair 25%, os ricos perdem 50%.
Ora bem, os remediados passam a ganhar 37.500, e os ricos "só" 250.000. EHPÁ! Salvem já os ricos, ajudem os milionários!

L. Rodrigues disse...

A liçãoa tirar deveria ser contra a concentração da riqueza de uma sociedade em alguns pouco individuos.
A melhor forma de não depender dos super ricos é depender de uma classe média forte. Mesmo que isso signifique bilionários menos bilionários.

JPT disse...

O problema é que não temos ricos suficientes. Pode ser uma medida justa moralmente, mas em Portugal representariam peanuts. N somos a Califórnia...

Anónimo disse...

oh zuruspa...os super ricos saem da california para irem por exemplo para singapura. ou vai dizer q isso não acontece? vai dizer que mais impostos não significa mais fuga aos impostos e logo mais corrupção?

quando começarem a perder o moralismo sobre as grandes riquezas talvez aprendam alguma coisa. Porque se deve lutar contra a concentração de riqueza? devemos ser contra os steve jobs, os bill gates, os cristiano ronaldos, os mourinhos ou os damien hirsts da sociedade? deixem-se de moralismos e de demagogia...

Zuruspa disse...

Anónimo confuso, onde moram esses tais de steve jobs, os bill gates, ou os damien hirsts (e os cristiano ronaldos, os mourinhos depois de reformados)? Será em Singapura? E porquê?

O L. Rodrigues acertou EM CHEIO! Por isso o Ocidente se tornou na máquina pujante que se tornou após a II Guerra Mundial, ricos menos bilionários, mas uma classe média pujante. Estado Social e tal e coiso. Depois de 1980, quando se virou à direita em nome da "eficiência económica", veja-se o disparar das desigualdades e as crises sucessivas. A propósito, vede o "Capitalism: a Love Story" do Michael Moore.

Corolário ao postulado de L. Rodrigues: taxem-se os super-ricos na mesma acima dos outros, mas para criar superavites em tempos de bonança, para ter margem de manobra aquando das crises provocadas por esses ricos!

Anónimo disse...

o nosso objectivo tem que ser a classe média! é isso! é esse o segredo! formulas de taxação! apostar em certas classes! aprender com os erros! Falhar e voltar a tentar!
engenharia social subliminar no seu melhor