10/05/11

DEMOCRACIA VERDADEIRA, JÁ!




Manifesto


Somos pessoas comuns. Somos como vocês: pessoas que se levantam todos os dias para estudar, trabalhar ou procurar um emprego, pessoas que têm família e amigos. Pessoas que trabalham arduamente todos os dias para proporcionar um futuro melhor a todos aqueles que nos rodeiam. Alguns de nós consideram-se sonhadores, outros não. Alguns de nós têm ideologias bem definidas, outros são apartidários, mas todos estamos preocupados e revoltados com o panorama político, económico e social que percepcionamos: corrupção entre os políticos, empresários e banqueiros, deixando-nos desamparados, sem voz.

Esta situação tornou-se normal, um dia-a-dia sofrido, sem qualquer esperança. Mas, se juntarmos forças, podemos mudá-la.

Está na altura de mudar as coisas, de juntos construirmos uma sociedade melhor. Assim, defendemos que:


As prioridades de qualquer sociedade avançada têm de ser a igualdade, o progresso, a solidariedade, a liberdade cultural e o desenvolvimento sustentável, o bem-estar e a felicidade das pessoas.
O direito à habitação, ao emprego, à cultura, à saúde, à educação, à participação política e ao livre desenvolvimento pessoal e o acesso aos direitos do consumidor com vista a uma vida saudável e feliz – estas são verdades inalienáveis que devem ser respeitadas na nossa sociedade.
Os nossos actuais governo e sistema económico não têm em consideração estes direitos, e em muitos casos transformam-se num obstáculo ao desenvolvimento humano.
A democracia pertence às pessoas (demos = povo, krátos = governo), o que significa que o governo é feito por e para cada um de nós. De qualquer forma, tanto em Portugal como nos restantes países europeus, a maior parte da classe política nem sequer nos ouve. Os políticos deviam dar-nos voz nas instituições, facilitando, assim, a participação política dos cidadãos através de canais directos que possam garantir o maior benefício para uma sociedade abrangente; e não obter riqueza e prosperidade à nossa custa, sustentando apenas uma ditadura dos maiores poderes económicos.
A sede de poder e a sua concentração numa minoria criam desigualdades, tensões e injustiças, que levam à violência – a qual rejeitamos. O modelo económico obsoleto e artificial alimenta a máquina social numa espiral crescente que se consome a si própria, enriquecendo uns e atirando os restantes para a pobreza. Até ao colapso.
O objectivo do sistema actual é a acumulação de dinheiro, não olhando nem à eficiência nem ao bem-estar da sociedade, desperdiçando recursos, destruindo o planeta, criando desemprego e consumidores insatisfeitos.
Os cidadãos são os motores de uma máquina concebida para enriquecer uma minoria que não tem em consideração as nossas necessidades básicas. Somos anónimos, mas sem nós nada disto existiria. Somos nós que fazemos mover o mundo.
Se, como sociedade, aprendermos a não confiar o nosso futuro a uma economia abstracta, que nunca dá em troca benefícios para a maioria, podemos erradicar os abusos que todos sofremos.
Precisamos de uma revolução ética. Em vez de colocar o dinheiro acima dos seres humanos, devíamos voltar a colocá-lo ao nosso serviço. Não somos só aquilo que compramos, o motivo porque compramos e a quem compramos. Somos pessoas, não produtos!

Por tudo isto, sentimo-nos ultrajados.
Pensamos que podemos mudar.
Pensamos que podemos ajudar.
Sabemos que, juntos, conseguimos!

6 comentários:

David da Bernarda disse...

Manifesto pobre, pobre manifesto

«Está na altura de mudar as coisas, de juntos construirmos uma sociedade melhor»

«Os políticos deviam dar-nos voz nas instituições...»

«Precisamos de uma revolução ética»

Num época que era necessária clareza «as pessoas comuns e indignados anónimos» contribuem para o confusionismo geral com suas boas intenções entre o escutismo e os Lions Clube !!!

Anónimo disse...

Vamos lá dialogar. O texto é,efectivamente, muito soft e humanista.E esconde a luta de classes. E também" cega " a perspectiva de conquista autónoma e activa da Igualdade, social e económica.Duas ou três ideias de Vaneigem- que preconiza a Autogestão e a Democracia Directa- as colectividades Zapatistas como modelo- para acabar com o Estado. i) O " Estado é hoje um mero criado-de-servir dos bancos e das Multinacionais"; 2) " Somos as vítimas expostas de gestionários do falhanço,ávidos de recolher os últimos lucros a curto prazo, sobre-explorando os cidadãos, convidados a repôr, ao preço de uma vida cada vez mais precária, o sem fundo de um déficite causado pelas escroquerias bancárias ";3)O Estado mostra-se agora incapaz de exercer as suas obrigações para com o Contrato Social e destrói tudo o que poderia acalentar a veleidade de uma sobrevivência mitigada. E tudo em nome dessa gigantesca fraude que se chama Divida Pública. Não lhe resta senão a repressão policial. A única saída para o Estado consiste em espalhar o Medo e o Desespero".4) " O nihilismo é a filosofia dos Negócios. Lá onde o Dinheiro é rei, os valores desaparecem totalmente, salvo o valor-mercadoria...5) " É-nos permitido tirar partido do choque que irá causar a queda do Sistema, a desintegração do Estado e a tentação de olhar para além da miragem consumista.Acreditamos numa mudança de perspectiva.Para lá
da eventual pilhagem dos SuperMercados, risco potencial causado por uma acelerada pauperização, as pessoas vão descobrir o logro dos gadgets- que não se pode comparar com o prazer de redescobrir os bens oferecidos pela Natureza conjugados com a atracção do Desejo ". À suivre. Niet

Miguel Serras Pereira disse...

Pois, David e Niet, não posso concordar com as vossas críticas, diferentes, mas convergentes.
Para mim, a linguagem comum, não cifrada no jargão profissional da classe política, é um trunfo, uma vez que é usada para provocar a reflexão sobre a vida quotidiana, identificando os problemas - não científicos, mas vividos - da situação na Europa actual.

Talvez a linguagem comum usada veicule marcas de ideias feitas e preconceitos - a linguagem politicamente cifrada (em termos marxistas ou outros) também o faz, e não pode deixar de fazer. Seja como for, é uma linguagem menos enquistada e mais propícia à reflexão por conta própria, que a luta pela democracia real exige a cada cidadão enquanto se bate ao lado dos outros, do que os chavões da "esquerda" com marca registada, do tipo "alternativa patriótica e de esquerda" ou "esquerda de confiança" e "esquerda grande" (valerá a pena referir que o primeiro chavão é tão retrógado e acéfalo como as crónicas do João César das Neves, e os dois outros meramente publicitários e "todos numa boa, meu"?).
Finalmente, aproveito a deixa para vos recomendar a leitura da apresentação do Manifesto - e reflectindo precisamente sobre a sua linguagem - que a Diana Dionísio publicou hoje no 5dias (http://5dias.net/2011/05/10/as-palavras-escolhidas-para-o-15-de-maio/)

Saudações anti-elitistas

msp

Anónimo disse...

MS. Pereira e todos em geral: A " cena " iniciática do Manifesto europeu( creio)não corre o perigo de ser " recuperada "pelo sistema despótico,piramidal e ultra-concentrado gerido pela oligarquia e seus valetes regionais e mundiais? Como aponta Vaneigem, " nunca confundir revolta e revolução, e menos ainda emancipação e predação ".Salut! Niet

Anónimo disse...

Por vezes não parece ... mas sou um homem de consensos. Lá que o texto do manifesto tem alguma fragilidade, lá isso tem. Mas que também tem algumas ideias extremamente importantes, e, mais importante que tudo, que essas ideias venham de cidadãos comuns, lá isso também é verdade. O que confere toda a legitimidade às considerações a propósito produzidas pelo MSP.

Moral da história: estou de acordo com uns e com outros.

nelson anjos

Miguel Serras Pereira disse...

Caro camarada Nelson,

ainda bem que percebeu o meu ponto. A questão não é tanto eu discordar das declarações insurreccionais do Niet em abstracto. É achar que não podemos falar "marxistês" ou "marxês" às pessoas. Ou dar-lhes a teoria certa que já sabemos por elas e em vez delas. E se é fraco dizer que "os políticos deviam dar-nos voz…", quando podemos dizer com igual simplicidade que "devemos ser nós a governar as instituições e não os políticos", já acho que não devemos ter vergonha de dizer que, sim, queremos uma sociedade melhor e que isso terá de ser obra de gente comum - e que é esse o caminho para a democracia verdadeira, ou real (como dizem o manifesto na versão em castelhano).

Abraço solidário

msp